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Brasil-Mundo

Jovem talento de Paraisópolis tem experimento testado em parceria com a Nasa

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Até o ano passado, Natan Cardoso de Oliveira raramente saía de sua comunidade, Paraisópolis, a maior favela de São Paulo. No entanto, o envolvimento no projeto Missão XII - uma parceria do Colégio Dante Alighieri com a Missão Garatéa, um dos maiores consórcios espaciais brasileiros, coordenado pelo engenheiro espacial Lucas Fonseca - transformou a vida do adolescente.

Natan no Museu Aeroespacial da Instituição Smithsonian, onde apresentou os resultados de seu experimento
Natan no Museu Aeroespacial da Instituição Smithsonian, onde apresentou os resultados de seu experimento L. Hougland
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Ligia Hougland, correspondente da RFI em Washington

A parceria organizou a participação de um grupo de estudantes paulistas em um programa do governo americano que visa promover a pesquisa espacial entre jovens, o Student Spaceflight Experiments Program (SSEP), do Centro Nacional para Educação Científica para Terra e Espaço (NCESSE).

Em setembro de 2017, o colégio e o consórcio espacial estenderam o convite a alunos da rede escolar pública, contando, inicialmente, com a participação de 35 alunos da Escola Municipal Perimetral e da ONG Projeto Âncora, de Cotia. Natan era um dos alunos da escola Perimetral.

Por um ano, 15 estudantes da escola de Natan se reuniram semanalmente com os alunos do Dante, uma tarefa que exigia esforços consideráveis de dedicação e locomoção. “Acreditávamos que a diversidade de realidades favoreceria o surgimento de projetos mais criativos”, diz Leandro Alves dos Santos, formador de professores de ciências da Diretoria Regional de Educação Campo Limpo. E foi assim que o menino de 16 anos – filho de um funcionário de lanchonete e uma empregada doméstica – descobriu seu interesse pela ciência.

“Comecei a me interessar por Ciência logo depois que me chamaram para o projeto. Eu sempre fui um aluno que estudava Ciências, como outras matérias, só que, com esse projeto, comecei a olhar a Ciência com outros olhos”, diz Natan.

O experimento do grupo, chamado de Cimento Espacial, tinha como objetivo investigar como o cimento reagiria no espaço e qual seria o efeito da radiação no material, em um ambiente de microgravidade. O estudo foi selecionado e, em junho de 2018, Natan foi a Washington para ver seu experimento ser enviado ao espaço a bordo de um foguete da Space X, empresa de Elon Musk, em uma parceria com a NASA, agência espacial americana.

Isso abriu portas para Natan, que conseguiu uma bolsa integral do Colégio Anglo Morumbi, uma das melhores escolas particulares de São Paulo. A mudança, no início, foi difícil para o adolescente, que sempre tinha estudado em escola pública. Mas o jovem demonstrou que tinha inteligência emocional, além de acadêmica, e logo se adaptou.

"Comparado à escola pública, o Anglo, claro, é muito bom", diz Natan. "Foi um choque muito grande devido ao peso e à maior quantidade de matérias, e também pelo fato de eu estar começando a 1ª série do ensino fundamental. É claro que todo mundo tem saudades dos amigos, não gosta de abandonar, mas é a vida”, diz o estudante.

Em julho deste ano, Natan voltou a Washington para apresentar - em inglês e para a plateia presente no Museu Aeroespacial da Instituição Smithsonian - os resultados do experimento de seu grupo. Os jovens descobriram que o processo de cristalização era maior na Terra do que no espaço. Não há consenso na comunidade científica sobre as consequências disso, portanto esses resultados podem abrir caminho para mais pesquisas sobre esse fenômeno. Os efeitos da radiação ainda estão sendo analisados.

Jovem quer seguir carreira na área de engenharia espacial

Hoje, Natan sonha em seguir uma carreira na área de Engenharia Espacial e pesquisa. E também diz que não hesitaria em se mudar para Marte, se isso pudesse contribuir com avanços científicos.

O menino, que até recentemente tinha seus sonhos limitados pela realidade da favela, agora tem apenas o céu como limite. “Vejo um futuro brilhante para mim. Quero ajudar muito meu país. Quero fazer descobertas, não só para meu país, mas para o mundo inteiro para quem sabe, no futuro, a gente se mudar para Marte”, diz o jovem pesquisador.

 

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