Acessar o conteúdo principal
Linha Direta

Retirada das tropas da Síria cria dúvidas sobre a política americana para o Oriente Médio

Publicado em:

A retirada das tropas americanas da Síria é mais uma mostra – desta vez, explícita, da discórdia entre os assessores da área de defesa da Casa Branca e o Donald Trump. Na quinta-feira, o secretário de Defesa americano, Jim Mattis, anunciou sua renúncia depois de alegar que tem visões irreconciliáveis com as do presidente. 

Membros das forças americanas na cidade de Darbasiyah em abril de 2017
Membros das forças americanas na cidade de Darbasiyah em abril de 2017 DELIL SOULEIMAN / AFP
Publicidade

Nathalia Watkins, correspondente da RFI em Washington

Na quarta-feira (18), Trump anunciou que pretende retirar todos os 2000 soldados americanos do território sírio dentro de 30 dias. Apesar de haver sinalizado no passado não estar de acordo com a guerra, a decisão tomou muitos de surpresa, inclusive tradicionais aliados da Casa Branca.

O general Jim Mattis anunciou que deixará em fevereiro a administração do presidente Donald Trump. Especulações sobre a saída de Mattis começaram em outubro. Trump chegou a dizer em entrevista à CBS que o general era "um tipo de democrata" e talvez saísse. Mas a decisão foi tomada nesta quinta-feira (20), depois de uma última tentativa do militar de convencer o presidente a manter as tropas na Síria.

Em uma carta de duas páginas, Mattis rejeitou a visão de política internacional conhecida como América First, ou os Estados Unidos em primeiro lugar, que levou os americanos a desentendimentos com aliados como Alemanha, Inglaterra e Austrália. A retirada das tropas da Síria foi rejeitada pelo establishment da área de defesa, que teme o fortalecimento de terroristas na Síria. O poder de fogo do grupo Estado Islâmico foi drasticamente reduzido, mas estima-se que o grupo terrorista ainda tenha controle de uma porção do território na fronteira com o Iraque e que conte com aproximadamente 30 mil militantes.

Nova ordem mundial

Trump deu inúmeras provas de que rejeita as alianças e as estruturas de poder formadas após a Segunda Guerra Mundial, que foram mantidas intactas tanto por presidentes republicanos quanto por democratas, durante os últimos setenta anos. Mas analistas em Washington oferecem diferentes explicações para o anúncio repentino.

A primeira delas, citada em editorial do jornal The New York Times, seria desviar o centro das atenções das questões legais que assombram o presidente e ainda ganhar pontos com eleitores às vésperas do Natal. Outros acreditam que a medida foi um "afago" ao presidente Vladimir Putin, que certamente é um dos principais beneficiados pela escolha. Putin foi rápido em dizer que Trump tomou a decisão certa, apesar de ter questionado o significado do anúncio.

Segundo ele, os Estados Unidos prometeram a retirada das tropas do Afeganistão há anos, mas ainda não a concluíram. A Rússia terá, agora, mais terreno para expandir sua influência regional. A mudança de estratégia dos Estados Unidos abre um cenário de incerteza no Oriente Médio.

No ano passado, Mattis convenceu Trump a se comprometer com o envio de milhares de homens ao Afeganistão, onde os talibãs estavam massacrando as forças locais e registrando avanços. Mas este cenário agora parece ainda mais distante, uma vez que Trump prometeu também acelerar a saída do Afeganistão. Assim como aconteceu no Afeganistão, há o temor de que terroristas do Estado Islâmico também voltem a registrar avanços.

Teerã espera expandir domínio

Neste xadrez geopolítico, ganham a Rússia, o Irã e o Estado Islâmico. Teerã espera expandir seu domínio para regiões ocupadas por tropas americanas e Moscou diz sempre ter considerado a ação americana ilegal. Já tradicionais aliados, como Israel e os curdos, saem perdendo.

Durante os últimos três anos, os curdos foram protegidos, treinados e armados pelos americanos em um enclave no nordeste da Síria. Sem a proteção, eles enfrentarão ameaças turcas e sírias sozinhos. Já Israel, que alertou diversas vezes sobre presença iraniana em sua fronteira, avisou que irá intensificar os esforços para combater forças de Teerã.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.