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Governo do Peru decreta estado de emergência em Lima e outras regiões

O governo do Peru decretou estado de emergência na capital Lima e em várias outras regiões do país, devido às manifestações contra a presidente Dina Boluarte. A medida, em vigor por 30 dias, autoriza o Exército a intervir para manter a ordem e implica a suspensão de vários direitos constitucionais, como a liberdade de circulação e de reunião e a inviolabilidade do domicílio, de acordo com um decreto publicado na noite de sábado (14) no diário oficial.

Manifestante exibe cartaz com apelo à renúncia da presidente Dina Boluarte, durante protesto ocorrido na semana passada em Lima.
Manifestante exibe cartaz com apelo à renúncia da presidente Dina Boluarte, durante protesto ocorrido na semana passada em Lima. REUTERS - ALESSANDRO CINQUE
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Os protestos desencadeados pela destituição do ex-presidente socialista Pedro Castillo já deixaram pelo menos 42 mortos nas últimas cinco semanas no Peru. Os manifestantes insistem na convocação de novas eleições imediatamente, apesar de Boluarte já ter antecipado o pleito de 2026 para 2024. 

Além da capital, os departamentos (estados) de Cusco e Puno (sul) estão sujeitos ao estado de emergência, bem como o porto de Callao, próximo a Lima.

O tráfego nas principais estradas do país esteve perturbado no sábado (14) por mais de 100 bloqueios organizados pelos manifestantes, principalmente no sul, a região onde os protestos são mais intensos, e ao redor de Lima. De acordo com estatísticas da Superintendência de Transportes Terrestres, nunca houve tantos bloqueios na atual crise.

Mas em Cusco, meca do turismo internacional, as autoridades reativaram as operações do aeroporto Velasco Astete, fechado por dois dias por segurança. Com a medida, o governo busca recuperar a atividade na área, onde sindicatos locais afirmam perder até 7 milhões de soles por dia (US$ 1,7 milhão) com a crise.

As regiões do sul andino, algumas das mais marginalizadas do Peru, estão tomadas por uma convulsão social.

"Existem setores extremistas que buscam criar desordem e caos, com interesses subordinados (...). Estamos mais fortes do que nunca, com um gabinete ministerial comprometido em lutar pelo país", disse Boluarte na sexta-feira (13), conforme crescia a pressão política que exigia sua renúncia.

Do mesmo partido de Castillo, Boluarte assumiu o cargo de vice-presidente em 7 de dezembro, após ele fracassar na tentativa de um autogolpe, ser destituído pelo Congresso e preso.

"Rejeitemos a violência"

Boluarte dirigiu-se ao país na sexta-feira após a renúncia e substituição dos ministros do Interior, do Trabalho e da Mulher. A presidente pediu ao Congresso que agilize os trâmites para a realização de eleições antecipadas em abril de 2024 e pediu desculpas pelas mortes provocadas pela crise. "Peço perdão por esta situação e pelo que não foi feito para evitar esses trágicos acontecimentos. Mas, assim como peço perdão, peço que rejeitemos a violência", disse ela.

Vários coletivos, especialmente do sul dos Andes, exigem a renúncia de Boluarte, que consideram responsável pela violência. Também reivindicam o fechamento do Congresso, controlado pela direita, e a realização imediata de eleições.

Pedidos de libertação de Castillo – em prisão preventiva enquanto é processado por suposta rebelião – e a formação de uma Assembleia Constituinte também fazem parte da agenda.

Andes sem trégua

Os protestos foram retomados na semana passada após uma espécie de trégua no final do ano e se concentraram no sul andino, onde vivem comunidades quechuas e aymaras que, segundo analistas, foram historicamente marginalizadas.

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que visitou o país nesta semana, considerou que para superar definitivamente a crise será necessário integrar essas comunidades. Alguns grupos de manifestantes dessas regiões ameaçam viajar a Lima para uma "tomada da cidade" que obrigaria Boluarte a renunciar e geraria um quadro que forçaria eleições o mais rápido possível.

Ameaça de grupos radicais

As autoridades insistem que setores ultrarradicais estão por trás dos protestos, incluindo remanescentes do grupo guerrilheiro Sendero Luminoso. Como prova, apresentaram a captura esta semana de um ex-integrante dessa organização, Rocío Leandro, conhecida como "Camarada Cusi".

De acordo com um porta-voz da polícia, general Óscar Arriola, Leandro financiou o vandalismo que deixou uma dezena de mortos na região de Ayacucho. "Cusi" e sete pessoas capturadas junto com ela, segundo a polícia, pretendem formar um novo grupo terrorista chamado Nueva Fracción Roja.

Organizações de esquerda rejeitaram a versão policial, que apontam como uma estratégia para criminalizar os protestos.

Com informações da AFP

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