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Linha Direta

Partido Republicano mostra que deixou princípios históricos e se tornou "partido de Trump"

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A Convenção Nacional Republicana, que começou nesta segunda-feira (24) e vai até quinta-feira (27), deve redefinir o partido como o "partido de Trump". O evento acontece poucos dias depois da Convenção Democrata e também faz um contraste entre as plataformas dos dois partidos, rivais nas urnas em 3 de novembro.

Indicado oficialmente como candidato dos republicanos nesta segunda-feira (24), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acusou os democratas de quererem "roubar" as eleições.
Indicado oficialmente como candidato dos republicanos nesta segunda-feira (24), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acusou os democratas de quererem "roubar" as eleições. AP - Alex Brandon
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O Partido Republicano, fundado em 1854, sempre foi conhecido por princípios históricos como rigor orçamentário, livre comércio e contra protecionismo. Mas, sob Trump, passou por uma transformação e hoje parece ter se curvado às convicções do magnata – um presidente que, frequentemente, rompe com as tradições republicanas. Sem dúvida, Trump mudou o partido. 

A diferença entre a convenção de 2016 e a deste ano é nítida. Há quatro anos, fazer parte do grupo Never Trumpers, aqueles que se recusavam a apoiar o bilionário nova-iorquino em campanha, era até mesmo visto com bons olhos por uma ala expressiva do GOP, como é conhecido o partido. Na época, o senador Ted Cruz, um nome de peso entre os republicanos, nem mencionou o nome de Trump em seu pronunciamento – algo que jamais se repetiria hoje. Todos que estão presentes na convenção de 2020 se declaram fãs do presidente americano. 

Trump é famoso por exigir total lealdade e se tornar vingativo quando fidelidade lhe é negada. Poucos querem arriscar seu futuro político, pois já viram políticos de longa carreira serem derrotados por não poderem contar com o apoio do líder republicano. Foi o que aconteceu com Jeff Sessions, ex-ministro da Justiça de Trump que fracassou nas primárias do seu partido para o Senado pelo Alabama, em julho deste ano. O presidente deu às costas ao ex-aliado por se sentir traído depois que o então ministro, em 2018, preferiu não se envolver na investigação de uma possível interferência da Rússia na campanha presidencial de Trump em 2016. 

Em busca da relevância perdida

Nas últimas décadas, o partido republicano vinha perdendo a relevância. Mesmo na convenção de 2012 já era possível ver sinais de que precisaria de uma make-over para se reerguer. Enquanto os democratas contavam com a jovialidade e a promessa de mudanças trazidas por Barack Obama, os republicanos apareciam como um enorme elefante – o animal que representa a sigla –, pouco ágil e parado no tempo.

Até 2016, a base de eleitores republicanos era quase exclusivamente composta por pessoas brancas, mais velhas e de classes mais privilegiadas. Apesar de ter deixado muita gente inconformada com o rumo que o partido tomou sob a direção de Trump, a presença dele fez a sigla, de fato, se reenergizar e conquistar uma nova base, a mesma que garantiu a eleição do candidato republicano em 2016. 

Não é exagero dizer que o partido poderia ser rebatizado Partido do Trump, uma vez que hoje representa mais o político do que um determinado conjunto de princípios fixos. Trump, ironicamente, nunca foi leal politicamente a ninguém: fazia contribuições para políticos dos dois grandes partidos americanos. Não é segredo que ele decidiu disputar a presidência em 2016 pelo GOP porque sabia que os democratas praticamente já tinham coroado Hillary Clinton como candidata, mesmo antes das eleições primárias do partido naquele ano.

Nova linha isolacionista

O partido liderado por Trump tem uma veia libertária e quase isolacionista. Parece não hesitar em mexer com a ordem mundial atingida depois do fim da Segunda Guerra Mundial e, mais tarde, da Guerra Fria, ao ameaçar cortar fundos para instituições como a OTAN ou a ONU.

Nenhuma das alianças e acordos firmados no decorrer de décadas estão seguros com Trump na Casa Branca. O presidente americano tem uma atitude dinâmica de executivo e não oferece garantias ao status quo. Recentemente, ele disse em uma entrevista que não descartava a possibilidade de encerrar completamente as relações comerciais com a China, assim como também não garante que aceitará o resultado das eleições, preferindo esperar para ver o que vai acontecer. Antes de Trump ocupar a Casa Branca, esse tipo de declarações presidenciais seriam inconcebíveis. 

É possível que Trump não apenas tenha mudado o partido republicano, mas também a própria postura presidencial. Muitos em Washington, como o grupo Lincoln Project, formado por republicanos que se dedicam a lutar contra a reeleição do atual presidente, sonham que, um dia, o “pesadelo" representado por Trump terminará e tudo voltará ao antigo normal. Mas talvez isso nunca ocorra no Partido Republicano, nem na política americana. Tudo depende do que acontecerá nas eleições de 3 de novembro. 

O opositor democrata, Joe Biden, faz parte da política de Washington há quase 50 anos e, se ele vencer, é mais provável que as coisas voltem a uma normalidade. Mas é preciso aguardar para ver se é isso mesmo que os americanos querem ou se ainda vão dar mais quatro anos para Trump cumprir sua promessa de “esvaziar o pântano”. 

Inimigos número 1: democratas

Em 2016, Trump apresentava imigrantes ilegais como os grandes inimigos, além do globalismo e os acordos comerciais que dizia serem injustos com os americanos. Agora, os republicanos colocam um novo partido democrata – que sem dúvida também passou por uma transformação e não é o mesmo partido antes encabeçado pela família Kennedy, e nem mesmo o de Bill Clinton ou Barack Obama – como o grande inimigo da sociedade americana. Os republicanos dizem que os democratas são contra os Estados Unidos e querem destruir desde a polícia até a Constituição e o estilo de vida americano. 

Nos últimos meses, o aumento da criminalidade e de assassinatos, além de constantes protestos contra a injustiça social, em cidades americanas governadas por democratas, como Chicago, Nova York e Portland, não estão ajudando os democratas. Os republicanos aproveitam para divulgar imagens de violência e anarquia e dizer que isso vai ser a realidade de todos americanos, se Biden ganhar a eleição presidencial.

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