Presidente da Colômbia quer “compartilhar diplomacia ambiental na Amazônia com Bolsonaro”
Em entrevista exclusiva à RFI e à France 24h em Paris, presidente colombiano Ivan Duque expressou preocupação com desmatamento da Amazônia, que considerou acelerado nos últimos anos no que chama de “pulmão do planeta”. Durante a conversa, ele também afirmou que a América Latina deve buscar “um grande entendimento com o Brasil”. Duque, que veio à capital francesa participar do Fórum para a Paz e do centenário da Primeira Guerra, atacou duramente o presidente venezuelano Nicolás Maduro, a quem se refere como “o ditador”.
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O presidente colombiano, Ivan Duque, foi um dos primeiros a cumprimentar o presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, logo após o segundo turno das eleições no país. Perguntado sobre seu apoio, ele afirmou se tratar de um procedimento normal. “Liguei para o presidente Bolsonaro, foi uma expressão de respeito pela decisão do povo brasileiro. O povo brasileiro foi às urnas e se expressou majoritariamente em favor do presidente Bolsonaro”, disse.
“A Colômbia tem vínculos com o Brasil, são países fronteiriços. Compartilhamos grande parte da Amazônia. Temos mais vínculos comerciais que antes. Temos interesse em propiciar a integração regional. Espero que o presidente Bolsonaro contribua com esses propósitos continentais e necessários para todos”, completou Duque.
Perguntado pelos jornalistas se, mesmo considerando os “mecanismos da realpolitik”, ele poderia continuar “impassível” frente a um chefe de Estado [Bolsonaro], que fez declarações homofóbicas, racistas e misóginas, Duque respondeu que prefere “não fazer juízos de valor sobre declarações que ele fez em épocas passadas”.
“O que corresponde a mim, como presidente da Colômbia, é propiciar uma boa relação com o chefe de Estado do Brasil. Espero que o marco de desenvolvimento da democracia brasileira seja o povo brasileiro que permita encontrar as soluções necessárias”, contemporizou o presidente colombiano. Apesar do desejo de boas relações com Jair Bolsonaro, Ivan Duque sublinhou que “para quem vai receber o poder no Brasil, como deve ser entre todos que querem exercer a responsabilidade política numa democracia, temos que buscar a unidade de nossos povos, e isso implica em ter tolerância, saber escutar a visão do outro, e poder construir a partir daí”.
Diplomacia de fronteira na Amazônia
Sobre a intenção de Bolsonaro de diminuir o sistema de controle ambiental da Amazônia, o presidente colombiano afirmou ter “uma política muito clara em relação à Amazônia. Ela é um dos pulmões mais importantes do mundo. A Colômbia é o segundo país do mundo com mais biodiversidade por quilômetro quadrado, depois do Brasil. A Amazônia apresentou grave desflorestamento nos últimos anos”, alertou.
“Minha política para a Amazônia é a proteção da biodiversidade, proteção das bacias hidrográficas, um turismo ecológico responsável que ajude a valorizar esse tesouro da humanidade. Essa será a minha diplomacia ambiental. E espero compartilhá-la com o presidente Bolsonaro e o resto do mundo”, finalizou.
O “ditador” venezuelano
O presidente colombiano não dissimilou sua completa discordância com o regime de Nicolás Maduro na Venezuela. Segundo Ivan Duque, a possibilidade de uma intervenção militar no país é o que “o ditador” [o presidente venezuelano, Nicolás Maduro] sempre quis. “Ele quer criar um fantasma bélico, para criar esse inimigo que justifique a exacerbação de sentimentos sociais, para se agarrar ao cargo. Não podemos servir a um ditador. Ele busca criar esse demônio para escapar de suas responsabilidades”, disse o chefe de Estado colombiano.
Para ele, “a comunidade internacional deve aproveitar os instrumentos existentes e disponíveis no multilateralismo para buscar sanções ao ditador na Corte Penal Internacional, para penalizar o carrasco da Venezuela”, declarou Duque.
Sobre os mais de três mil migrantes venezuelanos que cruzam a fronteira colombiana todos os dias, Duque afirmou que “se fecharmos a passagem, nesta crise humanitária, o que você acha que vai acontecer? Eles estão tentando fugir da ditadura. A Colômbia tem uma política de braços abertos pela simples razão que este tipo de crise é melhor administrado se for ordenadamente. É preciso conhecer bem esse migrante, suas necessidades reais. Muitos deles são filhos ou netos colombianos”, declarou o presidente colombiano, que afirmou ainda que foi à Assembleia geral da ONU “buscar fundos de assistência humanitária”.
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