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Brasil-América Latina

Brasil quer tirar do Caribe os turistas argentinos que viajarem no verão

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A estratégia brasileira visa compensar a queda no número de turistas argentinos depois da brutal desvalorização do peso. Os argentinos representam 40% de todo o turismo estrangeiro no Brasil.

Ministro do Turismo, Vinicius  Lummertz, em entrevista com a RFI Brasil
Ministro do Turismo, Vinicius Lummertz, em entrevista com a RFI Brasil Ministério do Turismo
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Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

A economia argentina é a mais castigada entre os países emergentes. A moeda argentina vale agora metade do que valia em janeiro. No ano, em relação ao dólar, acumula uma desvalorização de 102%. Comparativamente, a desvalorização do real chega a 16%.

Ficou muito caro para os argentinos viajarem ao exterior. E isso acendeu um preocupante sinal de alerta para o mercado brasileiro de turismo. É que os argentinos são os nossos principais clientes. Representam 40% de todos os estrangeiros que chegam ao Brasil. Gastaram US$ 1, 610 bilhão em 2017.

No ano passado, foram 2,622 milhões de turistas argentinos, 14,4% a mais do que em 2016. Metade visita o Brasil no verão, preferindo o segmento Sol e Praia. Mas como a desvalorização do peso argentino vai afetar o Brasil na próxima temporada?

Em entrevista à RFI, o ministro brasileiro do Turismo, Vinícius Lummertz, explica que o impacto ainda não pode ser medido, mas aposta que o Brasil vai captar aquele turista argentino que iria ao Caribe, mas que agora, para gastar menos, vai viajar para mais perto, para o Brasil.

"Penso que haverá estabilidade. Acho que não há razão para se preocupar. Pelo contrário, não ficaria surpreso se, no volume, nós tivermos crescimento porque o que encareceu foi o dólar, não o real", prevê Lummertz, que, no entanto, admite que possa haver uma queda na quantidade de dias de permanência e no gasto.

Em média, cada turista argentino fica 11 dias no Brasil e gasta, em média, US$ 620. "É possível que a permanência caia um pouco. Talvez também o gasto unitário, mas eu não acredito que o volume de turistas caia", conclui. O ministro acredita no conceito de "elasticidade da demanda": as pessoas podem diminuir o consumo, mas não deixam de consumir.

"Férias está ficando cada vez mais inelástico. As pessoas estão preferindo deixar de trocar o carro, mas não ficam sem viajar. A psicologia mudou", garante. "Então, os argentinos podem deixar de viajar para mais longe, como o Caribe, mas não vão mudar de hábito", analisa.

Embratur monitora o impacto

A desvalorização da moeda argentina também terá consequências na inflação prevista em 42% até o final do ano. Com isso, os preços internos argentinos também vão subir nos próximos meses, descontando parte da vantagem gerada pela desvalorização. Pelo menos é o que pensa a presidente da Embratur, Teté Bezerra. Ela acredita que, até o começo do verão, o Brasil será competitivo para os argentinos.

"A desvalorização cambial aconteceu no Brasil também, mas aqui na Argentina tem o agravante da inflação. Por outro lado, o Caribe, um concorrente muito forte do Brasil, está com os preços muito mais elevados do que o Brasil. Há inclusive, no Brasil, preços mais baratos do que foram oferecidos no verão passado", compara. "Tem-se especulado que o argentino vai preferir fazer o turismo interno a viajar ao Brasil, mas se o argentino comparar, vai ver que isso não compensa", aposta.

Teté Bezerra conta que a Embratur tem avaliado o impacto da desvalorização e traçado estratégias. "O mercado brasileiro não está passivamente aguardando o que vai acontecer. Está se moldando a essa situação econômica argentina. De que maneira? Com ofertas, descontos, pagamento parcelado. Acho que, se todos esses instrumentos funcionarem, não teremos um impacto significativo", confia.

Em agosto, a emissão de turistas argentinos ao exterior caiu 11,9%. Foi o terceiro mês de queda consecutiva (junho -2,9%; julho, -4,6%). O consumo argentino no exterior através de cartões de crédito caiu 28,5%. Além da desvalorização, a recessão econômica faz estragos no bolso do turista argentino. O país deve encolher 2,5% neste ano.

Atraente para os brasileiros

Do outro lado da moeda, a desvalorização do peso torna a Argentina mais barata. O número de turistas estrangeiros tem aumentado desde julho (+6,9% em julho; +7,4% em agosto). E os brasileiros são maioria entre os turistas estrangeiros. Nos aeroportos de Buenos Aires, o aumento de brasileiros foi de 33,7% em agosto, o dobro da quantidade de europeus (17,2%). O número de voos diretos do Brasil a Bariloche aumentou 246%.

"E vai aumentar muito. Durante o período em que houver esse desequilíbrio cambial, vai haver um aumento muito importante. Haverá um grande crescimento de fluxo de brasileiros para cá", prevê o ministro brasileiro do Turismo, Vinícius Lummertz. A Argentina tem aberto o mercado de turismo de forma veloz: cinco novas empresas domésticas low cost, política de preços desregulados nas companhias aéreas e devolução de 21% do imposto do valor acrescido sobre as diárias dos hoteis.

Em Buenos Aires, Teté Bezerra, presidente da Embratur
Em Buenos Aires, Teté Bezerra, presidente da Embratur Embratur

 

Ministro do Turismo, Vinicius Lummertz, em Buenos Aires.
Ministro do Turismo, Vinicius Lummertz, em Buenos Aires. Ministério do Turismo

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