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O Mundo Agora

Clima de guerra comercial prejudica países emergentes e em desenvolvimento

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A enxurrada de medidas protecionistas anunciadas por Donald Trump ainda não afetaram diretamente a saúde da economia mundial. E como sempre, os primeiros a sofrer serão os países em desenvolvimento – e particularmente os emergentes. Por enquanto, as barreiras comerciais anunciadas pela Casa Branca ainda não se tornaram realidade.

Alerta sobre impacto de guerra comercial que as medidas protecionistas de Trump terão nos países em desenvolvimento.
Alerta sobre impacto de guerra comercial que as medidas protecionistas de Trump terão nos países em desenvolvimento. REUTERS/Leah Millis
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Mas os atores econômicos já estão reagindo. E os efeitos negativos, em termos de investimento, criação de empresas e emprego vão começar a bater feio nos Estados Unidos.

O ápice do fechamento de indústrias e dos despedimentos vai cair exatamente na época das eleições legislativas de meio-mandato. E o setor mais atingido será a base eleitoral dos Republicanos “trumpistas”: os agricultores do Centro-Oeste e as pequenas cidades rurais que vivem de velhas indústrias enferrujadas. 

Basta só uma pequena parte desses eleitores não comparecer às urnas e Trump pode perfeitamente perder o controle da Câmara e até do Senado. Uma catástrofe para o futuro do seu mandato.
Mas por ora, o lourão da Casa Branca não quer nem saber. Suas ideias são simplórias: a América é a maior potência econômica mundial e portanto, pode utilizar essa supremacia para apertar o crânio de seus parceiros comerciais no resto do mundo.

O objetivo é fechar acordos leoninos em que os Estados Unidos sempre levem vantagem. É uma visão à antiga que quer trazer de volta para o território nacional as indústrias tradicionais – mesmo as que não são competitivas e por isso serão protegidas – e ao mesmo tempo, manter a preeminência americana na economia digital e na tecnologia de ponta. Ele quer ter o bolo e comer o bolo.

Com essa mentalidade de promotor imobiliário barra-pesada só pode haver ganhadores e perdedores. Qualquer forma de cooperação ou interdependência econômica é vista como uma agressão contra os Estados Unidos.

Encontrar nichos

Para os países emergentes e em desenvolvimento é difícil sobreviver nesse ambiente. Todos já chegaram à conclusão que não é mais possível subsistir só exportando matérias-primas. Mas também sabem que não têm condições de crescer só com seus mercados internos ou de competir nas indústrias de ponta.

A única solução é tentar encontrar nichos – industriais ou de serviços – nas grandes cadeias globais de produção. Quanto mais valor agregado, melhor o nicho. E mais chances terão de deslanchar um crescimento sustentável. Mas para isso é preciso muito – muitíssimo – investimento produtivo, que só pode vir do estrangeiro já que pouquíssimos países tem capacidade própria.

Só que o clima de guerra comercial não ajuda. Estados Unidos e Europa representam quase 60% do consumo privado mundial. Com barreiras protegendo esses mercados consumidores gigantes, as cadeias globais simplesmente começam a desandar.

O último relatório da UNCTAD aponta uma queda preocupante dos investimentos internacionais nas cadeias de produção globais. Em 2017, o valor das fusões e aquisições internacionais caiu 22%, enquanto as inversões em novos empreendimentos baixou de 14%.

O golpe é pesado já que o investimento exterior é a maior fonte de dinheiro novo para os países pobres. E não é por acaso que as quedas mais brutais aconteceram na África e na América Latina e Caribe. A razão é simples: o medo das medidas protecionistas entre as grandes potências faz com que as cadeias de valor internacionais estejam brecando, e que as taxas de lucro estejam despencando. Poucos estão a fim de arriscar.

O problema é que as grandes economias industriais podem sofrer, mas têm meios de aguentar o rojão, sobretudo se forem capazes de entrar rapidamente na nova economia digital, robotizada e customizada, menos dependente do comércio internacional de bens.

As outras só terão vez se convencerem os investidores que vale a pena apostar em seus países. Mas isso significa um baita dever de casa interno para melhorar as infraestruturas, a educação, o império da lei, o sistema regulatório, a luta contra a corrupção... – a chamada “competitividade sistêmica”. E nada disso depende de Trump e de suas loucuras.

Alfredo Valladão faz uma crônica de política internacional às segundas-feiras para a RFI      

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