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Brasil/América Latina

Resultado das eleições no Brasil desorienta a Argentina

O governo do presidente Mauricio Macri analisa e pondera, mas não sabe qual candidato brasileiro é melhor (ou menos pior) para apoiar. A Casa Rosada mantém um prudente silêncio e não se identifica plenamente com nenhuma alternativa brasileira.

Partidária de Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro, em 5 de outubro de 2018.
Partidária de Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro, em 5 de outubro de 2018. REUTERS/Sergio Moraes
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Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

A Argentina é o principal parceiro estratégico do Brasil. É a partir da integração com o Mercosul, mais especificamente com a Argentina, que o Brasil se projeta internacionalmente na relação com outros blocos. Mas o que pensa a Casa Rosada do futuro líder do Palácio do Planalto? Por estas horas, impera a desorientação.

"O governo argentino aguarda a definição do segundo turno para continuar trabalhando juntos no objetivo de aprofundar o processo de integração e os projetos comuns que nos unem", manifestou, em nota, o Ministério das Relações Exteriores da Argentina.

O texto revela o objetivo argentino na relação bilateral com o Brasil, mas também permite ver a incerteza que o futuro governo brasileiro representa em matéria de integração.

O governo argentino não se manifesta a favor de um nem de outro candidato porque vê pontos a favor e contra tanto em Fernando Haddad quanto em Jair Bolsonaro em termos de integração e em consequências na política interna argentina.

Incertezas com Bolsonaro

No campo econômico, Bolsonaro se define como um defensor do livre comércio e das relações comerciais sem o viés ideológico. Esse ponto de vista coincide com a visão do presidente Mauricio Macri. O que causa incerteza na Casa Rosada é a posição quanto ao futuro do Mercosul.

Como União Alfandegária, o Mercosul só pode negociar em bloco e requer, para isso, consenso interno. Os quatro membros (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) precisam ter a mesma orientação a cada passo dado pelo bloco. Nas negociações com outros blocos ou países, os quatro membros precisam negociar juntos. É nesse ponto onde começa a desorientação dos vizinhos.

No seu plano de governo, Jair Bolsonaro diz que vai priorizar os acordos bilaterais de comércio sobre os acordos que envolvam blocos econômicos como o Mercosul e a União Europeia. A postura está em sintonia com a estratégia comercial implementada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A estratégia, no entanto, implodiria o Mercosul como União Alfandegária. Se continuasse a existir, o bloco sul-americano recuaria a uma mera zona de livre comércio onde os acordos bilaterais são possíveis, mas não uma integração plena. A Casa Rosada desconfia que Bolsonaro queira minimizar a construção do Mercosul.

"Além de aprofundar nossa integração com todos os irmãos latino-americanos que estejam livres de ditaduras, precisamos redirecionar nosso eixo de parcerias", diz o programa de Bolsonaro.

Custo político

No campo político, uma sintonia entre Mauricio Macri e Jair Bolsonaro é prejudicial para o argentino. A Argentina tem os Direitos Humanos como política de Estado e a sociedade argentina é particularmente sensível a relações políticas com ex-militares, especialmente com aqueles que defendem abertamente a tortura e a morte, algo repudiado com veemência no país. As posturas de Bolsonaro, nesse sentido, causam horror na Argentina. Macri precisará de muito jogo de cintura para posar ao lado de Bolsonaro sem sair queimado internamente.

"Através do voto, você não vai mudar nada neste país. Absolutamente nada. Só vai mudar, infelizmente, quando nós partirmos para uma guerra civil e fizermos um trabalho que o regime militar não fez, matando uns 30 mil", disse Jair Bolsonaro numa das suas polêmicas declarações. Pois a política de Direitos Humanos na Argentina que já levou centenas de militares a condenações perpétuas baseia-se no genocídio e nos crimes de lesa humanidade justamente contra 30 mil mortos no país.

"Custo" Haddad

Já Fernando Haddad seria a garantia de um Mercosul forte como ponto de partida para a integração regional e plataforma da projeção brasileira para o mundo. O problema de Haddad para o governo argentino é que a sua vitória no Brasil alimentaria a oposição de Cristina Kirchner, a polarização de Macri. Além disso, em 2015, Lula fez campanha a favor do candidato derrotado de Cristina Kirchner, Daniel Scioli, algo que o governo argentino não esquece, embora não pense em revidar agora.

O governo argentino indica que o embaixador argentino no Brasil, Carlos Margariños, está abrindo canais de diálogo com Jair Bolsonaro e com Fernando Haddad. O candidato do Partido dos Trabalhadores disse recentemente à imprensa argentina que "é amigo pessoal de Macri" e que "independentemente das divergências ideológicas, temos de unir os nossos países".

Haddad e Macri se conhecem desde que ambos eram prefeitos de São Paulo (2013-2017) e de Buenos Aires (2007-2015), respectivamente. Haddad chegou a ganhar o título de "Cidadão Ilustre" durante a sua visita a Buenos Aires em 2014, quando São Paulo foi a cidade homenageada na Feira do Livro. Macri e Haddad também foram contemporâneos no C40, um grupo que reúne as maiores cidades do mundo na luta contra as alterações climáticas.

Bolsonaro venceu 1° turno na Argentina

Em Buenos Aires, 6.200 brasileiros estavam aptos a votar neste domingo. Pouco mais da metade compareceu (3.199). Bolsonaro ficou com 36,4% dos votos; Haddad, com 25,9% e Ciro Gomes com 19,8%.

 

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