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Corrupção/Kirchner

Jornalista argentino conta à RFI como chegou aos "cadernos da corrupção" do casal Kirchner

Oito cadernos escolares com detalhes minuciosos de retiradas e entregas de grandes somas de dinheiro entre 2005 e 2015, durante os governos do falecido Nestor Kirchner e de sua mulher, Cristina, estão na raiz de um escândalo espetacular que sacode a Argentina. As suspeitas respingam em uma empresa ligada à família do atual presidente Maurício Macri. A RFI falou com Diego Cabot, jornalista que denunciou os chamados “cadernos da corrupção”.

Anotações dos "cadernos da corrupção", publicadas pelo jornal argentino La Nacion.
Anotações dos "cadernos da corrupção", publicadas pelo jornal argentino La Nacion. Diario La Nación de Argentina
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Efraín Rodríguez Valdivia

O próprio autor das anotações, o motorista Oscar Centeno, está entre os indiciados. Nesta quinta (2), ele depôs diante do juiz Claudio Bonadío em um caso que corre sob segredo de Justiça. Segundo a Procuradoria, os supostos subornos teriam alcançado cerca de US$ 160 milhões. Até agora, foram realizadas 34 buscas, com apreensão de 14 automóveis, aproximadamente US$ 50 mil em espécie e dispositivos de informática.

Entre os detidos estão Roberto Baratta, ex-secretário de coordenação do ex-ministro do Planejamento Federal, Julio De Vido, preso por suposta corrupção, os empresários Gerardo Ferreyra, da Electroingeniería, Javier Sánchez Caballero, da construtora Iecsa, e Rafael Llorens, ex-secretário legal do Planejamento Federal. A Iecsa pertence a Ángelo Calcaterra, primo do presidente Mauricio Macri.

De próprio punho, Oscar Centeno, ex-motorista de Baratta, relatou com riqueza de detalhes o transporte de sacolas supostamente repletas de milhões de dólares para as residências do casal Kirchner.

As anotações foram obtidas por Diego Cabot, repórter do jornal La Nación, graças a uma fonte. O jornalista conta que, “iniciado apenas como um diário de bordo, com o tempo o motorista se deu conta de que estava buscando dinheiro de empresas contratadas pelo Estado e entregando as quantias em dois ou três locais nas vizinhanças da residência oficial de Los Olivos, onde vivia o casal presidencial, ao apartamento particular dos Kirchner e a um outro carro do gabinete de ministros”.

“As anotações também estabeleceram um registro com nomes de funcionários, relações com o governo e empresas. Horários, datas, modos de entrega do dinheiro, as quantias em espécie, se eram em maletas”, disse o jornalista à RFI. “Fui construindo uma trama que revela a participação do círculo presidencial”, acrescentou.

Jornalista faz acordo com a Justiça

A colossal tarefa de reportagem foi iniciada em janeiro. Diante da gravidade das revelações, Diego Cabot decidiu entregar os cadernos à Justiça, para que uma investigação fiscal paralela fosse realizada. O repórter passou as informações para as autoridades com o acordo de publicar sua matéria quando a Justiça desse seu primeiro golpe contra os suspeitos.

Cabot reuniu material a respeito de aquisições estatais, registros de declarações, datas de normativas oficiais, revisão de notas e reportagens ligadas aos personagens, para entender os relatos dos cadernos e dar forma à história. Quando o dia não bastava, trabalhava madrugadas adentro para confirmar cada dado junto com sua equipe, composta por Candela Ini e Santiago Nasra.

No final, uma pergunta: “estariam diante da maior prova de corrupção contra os Kirchner?”. Por enquanto, Diego Cabot deixa a resposta à Justiça. O que se pode afirmar é a existência de um complexo sistema de entrega de dinheiro, de empresários a políticos e altos funcionários estatais.

(com informações da AFP)

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