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G20/Argentina

G20: EUA saem do Acordo de Paris e cúpula evita falar em guerra comercial

Declaração final dos líderes do G20 aponta reforma da Organização Mundial do Comércio (OMC), igualdade de gênero na economia, preocupação com refugiados e cooperação Sul-Sul. Revitalização do comércio internacional foi a saída diplomática para encarar a guerra comercial entre Estados Unidos e China, sem mencionar os termos "protecionismo" e "livre comércio". Há grande expectativa com a reunião bilateral entre Donald Trump e Xi Jinping, que acena com a possibilidade de uma trégua no conflito.

A chanceler alemã Angela Merkel e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante sessão plenária da cúpula do G20 em Buenos Aires, na Argentina, em 1° de dezembro de 2018.
A chanceler alemã Angela Merkel e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante sessão plenária da cúpula do G20 em Buenos Aires, na Argentina, em 1° de dezembro de 2018. G20 Argentina/Handout via REUTERS
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Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

Sem rodeios, a declaração final dos líderes do G20 confirmou que "os Estados Unidos reafirmam a sua decisão de retirarem-se do Acordo de Paris", mas suavizou a drástica decisão com um "forte compromisso do país com o crescimento econômico e com o acesso à energia, utilizando todas as fontes e tecnologias, protegendo o meio-ambiente".

"Esse capítulo revela que persistem diferenças entre os Estados Unidos e o resto dos países", sublinhou o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez. Embora a Espanha não pertença ao G20, o país é convidado permanente do grupo.

Fora os Estados Unidos, todos os demais países reafirmaram que "o Acordo de Paris é irreversível e comprometeram-se com a sua plena implementação". O Brasil, que dentro de um mês terá novo presidente - que já declarou querer rever esse acordo -, também se comprometeu com esse ponto.

Comércio internacional

A abordagem sobre o comércio internacional evitou a dicotomia "protecionismo e livre comércio". Apenas indica que os países "notam problemas comerciais atuais" e que "reafirmam a promessa de usar todas as ferramentas políticas para alcançar um crescimento forte, sustentável, equilibrado e inclusivo", adjetivos que abrangem todos os interesses.

"Renovamos nosso compromisso de trabalharmos juntos para melhorar uma ordem internacional baseada em regras, capaz de responder eficazmente a um mundo em rápida mudança", defenderam os líderes do G20, responsáveis por 85% do PIB mundial e por 75% do comércio internacional.

"Os Estados Unidos não aceitaram a palavra 'protecionismo' porque consideram que são abertos. Todos apostamos ao comércio crescente entre os nossos países. Nesse sentido, apoiamos a reestruturação da OMC para que esse crescimento seja em termos igualitários", explicou o anfitrião argentino, Mauricio Macri.

"Além disso, não tem sentido apontar o protecionismo quando, dentro de horas, os presidentes de Estados Unidos e China vão se reunir para tratar do assunto", concluiu Macri, em referência ao jantar o norte-americano Donald Trump terá com o seu rival chinês Xi Jinping aqui em Buenos Aires. A guerra comercial compromete o crescimento econômico do mundo.

A declaração destaca ainda "a contribuição que o sistema multilateral de comércio tem dado para esse fim", mas "o sistema está atualmente aquém dos seus objetivos e há espaço". "Por isso, apoiamos a necessária reforma da OMC para melhorar o seu funcionamento", diz o texto, indicando que "o assunto será analisado na próxima reunião de cúpula".

"Empoderamento feminino"

A igualdade de gênero é considerada como "crucial para o crescimento econômico e para o desenvolvimento sustentável". Nesse sentido, os líderes se comprometem a "reduzir a brecha de gênero na força de trabalho" com taxas de participação feminina de 25% até 2025.

Também anunciam a promoção de "iniciativas destinadas a pôr fim a todas as formas de discriminação contra as mulheres" e comprometem-se a "promover o 'empoderamento' econômico das mulheres" e a "reduzir as disparidades salariais entre homens e mulheres", além de "promover o acesso das mulheres a posições de liderança e de tomada de decisão".

A crise humanitária dos refugiados aparece como "uma preocupação global" com os "grandes movimentos de migrantes" a partir de questões humanitárias, políticas, sociais e econômicas.

"Enfatizamos a importância de ações compartilhadas para abordar as causas básicas de deslocamento e responder às crescentes necessidades humanitárias", declara o G20.

Cooperação Sul-Sul

Um aspecto que mereceu destaque na declaração foi "o reconhecimento que as cooperações Sul-Sul e a triangular têm". "Sublinhamos o nosso apoio à parceria do G20 com a África", enfatizaram os líderes. Esse ponto contradiz os anúncios do presidente brasileiro eleito, Jair Bolsonaro, de diminuir a presença brasileira na África.

Sem acordo no G20, a disputa comercial entre Estados Unidos e China terá um novo round em Buenos Aires nas próximas horas. Para Donald Trump, a aproximação das potências neste sábado depende de um gesto de maior abertura da economia chinesa. A China estaria convicta da necessidade de abrir gradualmente a sua fechada economia. Trump é um obstáculo para a China, mas a guerra comercial também atinge a economia norte-americana.

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