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Equador: 14 pessoas já foram vítimas de atentados em 2023 e país pode se tornar o mais violento da América Latina

Completa nesta quarta-feira (16) uma semana do atentado contra o presidenciável Fernando Villavicencio, o rosto mais visível de uma onda de atentados no Equador. Só na última semana, foram três ataques contra políticos, ou 16 nos últimos dois anos, quando esse tipo de crime começou a estarrecer o país. A lista de ataques contra políticos, promotores, juízes e diretores de penitenciárias chega a 14 em 2023, ano em que o Equador pode liderar o número de homicídios na América Latina.

Quito, Equador, 14 de agosto: o exército está mobilizado para proteger o país. Várias regiões estão em estado de emergência e o Equador está sob grande tensão por causa da violência a poucos dias das eleições gerais de 20 de agosto.
Quito, Equador, 14 de agosto: o exército está mobilizado para proteger o país. Várias regiões estão em estado de emergência e o Equador está sob grande tensão por causa da violência a poucos dias das eleições gerais de 20 de agosto. REUTERS - HENRY ROMERO
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Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

Os alvos se concentram nas cidades costeiras por onde a droga é escoada à Europa e aos Estados Unidos. O dirigente político Pedro Briones foi assassinado em Esmeraldas, cidade do litoral noroeste do Equador.

A morte de Pedro Briones aconteceu na segunda-feira (14), cinco dias depois do atentado contra o presidenciável, Fernando Villavicencio, assassinado, em Quito, há uma semana, na reta final das eleições antecipadas do próximo domingo (20).

No dia seguinte à morte de Villavicencio, em Quevedo, a 250 Km da capital equatoriana, a candidata à Assembleia Nacional do Equador, Estefany Puentes, também sofreu um atentado a tiros contra o seu carro de campanha, mas sobreviveu.

Até 2018, o Equador tinha 9,8 mortes a cada 100 mil habitantes. No ano passado, essa relação subiu para 25,9, quase o dobro de 2021, e este ano pode passar de 40, fazendo o Equador superar em homicídios a Venezuela, o país mais violento da América Latina, com 40 assassinatos a cada 100 mil habitantes (no Brasil, são 18,8).

Só nos primeiros seis meses deste ano, são 3.568 mortes violentas, 74% a mais do que no mesmo período de 2022.

“A taxa de crescimento da violência no Equador é a mais alta de toda a América Latina, a região mais violenta do mundo. Nesse ritmo, provavelmente, o Equador passe a liderar esse ranking”, indica à RFI o analista político equatoriano, especialista em segurança pública, Fernando Carrion.

Uma série de rebeliões nas penitenciárias tem ajudado a reforçar essa estatística. Desde 2020, mais de 400 presos foram assassinados em confrontos entre gangues rivais dentro dos penais.

Políticos, promotores e juízes na mira

O Equador tem ainda uma particularidade que recorda a Colômbia dos anos 1980 ou o México dos anos 1990: uma crescente quantidade de atentados contra políticos, promotores, juízes e diretores de penitenciárias.

Só neste ano, foram 14 atentados, embora nem todos tenham conseguido a morte do alvo.

No que se refere a políticos, tanto da esquerda quanto da direita, foram 16 nos últimos dois anos, quando esse tipo de ataques começou a estarrecer o país com cadáveres pendurados, decapitados e desmembrados em mensagens mafiosas às autoridades e a criminosos rivais.

A resposta do governo à onda de violência tem sido decretar “estado de exceção” que permite a presença das Forças Armadas nas ruas, proíbe as reuniões nos espaços públicos e autoriza a invasão de propriedades sem ordem judicial.

No ano passado, foram 165 dias sob “exceção”. Desde 9 de agosto, data da morte de Fernando Villavicencio, são 60 dias em todo o território nacional.

Transferência criminosa

O governo equatoriano culpa o crime organizado, sobretudo o tráfico de drogas. O ministro do Interior, Juan Zapata, aponta 13 comandos que operam no Equador, entre os quais aparece “Los Choneros”, aliado do mexicano Cartel de Sinaloa, e Los Lobos, aliado do Cartel de Jalisco Nova Geração, também do México.

Segundo a organização de direitos humanos Human Rigths Watch (HRW), o crime organizado no Equador tem alianças com o tráfico de drogas do México, da Colômbia e até da Albânia.

O Equador fica entre a Colômbia e o Peru, dois países produtores e exportadores de cocaína.

O cerco dos Estados Unidos ao tráfico na Colômbia e no México fez com que os traficantes procurassem novos territórios de domínio. O Equador surgiu apareceu com vantagens: custos baixos, autoridades coniventes com o crime, proximidade com mercados consolidados e fronteiras porosas pela floresta amazônica (Colômbia e Peru) e o dólar como moeda corrente, facilitando a aquisição da moeda final e a lavagem de dinheiro.

Há ainda mão de obra criminosa ociosa depois do acordo de paz na Colômbia em 2016.

“O custo de produção e infiltração do crime organizado nas forças de segurança e na Justiça são hoje mais vantajosos no Equador do que na Colômbia”, explica à RFI Jorge Restrepo, diretor do colombiano Centro de Recursos para a Análise de Conflitos (CERAC).

Cidades estratégicas

Boa parte dos atentados acontece contra prefeitos e candidatos a prefeitos das cidades costeiras como Esmeraldas, Manta e Guayaquil.

Em julho passado, foram assassinados Agustín Intriago, prefeito de Manta, a terceira maior cidade do Equador, e o candidato ao parlamento de Esmeraldas, Ryder Sánchez.

Em fevereiro, Omar Menéndez, candidato a prefeito em Puerto López, também foi morto um dia antes das eleições que, de forma póstuma, consagraram a vítima como eleita com 46% dos votos.

Em janeiro, Julio Farachio, candidato a prefeito de Salinas, também foi assassinado.

A morte de prefeitos de cidades portuárias é estratégica. Os traficantes precisam controlar os portos dessas cidades por onde a droga, o ouro ilegal e as armas saem à Europa e aos Estados Unidos.

Por isso, uma missão do FBI está no Equador para ajudar as autoridades nas investigações sobre a morte do candidato a presidente, Fernando Villavicencio, até agora o rosto mais visível do terrorismo que atenta contra a democracia equatoriana.

Em janeiro, Villavicencio tinha denunciado na Justiça 21 candidatos a prefeitos com supostas relações com o tráfico de drogas. O candidato propunha rigor no combate ao crime organizado.

Mercenários colombianos

Pela morte de Fernando Villavicencio, seis colombianos estão presos, suspeitos de envolvimento com a morte. Um sétimo morreu próximo da cena do atentado, depois de trocar tiros com a polícia.

Se confirmado o envolvimento dos presos, esta não será a primeira vez que mercenários colombianos são contratados pelo crime organizado para matar em outro país.

Em julho de 2021, mais de 20 colombianos mataram o presidente do Haiti, Jovenel Moïse, na sua própria casa.

Atentados pela América Latina nos últimos anos

Além do presidente do Haiti, nos últimos dois anos, outros dois presidentes ou ex-presidentes sofreram atentados.

Em setembro do ano passado, quando a ex-presidente argentina e atual vice, Cristina Kirchner, ainda avaliava se seria candidata nas eleições deste ano, sofreu uma tentativa de assassinato. Fernando Sapag Montiel, nascido no Brasil, mas radicado em Buenos Aires desde a infância, apontou com uma pistola a poucos centímetros do rosto da vice-presidente. Chegou a puxar o gatilho da arma carregada, mas o tiro falhou.

Em junho de 2021, o helicóptero do então presidente da Colômbia, Iván Duque, foi atingido por disparos na fronteira entre Colômbia e Venezuela. O governo colombiano culpou ex-guerrilheiros dissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.

À medida que se recua no tempo, aparece uma lista interminável de atentados pela América Latina na qual aparece Francia Márquez (maio de 2019), hoje vice-presidente da Colômbia, o ex-presidente Jair Bolsonaro (setembro de 2018), então candidato, e Marielle Franco (março de 2018), então vereadora assassinada no Rio de Janeiro.

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