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Diante de declarações polêmicas de Trump, eleitores latinos permanecem sem grande mobilização nos EUA

Traficantes de drogas, delinquentes sexuais, “serpentes venenosas”: os latinos são frequentemente alvo do discurso sem freios do presidente norte-americano Donald Trump, sobretudo quando se trata de chamar a atenção de seu eleitorado conservador. Mas, curiosamente, os milhões de americanos de origem hispânica não parecem querer usar as urnas para se vingar: nenhum voto massivo dessa comunidade é esperado para tirar os republicanos do Congresso na próxima terça-feira (3).

Declarações de Trump não mobilizam latinos contra os republicanos
Declarações de Trump não mobilizam latinos contra os republicanos REUTERS/Kevin Lamarque
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De acordo com os analistas, os insultos de Trump não fazem com que os latinos votem pelos democratas – ou contra os republicanos. Eles apenas decidiram não participar das eleições. “Em 2016, vários analistas estimavam que as declarações de Trump contra os imigrantes seria um fator de grande mobilização eleitoral dos latinos”, mas, na verdade, “a participação despencou”, declarou a AFP Mark Lopez, diretor de pesquisas sobre migrações e demografia do Instituto Pew, de Washignton.

Por outro lado, 30% dos eleitores dessa comunidade votaram em Trump há dois anos. No total, 29 milhões de latinos estão inscritos para participar das eleições de meio de mandato, que devem renovar 435 lugares da Câmara de representantes, um terço do Senado, 36 governos e vários cargos locais, como juízes ou xerifes.

Diante do resultado das últimas eleições, os cientistas políticos se mostram mais prudentes dessa vez. “Vamos acompanhar o que vai acontecer nesse ano”, disse Lopez. “Os latinos podem se engajar nas urnas, mas várias pesquisas mostram que a participação não aumentará em relação a 2014”. Durante as últimas eleições de meio de mandato, os eleitores de origem hispânica tiveram uma taxa de participação de 27%, a mais baixa desde 1986, de acordo com o Instituto Pew.

Círculo vicioso

Nesse contexto, forma-se um círculo vicioso: quanto menos os latinos se mobilizam, menos os grandes partidos políticos investem em campanhas com a intenção de atraí-los, com propostas e temas. E quanto menos os grandes partidos se importam, pior se torna a imagem dessa comunidade no país.

Ainda que eles sejam mais inclinados a votar pelos democratas, esse partido não propõe projetos o suficiente para essa classe eleitoral, segundo Christine Marie Sierra, professora emérita de ciências políticas da Universidade do Novo México.

Um estudo da ONG Latino Decisions aponta que 63% dos latinos inscritos em listas eleitorais dizem que vão votar na terça-feira, mas a grande maioria não recebeu nenhuma mensagem dos candidatos. “E entretanto, os eleitores contactados são mais suscetíveis de irem votar”, afirma David Ayon, que participou da pesquisa.

O voto latino é um mistério ainda maior porque faz parte de um mosaico de comunidades diversas, cuja identificação a um ou outro partido não tem necessariamente ligação com a nacionalidade ou a origem. Os Republicanos têm, por exemplo, apoio dos americanos de origem cubana, que se opõem ao regime comunista da ilha, assim como dos veteranos do exército e dos fieis de cultos evangélicos.

Será que os eleitores de origem mexicana do Texas vão votar para o democrata Beto O’Rourke? E na Flórida, onde eles se refugiaram após o furacão Maria, os porto-riquenhos vão se opor aos republicanos? O suspense permanecerá até a próxima terça-feira.

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