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Linha Direta

Novo relatório Mueller não inocenta Trump, mas ameniza acusações

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O relatório final de mais de 400 páginas, que custou US$ 25 milhões, concluiu que nenhum membro da campanha de Trump e nenhum cidadão americano tiveram envolvimento com russos com o objetivo de influenciar as eleições presidenciais de 2016.

O Relatório Mueller sobre a investigação da interferência russa nas eleições presidenciais de 2016 é fotografado em Nova York, em 18 de abril de 2019.
O Relatório Mueller sobre a investigação da interferência russa nas eleições presidenciais de 2016 é fotografado em Nova York, em 18 de abril de 2019. REUTERS/Carlo Allegri
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Ligia Hougland, correspondente da RFI em Washington

Nesta quinta-feira (18), o secretário de Justiça dos Estados Unidos, William Barr, divulgou ao Congresso e ao público o relatório preparado pela equipe do procurador especial, Robert Mueller, que investigou se a campanha presidencial de Donald Trump havia conspirado com a Rússia para influenciar o resultado da eleição americana. Segundo os democratas, essa ingerência teria prejudicado Hillary Clinton. O relatório, entre outros pontos, determinou que, de fato, a Rússia havia agido com a intenção de manipular os eleitores americanos, inclusive por meio de publicações em redes sociais.

Para a alegria de Trump e seus apoiadores, mas para a decepção dos democratas, o procurador especial foi bastante categórico quanto à inexistência de provas de que membros da campanha presidencial republicana, ou mesmo que algum cidadão americano, haviam trabalhado em cooperação com os russos. Mas, ao contrário do que foi diversas vezes alegado por Trump, o relatório não o exonera da acusação de obstrução da justiça.

Na realidade, Mueller parece ter dado munição suficiente para que os democratas, que têm a maioria na Câmara, possam pedir o impeachment do presidente republicano com base em uma possível obstrução da justiça. Ou seja, Trump está livre de um processo jurídico, mas corre o risco de um processo político, caso os democratas resolvam ir adiante com o plano de impeachment.

O relatório também traz o que parece ser uma boa notícia para Julian Assange, pois conclui que o australiano fundador do WikiLeaks apenas publicou as informações que lhes foram repassadas pelo russos e não participou de hacking dos sistemas de computação do Comitê Nacional Democrata (DNC), que expôs comunicações comprometedoras dos líderes do partido. Segundo a lei americana, a mera publicação de informações não é crime.

Impeachment depende de articulação complexa

Os democratas agora têm de fazer um cálculo político complicado, e alas diferentes do Partido Democrata estão, no momento, com posições diferentes quanto à possibilidade de impeachment. Afinal, um presidente republicano ser afastado da Casa Branca quando o Senado ainda é controlado por republicanos é algo bastante improvável. Além disso, os indícios de obstrução da justiça incluídos no relatório do procurador especial não são exatamente concretos, tanto que Mueller concluiu que não valeria a pena tentar um processo jurídico contra Trump.

O relatório descreve ocasiões em que Trump mostrou frustração com a investigação e também diz que ele quis terminar prematuramente com o trabalho do procurador especial. Segundo as conclusões da equipe de Mueller, isso somente não aconteceu porque as ordens presidenciais não foram cumpridas. Há também o caso da demissão de Jim Comey, o ex-diretor do FBI a quem Trump indicou querer que o General Michael Flynn, membro da sua equipe que estava sendo investigado pelo FBI por contatos com o embaixador russo, fosse poupado.

No entanto, o presidente americano tem de fato autoridade para por um fim às investigações de procuradores especiais e fazer demissões de acordo com seu critério. Também ficou determinado pelo relatório de Mueller que, apesar dos ataques de fúria de Trump, a Casa Branca havia cooperado com a investigação e não interferiu com a mesma. Além disso, Trump sequer se valeu do seu privilégio executivo de omitir certas informações contidas no relatório.

Assim, alguns líderes do Partido Democrata, como o arqui-inimigo de Trump, o deputado Adam Schiff, estão dando sinais de não ter interesse de ir atrás de um impeachment. Já democratas recém chegados ao Congresso e da linha mais progressiva, como a deputada Alexandria Ocásio-Cortez, ainda não descartaram a possibilidade de um processo de impeachment.

Por um lado, pode ser mais vantajoso para os democratas de olho na Casa Branca em 2020 focar em reforma ao sistema de saúde, infraestrutura e imigração, deixando de lado o Russiagate. Mas também pode ser que a melhor aposta dos democratas seja continuar a atacar Trump, mantendo sua presidência sob uma nuvem negra. Afinal, se o rumo continuar como está, Trump conta com uma economia forte, taxa de desemprego baixa, além de um mandato sem envio de tropas a guerras. E esse são fatores sempre favoráveis a uma reeleição.

Imprensa americana está polarizada

De acordo com observadores de longa data e jornalistas renomados, como o vencedor do Prêmio Pulitzer, Glenn Greenwald, a imprensa americana nunca esteve tão polarizada e, especificamente, os veículos de comunicação convencionais e simpáticos aos democratas, como a CNN, por exemplo, nunca tiveram um colapso tão evidente como o que está acontecendo. Especialmente tendo em vista as revelações do relatório de Mueller, contrárias às muitas alegações feitas pela imprensa liberal nos últimos dois anos de que Trump estaria comprometido com a Rússia.

Enquanto a imprensa liberal acusa o secretário de Justiça, Bill Barr, de estar agindo de forma antiética ao proteger o presidente, os veículos conservadores, como o website The Daily Caller, insistem que o presidente foi vítima de uma tentativa de golpe por parte do “Deep State”, como chamam o suposto grupo formado por membros da comunidade de inteligência de Washington que teria interesse em impedir que Trump perturbasse o status quo da política americana.

Mas o americano médio que não participa dos círculos de Washington está mais interessado em ter um bom plano de saúde e ver melhorias na infraestrutura do país do que em intrigas políticas e disputas de teorias da conspiração pelo Twitter. Além de estar cada vez mais convencido de que as elites da capital estão mais interessadas em lutar pelo seu próprio bem do que pelo bem dos cidadãos americanos.
 

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