Às vésperas da chegada de uma missão do Grupo de Contato Internacional da Comissão Europeia à Venezuela o chavismo aperta o cerco e multiplica a retirada da imunidade parlamentar de deputados opositores. Por uma suspeita de explosivos, a sessão da Assembleia Nacional, dominada pela oposição, foi adiada e deve ser realizada nesta quarta-feira (15).
Por Elianah Jorge, correspondente da RFI na Venezuela
A sessão ordinária dessa terça-feira (14) da Assembleia Nacional foi reagendada para a manhã de hoje. Ontem pela manhã, poucas horas antes do início da reunião surgiu a denúncia de que haveria explosivos dentro do Palácio Federal Legislativo. O local foi cercado por guardas e policiais nacionais bolivarianos e também pelo Serviço de Inteligência Bolivariana, o SEBIN.
Não foi permitida a entrada dos legisladores da oposição, nem da imprensa.
Na sessão seria debatido, entre outros temas, o desaparecimento do vice-presidente da casa, o deputado Edgar Zambrano. Preso na semana passada e levado a uma das sedes do Sebin, em Caracas, Zambrano foi posteriormente trasnferido para outro local. Até o momento a família e os advogados do parlamentar desconhecem o paradeiro dele.
O cerco ao Palácio Legislativo aconteceu após o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) ter acusado, na semana passada, dez parlamentares de participar do levante contra o presidente Nicolás Maduro no último dia 30 de abril. Nessa terça-feira, a Corte venezuelana, aliada ao chavismo, voltou a acusar mais quatro parlamentares opositores. Ao todo, 14 legisladores da oposição são acusados pelo TSJ.
Explosivos na Assembleia?
As forças de segurança do Estado que vistoriam o Palácio não esclareceram se havia explosivos no local, que levaram ao adiamento da sessão. No entanto, durante a tarde, a Assembleia Constituinte, que é totalmente chavista, legislou no mesmo espaço e sem contratempos. Na prática, a Assembleia Constituinte assumiu as funções parlamentares, depois que a mais alta corte de justiça declarou o Legislativo em "desodediência".
Na sessão, o presidente da Constituinte Diosdado Cabello ordenou retirar a imunidade parlamentar dos deputados Freddy Superlano, Sergio Vergara, Juan Andrés Mejía, Miguel Pizarro e Carlos Paparoni.
O presidente da Constituinte também pediu à justiça venezuelana que atue contra os opositores Maria Corina Machado e Andrés Velásquez. Embora não sejam parlamentares, eles são vozes críticas ao governo de Maduro.
Grupo de Contato da UE
O autoproclamado presidente Juan Guaidó convocou uma coletiva de imprensa às pressas na tarde de ontem. Ele afirmou que o governo de Nicolás Maduro quer fechar o parlamento venezuelano. De acordo com o líder opositor, a Assembleia Nacional, eleita em 2015, é a “única instância legítima reconhecida pelo mundo”.
Na coletiva estiveram presentes outros deputados, entre eles os apontados pelo TSJ e por Cabello. O clima era de consternação.
Guaidó informou que nas próximas horas chega à Venezuela uma missão do Grupo de Contato Internacional da Comissão Europeia para avaliar alternativas à situação política do país. Já os Estado Unidos denunciaram ao Conselho de Segurança da ONU o aumento da repressão por parte do governo de Nicolás Maduro e pediram respostas concretas.
Situação dos deputados opositores
Desde que Edgar Zambrano foi levado preso pelo Sebin, o clima é tenso entre os opositores. Até o momento são 14 deputados perderam a imunidade parlamentar. Eles são acusados de traição à pátria por supostamente participar do levante para tirar Nicolás Maduro do poder.
Na noite desta terça-feira, o deputado Franco Casella foi recebido na residência diplomática do México em Caracas. Outros deputados estão nas sedes diplomáticas de Argentina, Itália e Chile.
Além de Zambrano, outros parlamentares estão desparecidos. Há mais de 14 dias a família não sabe do paradeiro de Gilbert Caro. Após semanas isolado na prisão, somente neste fim de semana a família do assessor de gabinete de Guaidó, Roberto Marrero, pôde visitá-lo.
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