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Venezuela

Países sul-americanos demonstram falta de solidariedade no acolhimento de venezuelanos

Apesar do apelo de ONGs de todo o mundo, inclusive brasileiras, a solidariedade dos países da América do Sul em relação aos imigrantes venezuelanos não é a regra. Fugindo da crise política e econômica, eles tentam escapar para os países vizinhos, que vêm endurecendo as condições para dificultar o acolhimento.

Um grupo de imigrantes venezuelanos na ponte Rumichaca, na fronteira da Colômbia com o Equador.
Um grupo de imigrantes venezuelanos na ponte Rumichaca, na fronteira da Colômbia com o Equador. REUTERS/Luisa Gonzalez/File Photo
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O episódio na cidade de Pacaraima (RR) chamou a atenção do mundo inteiro. Uma manifestação de brasileiros contra venezuelanos que deveria ser pacífica terminou em violência. O acampamento dos imigrantes foi invadido e seus pertences - como roupas e utensílios - foram queimados em plena rua por manifestantes.

Mais de 120 homens da Força Nacional, entre policiais civis e militares, além de agentes de saúde, desembarcam nesta semana na região fronteiriça entre Brasil e Venezuela para reforçar as ações de segurança e atendimento social. Essa foi até agora a resposta do governo federal diante do agravamento da crise dos refugiados venezuelanos na região.

No entanto, essa solução não será suficiente para garantir a segurança dos refugiados, avalia o cientista político Mellilo Diniz. "A crise da Venezuela é gravíssima. Grande parte desses venezuelanos sofre de desnutrição, fome e, acima de tudo, não tem nenhum tipo de horizonte para a situação que estão vivendo. É importante que o governo brasileiro aponte soluções políticas muito mais concretas do que apenas receber os refugiados", diz.

128 mil venezuelanos chegaram ao Brasil desde 2017

De acordo com dados da ONU, cerca de 2,3 milhões de venezuelanos fugiram do país desde o início da crise. Nos últimos 18 meses, 128 mil cidadãos venezuelanos chegaram ao Brasil. A Polícia Federal calcula que 500 imigrantes cruzem diariamente a fronteira da Venezuela com o Brasil.

O governo de Roraima chegou a pedir à justiça que a divisa com a Venezuela fosse fechada, alegando incapacidade de garantir a segurança na região e atender toda a população. Após um juiz federal que atua no estado ter determinado o fechamento da fronteira, a ministra Rosa Weber estabeleceu que o local permanecesse aberto. “A proteção ao refugiado é regra solidamente internalizada no ordenamento jurídico brasileiro”, afimou em sua decisão, ao listar vários tratados de direitos humanos e ajuda aos refugiados dos quais o Brasil é signatário.

Em contrapartida, desde a revolta da população de Pacaraima, os venezuelanos temem por sua segurança. No último fim de semana, 1.200 imigrantes decidiram voltar para a Venezuela com medo das violências no Brasil, sem que verdadeiras medidas sejam tomadas para aliviar a situação degradante.

Caracas fez um apelo para que o Brasil proteja os venezuelanos. O governo federal diz que tem trabalhado para o acolhimento dos imigrantes, a fim de que encontrem refúgio em outras regiões do país e para acelerar a travessia daqueles que têm como destino final outro país. Mas, na prática, os avanços são poucos.

Exigência de passaportes

Outros países fecham o cerco às pessoas que fogem da Venezuela. Peru e Equador, por exemplo, passaram a exigir a apresentação de passaporte aos imigrantes venezuelanos. Antes, apenas a carteira da identidade era suficiente.

A exigência deste documento dificulta mais ainda a situação de milhares de pessoas que viajam vários dias para chegar às fronteiras dos países vizinhos. Além disso, o custo de um passaporte é de cerca de US$ 200 (cerca de R$ 800) e a espera por esse documento pode chegar a até dois anos.

"Sem tramóia não é possível. Para se obter um horário, é preciso pagar muito dinheiro. E eles agora te fazem pagar em dólares. Aí não tem como! Não somos nós que não queremos apresentar nossos documentos, é que não temos como fazer isso", diz uma venezuelana na fronteira entre o Equador e a Colômbia à enviada especial da RFI ao local, Marie-Eve Detof.

Cerca de 600 mil venezuelanos entraram no Equador, através da Colômbia, apenas neste ano. Ao menos 109 mil permaneceram no país. A Colômbia teme que com a nova política equatoriana de imigração, milhares de cidadãos da Venezuela permaneçam em solo colombiano.

Acampamento em plena ponte

A principal ligação entre o Equador e a Colômbia, a ponte Rumichaca, transformou-se em um acampamento de imigrantes, já que venezuelanos sem passaporte não podem mais entrar em território equatoriano. A 2.900 metros de altitude, eles passam a noite sob o frio gélido da Cordilheira dos Andes à espera da solidariedade das autoridades.

"O presidente equatoriano não quer ceder. É terrível o que ele faz conosco. Nossas famílias estão morrendo de fome na Venezuela. Não há medicamentos nos hospitais e nada para comer. Se nosso país estivesse bem, teríamos ficado lá", diz à RFI um imigrante na ponte Rumichaca.

No Peru, autoridades contabilizam a chegada de cerca de 400 mil venezuelanos; 20 mil apenas na última semana. Boa parte deles não consegue trabalho e torna-se vendedor ambulante. Lima teme um aumento do desemprego e da criminalidade no país.

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