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América

“Temos que correr o risco”, diz hondurenha em nova caravana para os EUA

Duas caravanas de migrantes, formadas por mais de mil pessoas, deixaram Honduras na noite de segunda-feira (15) em direção aos Estados Unidos. A reportagem da RFI acompanhou a saída dos hondurenhos, que partiram da pequena cidade de San Pedro Sula, no norte do país, fugindo da pobreza e da violência. Eles devem atravessar Guatemala e México, antes de chegarem na fronteira norte-americana.

Muitas mães solteiras acompanhadas de seus filhos fazem parte da caravana de hondurenhos
Muitas mães solteiras acompanhadas de seus filhos fazem parte da caravana de hondurenhos RFI / Angélica Pérez
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Informações de Marie Normand e Angélica Pérez, enviadas especiais a Honduras

Famílias inteiras e muitas mulheres carregando crianças pequenas fazem parte da caravana que saiu da rodoviária da cidade durante a madrugada, embaixo de chuva. Deste terminal também partiu a primeira caravana para os Estados Unidos, com cerca de 2 mil hondurenhos, em 13 de outubro, e uma segunda, menor, quatro dias depois. O movimento em seguida foi acompanhado de grupos semelhantes saindo de El Salvador e Guatemala.

San Pedro Sula registra um dos maiores índices de criminalidade de Honduras. A violência é uma das principais razões que levam a população a deixar o país. Como uma das migrantes, de 24 anos, cujo marido foi assassinado na semana passada. “Não tenho outra opção”, diz a mãe de família, acompanhada das filhas de 13 e 9 anos. “Partir é a única oportunidade de uma vida melhor”.

Além da violência, muitos fogem da pobreza. “Acabaram de me expulsar de casa pois não tinha como pagar o aluguel”, conta outra migrante, que afirma ter vendido todos seus pertences. “Eu trabalhava, mas houve um corte de pessoal e fui demitida. Aqui em Honduras, quando se tem mais de 30 anos de idade, não há mais trabalho”, explica a mulher, que deixa para trás a mãe doente. “Viajo com o coração apertado, pois ela também foi expulsa de sua casa”.

As primeiras caravanas enfrentaram forte resistência das autoridades dos Estados Unidos para permitir que cruzassem a fronteira, além de um duro discurso anti-imigração do presidente norte-americano Donald Trump. O chefe da Casa Branca falou de uma "invasão", e inicialmente sugeriu que os soldados poderiam atirar em migrantes se eles jogassem pedras no lado americano.

Trump insiste em construir um muro na fronteira com o México para impedir a entrada de imigrantes, mas os democratas no Congresso se recusam a financiá-lo. O impasse nas negociações, aliás, causou a mais longa paralisação orçamentária do governo federal dos Estados Unidos.

Migrantes estigmatizados

Os migrantes são estigmatizados, vistos como bandidos dentro e fora do país, comenta o jornalista local e defensor dos direitos dos refugiados Bartolo Fuentes. “Dizem que são delinquentes. O próprio governo hondurenho repete as acusações sem fundamento do presidente dos Estados Unidos. Mas os que saem daqui, como vocês podem ver nessa rodoviária, são homens, mulheres e crianças que não representam uma ameaça para a segurança de nenhum país do mundo. São pessoas com dificuldades, que não tem oportunidades para seus filhos, não conseguem trabalho ou moram em bairros perigosos. Por essa razão eles não arrumam emprego, pois os patrões temem que estejam envolvidos com criminosos”, explica.

“Não tem trabalho nessa terra, então resolvi acompanhar a caravana e encontrar outro país, outro sonho”, disse um dos hondurenhos enquanto se preparava para partir. “Tenho 40 anos e ninguém me dá trabalho”, completa uma mulher no grupo. “Todas as pessoas que estão aqui vivem a mesma coisa. Então temos que correr o risco”.

Dos 13 mil hondurenhos que partiram nas primeiras caravanas, mais de 7 mil já retornaram ao país diante da impossibilidade de atravessar a fronteira com os Estados Unidos. Pelo menos 11 morreram.

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