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Haiti: "Um ano depois, os assassinos do meu marido continuam livres”, diz viúva do presidente Jovenel Moise

Há exatamente um ano, em 7 de julho de 2021, o Haiti acordava com a notícia de que seu presidente, Jovenel Moise, havia sido assassinado em sua casa por um comando armado. Um ano depois, as investigações estão estagnadas, os mandantes e os motivos do crime permanecem desconhecidos, e o clima político no país continua se deteriorando. Em entrevista exclusiva à RFI, Martine Moise, viúva do chefe de Estado, reclama da falta de ação da justiça no país.

Martine Moise, ex-primeira-dama do Haiti, durante funeral do marido, Jovenel Moise, em 23 de julho de 2021.
Martine Moise, ex-primeira-dama do Haiti, durante funeral do marido, Jovenel Moise, em 23 de julho de 2021. Copyright 2021 The Associated Press. All rights reserved
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Desde a morte de Moise, a presidência do Haiti está vaga e não há data prevista para a eleição de seu sucessor. Cinco juízes de instrução se sucederam neste caso, e nenhum deles acusou formalmente qualquer uma das 40 pessoas presas, incluindo os colombianos que supostamente compunham o comando.

Segundo a ex-primeira-dama, existe um bloqueio no processo. “Não sei dizer quem está emperrando as investigações. Mas sabemos que o ministro da Justiça era advogado de um dos oligarcas contra os quais o presidente lutava”, denuncia Martine Moise. “Mas eu não vou desanimar. Vou continuar pedindo justiça”, disse.

A viúva de Moise, que ficou gravemente ferida durante o atentado que tirou a vida de seu marido, afirma que ainda não se recuperou do trauma. “As sequelas serão permanentes”, diz, lembrando que ainda teme por sua própria vida. “A ameaça é permanente. Os assassinos que mataram o presidente continuam livres”, desabafa.

“Enquanto não houver medidas judiciais e policiais severas contra os assassinos, eles vão continuar rindo da gente. Gozando da nossa cara. Saboreando o que consideram uma vitória”, se irrita.

Viúva boicotou homenagem

Dois dias após sua morte, Jovenel Moise foi substituído pelo primeiro-ministro Ariel Henry. Mas o premiê foi acusado de envolvimento no assassinato, após a suspeita de ter conversado por telefone com um dos principais réus, algumas horas após o ataque. Convidado pelo procurador para prestar esclarecimentos, o chefe do governo não compareceu e, depois, exonerou o magistrado, nomeando um novo ministro da Justiça.

Isso levou a viúva do presidente a se recusar categoricamente a comparecer às cerimônias de homenagem ao seu falecido marido, oficiadas por um chefe de governo sobre quem "pesam sérias suspeitas de que possa ter assassinado o presidente da República", disse.

Assassinato afundou ainda mais Haiti na crise

A morte de Moise agravou a crise política estrutural no Haiti, país mais pobre da América Latina, que sofre com catástrofes naturais e uma onda de violência extrema. O Parlamento não funciona há dois anos e o Tribunal de Justiça não atua por falta de juízes. Além disso, os haitianos não têm eleições desde que Moise chegou ao poder, em 2017.

Henry segue no comando de um país onde os líderes políticos e as instituições não têm a legitimidade que a realização de eleições lhes daria. Para Martine Moise, é essencial que um novo pleito seja realizado e a Constituição haitiana revista. “Um governo de transição não pode tomar decisões. Apenas um governo com membros eleitos pode mudar as coisas”, finaliza.

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