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Mesmo em negociação com o FMI, Argentina continua sob ataque

Após o anúncio do acordo com o Fundo Monetário Internacional, a economia argentina volta a ser castigada pelo mercado. O peso tem nova queda, ao contrário da tendência mundial de recuperação. O presidente Mauricio Macri pede apoio aos principais países sócios do FMI enquanto pressiona, internamente, banqueiros e empresários.

O presidente argentino Mauricio Macri no Palácio Presidencial
O presidente argentino Mauricio Macri no Palácio Presidencial ©REUTERS/Marcos Brindicci
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Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

Na contramão da tendência mundial que, pelo segundo dia consecutivo, foi de recuperação da maioria das moedas perante o dólar, a Argentina foi golpeada em mais um round consecutivo contra o mercado. O peso argentino fechou em 23,80, com queda de 2,45%. Foi necessário que o Banco Central interviesse vendendo reservas internacionais para amenizar a tendência que impunha, até então, uma queda de 6%, com um dólar a 24,70%.

O mercado percebe que a turbulência de uma semana atrás tornou-se crise financeira consolidada. A população percebe a alta do dólar como o termômetro de um governo em crise. A oposição percebe a chance de disputa eleitoral perante um Mauricio Macri que parecia invencível até outubro, depois de ganhar as eleições legislativas de forma histórica.

O presidente Macri usa todo o seu cacife político para conquistar apoios internos e externos. O ministro da Fazenda, Nicolás Dujovne, aterrissou em Buenos Aires, vindo de Washington, depois de reunir-se com a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, e foi direto à residência presidencial de Olivos informar os detalhes ao presidente.

Pressão interna

Mauricio Macri convocou os principais empresários e banqueiros do país para uma reunião de emergência. O chefe de Estado precisa convencer os empresários produtores e formadores de preço a não repassarem a alta do dólar aos preços, uma tendência cultural automática na Argentina. Os economistas refazem os cálculos e já projetam a inflação de 2018, prevista oficialmente em 15%, para mais de 20%.

Nesta semana, o governo conseguiu um acordo com as empresas petrolíferas para congelarem os preços dos combustíveis durante dois meses, até as águas se aquietarem.

Aos banqueiros, Macri tem um pedido urgente: confiar que a crise é uma turbulência passageira para que o equivalente a $ 29 bilhões que vencem na próxima terça-feira em títulos públicos (Lebacs) não se transforme imediatamente na compra de dólares, fazendo disparar a cotação da moeda norte-americana. Dos $ 29 bilhões, apenas $ 1 bilhão está em mãos de particulares sobre os quais o governo não tem nenhum controle, mas poderia usar as reservas do Banco Central para conter a alta do dia.

Pressão externa

Macri também pede aos líderes mundiais, especialmente aos principais sócios do FMI, que manifestem apoio explícito à Argentina. Quer que os elogios colhidos ao longo dos últimos dois anos se transformem em ações concretas. Macri precisa que o FMI acelere as negociações por um acordo que poderia demorar mais de um mês.

Na próxima semana, representantes argentinos irão a Washington para tentar avançar rapidamente com o FMI. Nesta sexta-feira (11), a China anunciou o seu apoio à Argentina nas negociações. Somou-se ao apoio do governo de Donald Trump, para quem a Argentina está no caminho certo da economia. Na lista de Macri, estão ainda os líderes da França, Alemanha e Japão. O governo argentino também pede um apoio dos países do G20 durante a reunião de ministros das Relações Exteriores no próximo dia 21, aqui em Buenos Aires.

No Congresso, o governo sente a fraqueza de não ser maioria. O Peronismo que vinha sem rumo depois da dura derrota em outubro passado passou à estratégia de desgastar o governo com o objetivo de uma vitória nas eleições do ano que vem, quando Macri tentará a sua reeleição que parecia garantida. Uma oposição, antes sem chances, sente agora que a crise financeira pode ser a luz no fim do túnel político.

Os economistas refazem as suas projeções de crescimento econômico de 3 ou 3,5% a 2,5 ou 2%. Dependendo do ajuste que o FMI impuser, o crescimento pode tornar-se recessão. A oposição tenta capitalizar as feridas em Macri enquanto o presidente busca a blindagem da economia que é também a sua chance de sobrevivência política.

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