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Violência de gangues foi 'impressionante' no Haiti em 2023, diz secretário-geral da ONU

O número de homicídios mais do que dobrou no Haiti em 2023, com quase 5.000 pessoas mortas, incluindo mais de 2.700 civis, alertou o secretário-geral da ONU, António Guterres, nesta terça-feira (23), "chocado" com a violência das quadrilhas que assola o país caribenho.

Pessoas fugindo da violência de gangues se refugiam em uma arena esportiva em Porto Príncipe, Haiti, em 1º de setembro de 2023.
Pessoas fugindo da violência de gangues se refugiam em uma arena esportiva em Porto Príncipe, Haiti, em 1º de setembro de 2023. © Ralph Tedy Erol / Reuters
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"Estou chocado com o nível espantoso de violência das gangues, que continua a piorar e está destruindo a vida dos haitianos, particularmente em Porto Príncipe, a capital", denuncia António Guterres.

"Assassinatos, violência sexual e sequestros cometidos por grupos organizados, especialmente contra mulheres e meninas, entre outros crimes, continuam com total impunidade", acrescenta.

De acordo com um relatório publicado na terça-feira, "o número de homicídios registrados aumentou 119,4% em 2023 em comparação com 2022, com 4.789 vítimas, incluindo 465 mulheres, 93 meninos e 48 meninas, representando uma proporção de 40,9 homicídios por 100.000 habitantes, em comparação com 2.183 em 2022, mostrando uma proporção estimada de 18,1 homicídios por 100.000 habitantes".

Dos mortos, mais de 2.700 eram civis (mais de 1.300 também ficaram feridos) e cerca de 1.600 eram membros de quadrilhas. O documento também registra a continuação do movimento de autodefesa que começou no primeiro semestre de 2023, com mais de 500 pessoas linchadas por serem acusadas de pertencer a gangues.

Aumento de 83% dos sequestros

O número de pessoas sequestradas também aumentou, de 1.359 em 2022 para 2.490 em 2023, um acréscimo de 83%.

Embora as gangues estivessem, até recentemente, presentes principalmente na capital e em seus subúrbios, António Guterres está preocupado com a "rápida expansão" da violência em áreas rurais anteriormente ilesas, particularmente em Artibonite, região ao norte da capital Porto Príncipe.

Nesse departamento haitiano, "os grupos armados geralmente montam barricadas na beira da estrada e se escondem nelas, disparam contra os veículos e depois sequestram os sobreviventes. Durante esses ataques, as mulheres são frequentemente estupradas em plena luz do dia", descreve o relatório.

As gangues também continuam a "usar sistematicamente a violência sexual para consolidar seu domínio sobre a população".

O documento também expressa preocupação com a evolução das "táticas" das quadrilhas, referindo-se particularmente ao uso de "armadilhas sofisticadas" por algumas, à construção de "abrigos de concreto em suas fortalezas para repelir operações policiais" e ao uso de uniformes falsos da polícia para sequestros.

Desnutrição aguda

Nesse contexto de terror, de habitantes forçados a fugir ou se esconder, o país está passando por uma das "piores" crises alimentares do mundo. ¨

Mais de 4,35 milhões de haitianos, mais de 40% da população, sofrem de insegurança alimentar aguda e os casos de desnutrição aguda grave em crianças aumentaram 30% em 2023 em comparação com 2022.

Diante dessa grave crise humanitária e de segurança, o Conselho de Segurança da ONU concordou, em outubro, em enviar uma missão multinacional ao Haiti, liderada pelo Quênia, para ajudar a força policial haitiana, que está sobrecarregada.

Em novembro, o Parlamento queniano aprovou o envio de 1.000 policiais, mas a missão continua sujeita a uma decisão do Tribunal Superior de Nairóbi, prevista para 26 de janeiro.

Em seu relatório, António Guterres observa que, para que essa missão "tenha um impacto duradouro", ela deverá ser acompanhada de uma "consolidação dos sistemas judiciário e penitenciário", bem como de soluções para lidar com o "desgaste da polícia".

Até 2023, 1.663 policiais, incluindo 152 mulheres, deixaram a força, 48 foram mortos e 75 ficaram feridos. Em 31 de dezembro, a polícia tinha 13.196 policiais, de acordo com o relatório da ONU. "É difícil exagerar a gravidade da situação atual no Haiti", resumiu António Guterres.

"Neste momento crítico da história do Haiti, é essencial que as partes interessadas haitianas se reúnam para forjar um amplo consenso em torno de uma solução duradoura e inclusiva para o Haiti", pediu o representante da ONU. Quando as condições forem adequadas, isso possibilitará a realização de eleições pela primeira vez desde 2016.

(Com AFP)

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