Acessar o conteúdo principal

“Colômbia volta 20 anos no passado com fim das negociações de paz”, diz pesquisador

O presidente colombiano Ivan Duque anunciou a reativação dos mandados de prisão contra responsáveis do grupo guerrilheiro Exército da Libertação Nacional (ELN), que se encontravam em Cuba, país parceiro nas negociações de paz na região. Para analistas ouvidos pela RFI, o atentado desta semana em Bogotá pode modificar completamente o contexto da luta contra o conflito armado.

O presidente colombiano, Ivan Duque. 18/01/2019
O presidente colombiano, Ivan Duque. 18/01/2019 Courtesy of Colombian Presidency/Handout via REUTERS
Publicidade

O governo colombiano atribuiu na sexta-feira (18) a autoria do atentado contra a academia de Polícia de Bogotá, que deixou 20 mortos e mais de 60 feridos, à guerrilha ELN, num discurso agressivo das autoridades. O grupo armado não negou nem confirmou as informações.

As negociações de paz, iniciadas pelo governo precedente, estavam suspensas desde a chegada ao poder de Ivan Duque, há cinco meses. Segundo análise de Frédéric Massé, pesquisador especializado na Colômbia entrevistado pela RFI, o fim do conflito armado está “comprometido” e os próximos anos “serão complicados”.

“Depois da desmobilização das FARC, o ELN tomou seu lugar em diversas regiões. O grupo se reforçou militarmente, o que explica a razão de certos membros mais radicais considerarem que as negociações não são mais úteis, pelo menos pelo momento. Vamos ver um retorno de dez a vinte anos ao passado”, afirmou.

O analista também estima que o ataque do 17 de janeiro pode ser um sinal dos tempos que virão na Colômbia. “Esse atentado mostra um pouco o que se produzirá nos próximos meses e anos: uma radicalização no seio do ELN, um reforço da política de segurança, da luta frontal contra o grupo da parte do governo e uma forma de doutrina de ‘nem paz, nem guerra’ em diversas regiões. A população ficará dividida entre os que insistem por uma solução negociada e aqueles que persistem na via militar para tentar colocar fim no ELN.”

Risco de terrorismo vai aumentar

O presidente Ivan Duque refletiu antes de tomar essa importante e marcante decisão, segundo declarações do mesmo. O chefe de Estado afirma ter consultado seus ministros e o Exército, além da "comunidade internacional”. “Já chega, as mortes, os sequestros, os atentados, chega. A Colômbia diz ‘Já chega!’”, disse Duque, em seu discurso na televisão.

O presidente colombiano pediu ajuda de Cuba, onde ocorriam as negociações de paz, sugerindo que o governo cubano prenda as pessoas que ele classificou de "terroristas". 10 membros do ELN se encontram no país vizinho para negociarem um acordo.

Até agora não houve resposta do governo cubano. O ministro cubano das Relações Exteriores, Bruno Rodriguez, disse em um tuíte que “Cuba respeitará o protocolo do diálogo de paz”, segundo o qual a delegação do ELN deve ser enviada de volta à Colômbia.

Mas como as negociações de paz entre o ELN e o governo de Ivan Duque permanecem “em pausa” há seis meses, não é certo que os 10 negociadores ainda estejam em Cuba. O professor Jorge Restrepo, entrevistado pela RFI, vê na situação atual uma verdadeira reviravolta. “O discurso [de Duque] marca uma nova fase na política para encontrar uma saída para o conflito armado. Isso cria um contexto onde o risco de terrorismo urbano é maior”, analisa.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.