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Cuba

Mudanças no modelo econômico marcam sucessão em Cuba

Começa nesta quarta-feira (18) a sessão no Congresso para a eleição do sucessor de Raúl Castro ao governo de Cuba. A sessão marcará o início da mudança de geração em Cuba, que não se afasta do "castrismo". De acordo com a Constituição, o Partido Comunista de Cuba (PCC) - do qual Raúl continuará como primeiro secretário até 2021 - é a "força dirigente superior da sociedade".

Raúl Castro e Miguel Diaz-Canel em um debate no Congresso, em julho de 2017.
Raúl Castro e Miguel Diaz-Canel em um debate no Congresso, em julho de 2017. JORGE BELTRAN / AFP
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Pela primeira vez em Cuba, depois de quase 60 anos, o presidente não terá o sobrenome de Castro nem fará parte da geração que fez a revolução. Por enquanto, é o atual número dois do governo, Miguel Díaz-Canel, de 57 anos, o mais cotado para  assumir essa missão.

A entrega do cargo, no entanto, só acontecer no dia 19 de abril, data que marca o 57º aniversário da vitória na Baía dos Porcos. Esta será a primeira vez desde 1976 que uma pessoa sem o sobrenome Castro, e que não é um militar que lutou na Revolução de 1959, ocupará a presidência.

Reformas na economia

Raúl Castro, a dois meses decompletar 87 anos, iniciou reformas para "atualizar" um modelo econômico esgotado, inspirado pelo soviético. Permitiu pequena empresa privada e uma maior abertura do país ao investimento estrangeiro, preservando as "realizações do socialismo".

Os cubanos agora podem se registrar como trabalhadores autônomos, comprar ou vender casas e carros.

Entre as prioridades para o novo governo, está a de acabar com a coexistência de duas moedas: o peso cubano (24 pesos equivalem a 1 dólar) e o peso conversível, o CUC (equivalente a um dólar, usado por turistas e operações internacionais), um sistema único no mundo. A eliminação de taxas de câmbio preferenciais para agências estatais também é planejada, o que distorce a economia.

“O reconhecimento da existência propriedade privada gerou preocupações honestas de membros do Parlamento de que este seria o primeiro passo para a restauração do capitalismo em Cuba. Tenho o dever de assegurar que este não é o propósito desta ideia. O trabalho autônomo e a existência de empresas médias e pequenas não são por sua essência antissocialistas ou antirrevolucionárias”, declarou o presidente Raúl Castro sobre o crescente número de empreendedores no país.

"Perspectivas para o futuro”

O analista cubano Arturo López-Levy, professor da Universidade Texas-Rio Grande Valley, nos Estados Unidos, em entrevista exclusiva à RFI considera que "a nível de cultura politica, se introduziu uma mudança que abre perspectivas para o futuro”.

“Raúl Castro decreta o fim da estigmatização ao mercado e à propriedade privada. Reconheceu como parte do modelo cubano, como parte da economia cubana um componente mercantil e a legitimidade da propriedade privada, algo que nunca ocorreu no governo de Fidel Castro. Esta mudança não é de 180 graus, porque ele segue criticando a concentração de riquezas, mas abre a possibilidade de discutir temas de reformas econômicas com fronteiras de políticas muito mais amplas”, analisa López-Levy.

A eleição do novo Parlamento se deu no dia 11 de março e deste grupo de eleitos sairá o nome do sucessor do presidente Raúl Castro. Os opositores criticam o fato de a eleição presidencial não ser direta. Um grupo de congressistas americanos, liderados pelo republicano Marco Rubio, chegou a pedir ao presidente presidente Donald Trump que não reconheça o sucessor de Castro.

"Acho que tudo vai continuar igual"

"Passou o tempo e devemos dar a oportunidade a essas pessoas que estão ali para ocupar esse posto, e espero que sim, que façam as coisas bem e que estejam dispostos a levar Cuba adiante", assegura Yoendris Alarcón, estudante de 22 anos, na Universidade da Ilha da Juventude (sudoeste de Cuba).

"Tenho confiança no nosso futuro. Acho que, apesar de tudo o que está acontecendo, se vê o resultado das coisas", acrescenta Hayla, que elogia as primeiras reformas empreendidas por Raúl Castro para "atualizar" o modelo econômico cubano, de matiz soviética.

Outros jovens cubanos não hesitam, porém, em tornar públicas suas reservas sobre o mandato de Raúl e as mudanças esperadas.

"Ao passo que vamos, não acho que vá melhorar. Acho que tudo vai continuar igual", adverte Marlon Borrero, de 19 anos, que está cumprindo o serviço militar, obrigatório na ilha.

"Para minha família, a vida é complicada. Aqui, quem não trabalha não vive e, para conseguir um peso (uma das duas moedas locais), você quase tem que fazer mágica", acrescenta esse filho de um funcionário público, que pretende cursar a carreira de Turismo, mas que "vê sua vida mais no exterior do que em Cuba".

"Nos Estados Unidos, porque lá, de alguma maneira, há uma vida melhor. Trabalha-se um pouco mais, mas no fim o sacrifício é satisfatório", acrescenta esse fã de hip-hop.

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