Acessar o conteúdo principal

Oito anos após desaparecimento de 43 estudantes, México prende ex-procurador-geral, militares e policiais

As autoridades mexicanas prenderam nesta sexta-feira (19) o ex-procurador-geral responsável pelas investigações sobre o desaparecimento de 43 estudantes em 2014. A prisão ocorre um dia depois de um relatório oficial revelar a participação de servidores públicos e militares no que foi considerado um "crime de Estado".

Ex-procurador-geral Jesus Murillo foi detido na Cidade do México e não resistiu à prisão. (19/08/2022)
Ex-procurador-geral Jesus Murillo foi detido na Cidade do México e não resistiu à prisão. (19/08/2022) © Luis Cortes / Reuters
Publicidade

A prisão de mais 64 policiais e militares também foi decretada. O ex-procurador-geral Jesús Murillo Karam foi detido em sua casa em um bairro de alto padrão da Cidade do México pelo "desaparecimento à força, tortura e crimes contra a administração da justiça", no âmbito do chamado caso Ayotzinapa, informou o Ministério Público, em um comunicado.

Murillo Karam é o mais alto ex-funcionário público preso pelo desaparecimento dos estudantes. Ele era procurador durante o governo do presidente Enrique Peña Nieto, de 2012 a 2018, e chegou a ser um nome de peso do Partido Revolucionário Institucional (PRI), que governou o México durante 71 anos ininterruptos, até dezembro de 2000.

O desaparecimento dos jovens aconteceu na noite de 26 de setembro de 2014, quando eles se dirigiam até a cidade de Iguala, estado de Guerrero, onde pegariam ônibus para irem até a Cidade do México para participar de protestos. O sumiço dos estudantes constitui uma das piores violações de direitos humanos do México e gerou uma forte condenação internacional. Até hoje, apenas três restos mortais das vítimas foram localizados e identificados.

Relações com o narcotráfico

A captura do ex-procurador ocorreu horas depois que o presidente Andrés López Obrador pediu para que fossem divulgados os nomes dos responsáveis pelo desaparecimento dos estudantes, após a publicação na quinta-feira do relatório de uma comissão governamental que investiga o caso desde 2019.

O documento afirma que militares e funcionários públicos, por suas "ações, omissões ou participação", permitiram o sequestro e a morte de 43 estudantes da Escola Normal de Ayotzinapa e mais seis pessoas por parte do cartel de narcotráfico Guerreros Unidos.

"Revelar essa situação atroz, desumana, e ao mesmo tempo castigar os responsáveis, ajuda a não repeti-la. Que nunca mais ocorram esses eventos lamentáveis em nosso país", acrescentou López Obrador, na cidade de Tijuana.   Na presença dos secretários de Defesa, Luis Cresencio Sandoval, e da Marinha, José Rafael Ojeda, o presidente afirmou que a participação de "maus servidores públicos" nos fatos de Ayotzinapa não supõe "o mau funcionamento de uma instituição".

Para López Obrador, as revelações fortalecem o Exército. "O que debilita uma instituição é que não se atue com apego à verdade e que haja corrupção, impunidade", declarou. Em seu governo, iniciado em 2018, as Forças Armadas têm desempenhado um papel de protagonismo.

Não há informações sobre a patente dos militares envolvidos, nem se seguem ativos. Os policiais e militares acusados são procurados por "crime organizado, desaparecimento forçado, homicídio e delitos contra a administração da justiça".

O relatório menciona "responsabilidades claras de elementos" das secretarias de Defesa e da Marinha que serviam na região, mas alerta que é preciso investigar até que ponto chegou essa participação.

Versão oficial contestada

Os familiares submeteram o documento a uma avaliação do Grupo Interdisciplinar de Especialistas Independentes (GIEI), criado por um acordo entre o governo de Peña Nieto e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), anunciou Vidulfo Rosales, advogado dos pais. O GIEI sustenta que os militares manipularam provas em um depósito de lixo onde foram encontrados restos humanos, incluindo os dos únicos três estudantes identificados até agora.

As pesquisas do grupo e a comissão governamental jogam por terra grande parte da chamada "verdade histórica" apresentada pelo governo de Peña Nieto, que não atribuiu responsabilidade aos militares. A comissão independente acusou as autoridades, em março, de se recusar a entregar os dados de inteligência necessários para as investigações.

De acordo com a versão oficial, os jovens foram detidos e entregues por policiais locais aos traficantes da Guerreros Unidos, ao serem confundidos com membros de um cartel inimigo. Após serem baleados, seus corpos foram incinerados e jogados no lixão de Cocula, segundo a mesma tese – que é rechaçada pelos familiares, o governo de López Obrador e o Escritório do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos.

O presidente anunciou que continuará insistindo para que Israel extradite Tomás Zerón, ex-chefe da Agência de Investigação Criminal, que trabalhou sob as ordens de Murillo Karam.

Com informações da AFP

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.