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Linha Direta

EUA e China retomam negociações comerciais em Xangai, mas sem grandes entusiasmos

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As negociações que vão acontecer em Xangai, nestas terça-feira (30) e quarta-feira (31), entre representantes dos governos dos Estados Unidos e da China, não estão sendo motivo de grande esperança quanto a resultados significativos, em termos de um acordo comercial entre as duas potências, para os mercados financeiros globais.

Com negociações interrompidas desde maio, tensão entre as duas maiores economias globais aumentou
Com negociações interrompidas desde maio, tensão entre as duas maiores economias globais aumentou REUTERS/Aly Song
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Ligia Hougland, correspondente da RFI em Washington

Um sinal disso é que as empresas americanas já estão, inclusive, comunicando aos seus investidores sobre seus planos para lidar com uma continuidade nos impostos que foram aplicados pelos EUA e a China, há um ano, quando os dois países começaram a guerra comercial.

As negociações foram interrompidas em maio, e a tensão entre as duas maiores economias globais, desde então, aumentou, especialmente com o governo americano focando em punir a empresa chinesa de tecnologia Huawei. Mas em junho, durante o encontro do G20, em Osaka, no Japão, Donald Trump e Xi Jinping concordaram em retomar o diálogo.

De fato, os dois países nunca pararam de se comunicar sobre seu comércio, mas isso até agora estava sendo feito por trás dos bastidores. As reuniões desta semana, portanto, significam que ambos os lados estão dispostos a exibir, pelo menos, uma certa boa vontade. Desta vez, as reuniões serão com pesos pesados, com os EUA enviando seu secretário do Tesouro, Steve Mnuchin, que conversará diretamente com o vice-primeiro-ministro chinês, Liu He.

E o fato de Xangai, o grande centro comercial e financeiro chinês, ter sido escolhido como cenário para a retomada do diálogo, indica que o tom assumido pelas duas partes pretende ser mais focado em negócios do que em política. 

Barreiras aos fabricantes americanos

Em maio, o governo americano impôs barreiras às vendas dos fabricantes americanos, principalmente de chips, à gigante de tecnologia chinesa Huawei. A Casa Branca considera a empresa - que é a maior fabricante mundial de equipamento de rede para companhias telefônicas, além de ser a segunda líder global em smartphone - uma ameaça à segurança nacional, pois alega que seu equipamento pode ser usado para espionagem cibernética e, além disso, a empresa não respeita as sanções comerciais impostas ao Irã.

No ano passado, a diretora financeira da Huawei, Meng Wanzhou, foi presa no Canadá, sendo acusada de ter enganado bancos de presença global sobre o relacionamento da empresa com o Irã.

Muitas empresas americanas estão reclamando do impacto negativo de não poderem vender para a Huawei e também da falta de clareza do Departamento de Comércio americano sobre as diretrizes para exceções ao bloqueio às vendas, uma concessão feita por Trump depois que esses negócios mostraram seu desgosto com a medida.

Os EUA devem pedir que a China passe a importar mais dos seus produtos agrícolas, principalmente soja, além de gás natural, em troca de um afrouxamento em relação a Huawei. É então esperado que os encontros em Xangai ao menos resultem em gestos mais animadores das duas partes, com os EUA mostrando uma maior flexibilidade quanto à Huawei e a China parecendo mais disposta a aumentar as importações dos EUA.

Comércio internacional em queda 

Desde que a guerra comercial começou, há um ano, com os EUA aplicando impostos sobre US$ 50 bilhões em produtos chineses e, atualmente, chegando a um total de 25% de imposto sobre US$ 250 bilhões em produtos da China, as importações de produtos americanos por parte da China tiveram uma queda de 31,4%, ao passo que as exportações da China aos EUA caíram em 7,8%.

Apesar de o presidente americano dizer que as tarifas têm sido ótimas para a economia dos EUA e alegar não estar preocupado em chegar a um acordo com a China, muitos economistas dizem que é o consumidor americano que está sofrendo o custo adicional. E o conflito não tem ajudado a economia global desacelerada, inclusive na Europa e no Japão. 

O presidente do Fed (banco central americano), Jerome Powell, diz que a incerteza tem pesado sobre o panorama econômico. A economia americana desacelerou, passando de uma taxa de crescimento anual de 3,1%, no primeiro trimestre deste ano, para 2,1%, no segundo trimestre.

Um presidente mais maleável

Os chineses estão anunciando que vão continuar a jogar duro, ao mesmo tempo em que deixam claro que gostariam que os EUA se mostrassem mais flexíveis nessa nova rodada de diálogos. No entanto, é possível que China queira esperar até as próximas eleições presidenciais americanas, em novembro de 2020, para ver se pode negociar com um novo presidente mais maleável. Por enquanto, os mercados estão conseguindo lidar com as turbulências de modo razoável, mas a maior incerteza atual é até quando essa tolerância pode resistir.

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