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Equador decreta estado de emergência após assassinato de jornalista candidato à eleição presidencial

O jornalista equatoriano e candidato à eleição presidencial Fernando Villavicencio, de 59 anos, foi assassinado na noite de quarta-feira (9) em Quito. O presidente Guillermo Lasso afirmou que "o crime organizado foi longe demais" e declarou estado de emergência por 60 dias em todo o país, o que lhe permite mobilizar as Forças Armadas nas ruas, para garantir a realização das eleições, marcadas para 20 de agosto. O crime, na reta final da campanha, provoca forte comoção nacional e internacional.

O candidato à presidência do Equador Fernando Villavicencio (foto) foi morto a tiros em Quito, depois de participar de um comício de campanha na zona norte da capital.
O candidato à presidência do Equador Fernando Villavicencio (foto) foi morto a tiros em Quito, depois de participar de um comício de campanha na zona norte da capital. REUTERS - KAREN TORO
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Villavicencio, segundo colocado nas pesquisas de intenção de voto, concorria pelos movimentos de centro Construye e Buena Gente. Ele foi morto a tiros ao deixar um centro esportivo onde havia realizado um comício na zona norte da capital equatoriana.

O médico Carlos Figueroa, amigo do candidato assassinado e que estava com ele no momento do ataque, relatou à imprensa que houve cerca de 30 disparos durante o atentado. "Eles o emboscaram do lado de fora" do centro esportivo, lembrou ele. "Alguns (dos presentes) até pensaram que eram fogos de artifício". A polícia realizou uma explosão controlada no local do crime, onde aparentemente havia uma bomba.

El Universo, o principal jornal do país, disse que Villavicencio foi morto "no estilo de um crime contratado e com três tiros na cabeça". 

O presidente Guillermo Lasso reagiu ao homicídio na rede social X, ex-Twitter. "Indignado e consternado com o assassinato do candidato presidencial Fernando Villavicencio. Minha solidariedade e condolências à sua esposa e filhas", expressou Lasso. Ele acrescentou que "pela sua memória e pela sua luta, garanto que este crime não ficará impune" e que "o crime organizado foi longe demais, mas receberá todo o peso da lei".

O líder equatoriano declarou três dias de luto nacional "para honrar a memória de um patriota". "Esse é um crime político que assume um caráter terrorista e não temos dúvidas de que esse assassinato é uma tentativa de sabotar o processo eleitoral", disse Lasso.

O Equador tem enfrentado nos últimos anos um aumento do crime relacionado ao tráfico de drogas, o que quase dobrou a taxa de homicídios para 25 por 100.000 habitantes em 2022. Massacres ocorridos em prisões deixaram mais de 430 detentos mortos desde 2021.

Villavicencio era um dos oito candidatos presidenciais para o primeiro turno das eleições gerais antecipadas que ocorrerão em 20 de agosto. O jornalista e ex-membro da Assembleia Nacional, que foi dissolvida em maio por Lasso, aparecia em segundo lugar nas intenções de voto com 13,2%, atrás da advogada Luisa González (26,6%), a única mulher na disputa e afiliada ao movimento do ex-presidente socialista Rafael Correa (2007-2017), de acordo com a mais recente pesquisa do instituto Cedatos.

González e outros candidatos à presidência, como Yaku Pérez (líder indígena de esquerda, terceiro colocado com 12,5%) e Otto Sonnenholzner (ex-vice-presidente de direita, quarto colocado com 7,5%), anunciaram a suspensão de suas campanhas e lamentaram o assassinato.

"Ameaça gravíssima"

Ao tomar conhecimento do assassinato, Lasso convocou uma reunião com os integrantes do gabinete de Segurança na sede da Presidência, bem como os titulares de órgãos estatais, como o Tribunal Nacional de Justiça, para "discutir esse incidente que abalou o país". 

Há uma semana, Villavicencio – um ferrenho opositor do correísmo – denunciou ameaças contra ele e sua equipe de campanha, supostamente vindas do líder de uma gangue criminosa ligada ao narcotráfico, que está detido. "Apesar das novas ameaças, continuaremos lutando pelo povo corajoso do nosso Equador", escreveu na época o político na rede social X. Ele mencionou que recebeu uma "ameaça gravíssima" de "pseudônimo Fito", que lidera a organização "Los Choneros".

Como jornalista, Villavicencio descobriu um esquema de corrupção envolvendo o ex-presidente Rafael Correa, que vive na Bélgica desde 2017 e foi condenado à revelia a oito anos de prisão. Mais tarde, ele atuou como presidente do comitê de supervisão legislativa, onde continuou a denunciar casos de corrupção.

A violência em pleno processo eleitoral no Equador também resultou no assassinato de um prefeito e de um candidato a deputado. Antes das eleições locais realizadas em fevereiro no país, dois candidatos a prefeituras foram assassinados.

As Forças Armadas disseram em uma declaração na rede social X que estão "ferozmente unidas para apoiar a democracia e agir imediatamente para combater aqueles que buscam aterrorizar a população, minar a democracia e destruir a paz".

Assassinato tem repercussão internacional

Em comunicado publicado na noite de quarta-feira, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil lamentou a morte de Villavicencio e pediu para que os responsáveis pelo crime sejam punidos.

"O governo brasileiro tomou conhecimento, com profunda consternação, do assassinato (...) de Fernando Villavicencio, candidato às eleições presidenciais no Equador", escreveu o Itamaraty. "Ao manifestar a confiança de que os responsáveis por esse deplorável ato serão identificados e levados à Justiça, o governo brasileiro transmite suas sentidas condolências à família do candidato presidencial e ao governo e povo equatorianos", acrescentou.

Os Estados Unidos, a Espanha, o Chile, a União Europeia e a missão de observação da OEA (Organização dos Estados Americanos) condenaram separadamente o crime, que foi descrito como "detestável" e "selvagem".

(Com informações da AFP)

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