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Linha Direta

Bolsonaro influencia países vizinhos que elegem presidentes em 2019

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O efeito Bolsonaro começa a ganhar contornos nos países sul-americanos que terão eleições para presidente em outubro do ano que vem: Argentina, Bolívia, Uruguai. O pesselista ganha fãs, mas também faz inimigos na região. 

A deputada conservadora boliviana Norma Piérola e o ex-presidente uruguaio José Mujica.
A deputada conservadora boliviana Norma Piérola e o ex-presidente uruguaio José Mujica. Fotomontagem RFI
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Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

Começam a surgir candidatos que se dizem fãs do brasileiro, que esboçam discursos de combate à violência com o uso da mão de ferro, que pregam um fortalecimento das Forças Armadas e que dizem agora, com menos pudor, aquilo que antes evitavam dizer, mas também a esquerda começa a reagir contra um avanço da direita.

A maior surpresa pode vir do Uruguai. O ex-presidente José Mujica poderia aceitar ser novamente candidato nas eleições do ano que vem. Em agosto passado, com 83 anos, Mujica renunciou ao cargo de senador por questões de saúde e de idade. Porém, num país sem reeleição e diante da onda de vitórias da direita na região que pode quebrar na praia uruguaia, os militantes que já vinham pedindo para Mujica rever a sua decisão de sair da política, redobraram o pedido.

Depois da vitória de Bolsonaro, Mujica surpreendeu. Num movimento repentino, disse que fará uma bateria de exames médicos para definir se será candidato. A eleição do pesselista assustou a coligação Frente Ampla do Uruguai e funcionou como um incentivo para Mujica fazer esse último esforço depois de já ter governado o país entre 2010 e 2015. Se realmente se candidatar e ganhar, vai terminar o seu mandato dois meses antes de completar 90 anos de idade.

"No final de 2019, Argentina, Bolívia e Uruguai vão às urnas e o fenômeno político brasileiro pode influenciar nessas eleições", disse à RFI o cientista político argentino, Rosendo Fraga, diretor do centro de estudos União Para a Nova Maioria.

Bolsonaro, inimigo preferido da esquerda

Entre os próximos dias 19 e 23, aqui em Buenos Aires, acontecerá o "Foro do Pensamento Crítico". As estrelas serão os ex-presidentes José Mujica, Dilma Rousseff e Cristina Kirchner. Também estarão Fernando Haddad, Manuela D'ávila, Guilherme Boulos, além de vários representantes da esquerda mundial. Um dos principais pontos de debate será a vitória de Jair Bolsonaro que causou surpresa generalizada.

"Bolsonaro caricaturiza a direita. A esquerda está triste porque perdeu no Brasil, mas está feliz porque Bolsonaro é o estereótipo da direita autoritária, desrespeitosa, homofóbica, violenta e racista. Com um inimigo assim, a esquerda espera ter vantagens eleitorais", explica à RFI Patricio Navia, sociólogo e cientista político chileno da Universidade de Diego Portales e da New York University.

"Bolsonaro não será um líder unificador. Será um líder agressivo que usará a estratégia da confrontação. Um Bolsonaro radical pode terminar ajudando a sobrevivência dos regimes venezuelano e nicaraguense. Bolsonaro é o inimigo favorito para os líderes de esquerda da América Latina", define Navia.

Fã boliviana de Bolsonaro

Na Bolívia, a deputada conservadora, Norma Piérola, lançou a sua candidatura, declarando-se fã de Bolsonaro. A deputada e dois ex-presidentes tentam evitar o quarto mandato consecutivo de Evo Morales, quem está no poder há quase 13 anos.

Piérola agradeceu Bolsonaro por "revelar os comportamentos criminosos" dos ex-presidentes Lula da Silva e Dilma Rousseff e os "acordos secretos" do PT com o governo de Evo Morales.

Outra ala do mesmo Partido Democrata Cristão (PDC) da deputada lançou o candidato Paz Zamora, de 79 anos, quem governou a Bolívia entre 1989 e 1993, com apoio do ex-ditador Hugo Banzer, falecido em 2002. Aos 79 anos, Paz Zamora opõe-se a um novo mandato de Morales até 2025.

"Quem quiser andar armado, que ande armado"

Na Argentina, um candidato como Bolsonaro que defende a ditadura e que reivindica a tortura, não teria a menor chance. Mas, pelo lado do porte de armas, da mão de ferro e até pelo lado de fortalecer as Forças Armadas, surgiram vozes coincidentes entre as lideranças políticas.

A ministra da Segurança, Patricia Bullrich disse que "quem quiser andar armado, que ande armado" porque "a Argentina é um país livre".

O presidente Macri, candidato à reeleição, anunciou que quer endurecer as leis de imigração. A oposição peronista que tentará derrotar Macri nas urnas também. O senador Miguel Pichetto, líder do peronismo no Senado e pré-candidato à presidência, defende um endurecimento da lei de imigração.

No calor da vitória de Bolsonaro, Pichetto também disse que é hora de "reconstruir as Forças Armadas argentinas" porque "o país tem uma estrutura militar totalmente desmantelada" e porque "a ditadura já acabou com culpados todos presos".

O autoritarismo pode ganhar força pelo lado do combate à violência. "É possível que, a partir do novo governo brasileiro, em vários países, tentem aplicar políticas rígidas de 'mão dura' em matéria de segurança pública", prevê Rosendo Fraga.

Escudo anti-Bolsonaro para o Mercosul

Os primeiros movimentos do presidente eleito do Brasil indicam uma mudança significativa na prioridade da política externa do país em relação aos países vizinhos. Perde relevância o Mercosul, plataforma de inserção comercial brasileira durante os últimos 27 anos e eixo da integração regional.

O objetivo do governo Bolsonaro de negociar acordos comerciais de forma bilateral com o mundo, quando, por força da União Alfandegária do Mercosul, as negociações só podem ser em bloco, acendeu o alerta entre os países sócios do Brasil, mas também entre os negociadores da União Europeia.

Os negociadores de ambos os blocos ouvidos pela RFI indicaram que o objetivo agora é tentar fechar um acordo político antes da posse de Bolsonaro. Esse compromisso seria o ponto de inflexão, depois do qual as negociações ficam irreversíveis. Poderia haver negociações paralelas à reunião de líderes do G20 aqui em Buenos Aires nos dias 30 de novembro e 1 de dezembro.

Os países entendem que o acordo com a União Europeia impediria que o Mercosul recuasse ao status de Zona de Livre Comércio que também não interessa aos europeus. Assim, o compromisso com a União Europeia poderia ser o escudo anti-Bolsonaro e salvar o Mercosul.

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