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O Mundo Agora

Trump anuncia supostos sucessos diplomáticos visando reeleição

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Mais uma vez, o presidente americano, Donald Trump, inventou uma ilusão para agradar o seu eleitorado para as próximas eleições presidenciais em 2020. O "Lourão da Casa Branca" ameaçou o México com um baita tarifaço se não acabasse com a imigração clandestina para os Estados Unidos. 

O presidente americano, Donald Trump, ainda não conseguiu cumprir sua promessa de erguer um muro na fronteira entre os Estados e o México.
O presidente americano, Donald Trump, ainda não conseguiu cumprir sua promessa de erguer um muro na fronteira entre os Estados e o México. Reuters
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Depois de uma negociação "vapt-vupt", os mexicanos aceitaram pequenas concessões que já haviam prometido bem antes desse fuzuê todo. Trump, por sua parte, levantou a ameaça das tarifas e, por tuíte, proclamou vitória total.

Provavelmente não vai mudar quase nada em matéria de imigração – que também é um problema para o Estado mexicano – mas foi uma boa operação de comunicação eleitoralista. Sobretudo para o presidente americano que dois anos depois de eleito ainda não conseguiu arrumar financiamento para cumprir a sua promessa de construir um muro na fronteira com o México.

Tudo isso poderia ser só cortina de fumaça se não fosse um tipo de jogada perigosa, para os vizinhos e para o resto do mundo. Trump deixou bem claro no seu livro “A Arte da Negociação” que barganhar sempre significa esmagar o outro. Nada de “ganha-ganha”: só pode haver vencedores e perdedores.

Tuíte e imprevisibilidade

A tática é sempre a mesma. Primeiro, escolher um adversário mais fraco e ameaçá-lo pesado com todo o poderio americano. Segundo, obter alguma coisa – nem que seja pouca – em troca de retirar o bode da sala. E tudo isso na base do tuíte e da imprevisibilidade completa para deixar o público, a imprensa e os comentaristas ofegando de angústia. Coisa que ele aprendeu no seu antigo reality show televisivo, “O Aprendiz”.

Claro, essa forma meio boçal de intimidar pelo muque e sem aviso prévio tem sua lógica e seus limites. O problema é que pode acabar num caos generalizado de aprendiz de feiticeiro. Geopolítica e geoeconomia não funcionam como negociatas imobiliárias em Nova Iorque.

Afeganistão, Coreia do Norte e Irã

Trump soltou no Afeganistão uma das superbombas do arsenal americano para mostrar ao mundo inteiro que a América não iria recuar nunca. Hoje é obrigado a tentar regatear por baixo do pano com os Talibãs a retirada das tropas americanas do país.

Também ameaçou Kim Jong-un de arrasar militarmente a Coreia do Norte e decretou pesadas sanções econômicas. O ditador norte-coreano fez-se de bonzinho e acabou aceitando duas cúpulas para negociar o abandono do seu programa nuclear – encontros qualificados pelo lourão e muitos comentaristas deslumbrados de “históricos”. Mas até hoje não aconteceu nada e, pior ainda, os dois líderes nem se falam mais.

A Casa Branca também rompeu unilateralmente o acordo nuclear plurilateral com o Irã e lascou punições econômicas contra Teerã que proíbem até as empresas de outros países de comerciar com a terra dos mulás. A ideia era obrigar os iranianos a renegociar um acordo muito mais intrusivo. Todos os aliados ocidentais dos Estados Unidos ficaram furiosos com as medidas e tentam passar por cima. Enquanto o Irã decidiu esperar e não ceder nada.

Sem saída senão uma nova guerra no Oriente Médio, Trump vem propondo ultimamente negociar “sem condições”. Pelo visto, a técnica negociadora do mercado imobiliário não funciona bem na diplomacia internacional – nem funcionou na falida Venezuela...

Crise econômica mundial

Sobra a China, que Trump vem pressionando seriamente com tarifas proibitivas e até boicote de empresas chinesas. É claro que Pequim, cuja prosperidade depende em grande parte do intercâmbio comercial com a América, está começando a sofrer seriamente. Mas não está nada a fim de entregar a rapadura e aceitar as reformas domésticas exigidas pela Casa Branca.

O perigo existe que um escorregão não previsto desemboque ou numa crise econômica mundial e – quem sabe – num enfrentamento militar entre os dois países. O que seria um golpe de morte para todas as economias da Ásia-Pacífico e portanto do planeta inteiro e dos próprios Estados Unidos. Tudo isso para que o Lourão tenha mais chances de ser reeleito daqui há um ano e meio...

*** Alfredo Valladão, do Instituto de Estudos Políticos de Paris, publica sua crônica de política internacional todas as segundas-feiras na RFI

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