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EUA/Martin Luther King

Desigualdades raciais continuam presentes nos EUA 50 anos depois da morte de Martin Luther King

No dia 4 de abril, o mundo lembra o assassinato de Martin Luther King, um dos maiores ícones mundiais da luta pelos direitos civis e pela igualdade racial. Mas especialistas lembram que a segregação persiste, apesar de algumas evoluções.

Manifestantes protestam contra assassinato de Martin Luther King nos anos 50
Manifestantes protestam contra assassinato de Martin Luther King nos anos 50 © Robert Abbott Sengstacke/Getty Images
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Poucos meses depois do pastor e ativista Martin Luther King subir ao palco para pronunciar o famoso discurso “I Have a Dream”, em 2 de julho de 1964, os EUA publicaram o não menos célebre Civil Right Act, um marco histórico. Com ele, a segregação racial, a discriminação nos prédios públicos, nos empregos e nas escolas se tornaram ilegais no país. Pela sua luta, que incluía o direito ao voto para todos e o acesso dos negros ao mercado de trabalho, King recebeu o Nobel da Paz no mesmo ano.

Em 50 anos, a vida dos negros americanos de fato melhorou? Para muitos especialistas, o racismo ainda está incorporado nas instituições e nas estruturas dos Estados Unidos. Negros vivem menos, moram em bairros mais pobres e têm mais chance de perder o emprego. É o que mostram os dados de diferentes institutos de pequisa americanos. De acordo com o Pew Research, por exemplo, a taxa de desemprego é duas vezes maior entre os negros, e entre 1964 e 2008, a diferença salarial aumentou, apesar dos ganhos médios terem registrado uma alta.

Há também a chamada segregação residencial: de acordo com dados divulgados pelo jornal The Washington Post, 45% das crianças negras viviam em bairros com forte concentração de pobreza. A violência policial também atinge em cheio a categoria: 23% das pessoas assassinadas em 2017 eram negras, o que representa 12,7% da população total americana. Em termos de educação, a situação não é diferente: apenas 23,9% dos afrodescendentes americanos têm um diploma universitário, contra 34,5% dos brancos.

Crise de 2008 atingiu mais negros do que brancos nos EUA

Em entrevista à RFI, a especialista em estudos americanos Audrey Célestine, da universidade de Lille, lembra que outro aspecto importante é o impacto da crise econômica de 2008 na classe média negra americana, que foi “atingida de maneira desproporcional do que os brancos, perdendo suas casas e tendo seu poder aquisitivo reduzido”.

De acordo com a pesquisadora, não se pode, “de maneira simplista”, falar apenas dos progressos em termos de igualdade ocorridos desde a época de Martin Luther King. Para ela, a violência policial é apenas um aspecto, mas há outras questões que impedem os afrodescendentes de terem o mesmo patamar social do que a maior parte dos brancos. Um deles, ressalta, é o acesso ao crédito bancário. “Tendo mais dificuldade em obter um empréstimo, os negros americanos não puderam construir patrimônios imobiliários na mesma proporção dos que os brancos, por exemplo”, ressalta.

Jason Sokol, professor de História da Universidade de New Hampshire, lembra que a vitória de Barack Obama em 2008, que se tornou o primeiro presidente negro do país, representou um avanço. Mas a eleição de Donald Trump, a emergência de movimentos nacionalistas brancos e o ressurgimento do militantismo negro, personificado pelo Black Live Matters, são reveladoras de uma tensão racial que nunca deixou de existir. De acordo com Sokol, que também publicou um livro sobre o legado de King, "The Heavens Might Crack", as desigualdades persistem especialmente em torno da “pobreza negra, da taxa de encarceramento e da brutalidade policial."

Henry Louis Taylor Jr, professor da Universidade de Búfalo, destaca que, no momento de sua morte, King “imaginava que outro mundo era possível, fundamentando-se na justiça econômica, política e racial, coisas relacionadas com a educação de qualidade, a moradia decente, bons trabalhos", explica. "Realmente não progredimos muito nos últimos 50 anos na realização de seu sonho", defende. "Embora tenha havido mudanças nas atitudes raciais individuais, o racismo incorporado nas instituições e nas estruturas dos Estados Unidos não mudou muito", completa. Ao que parece, 50 anos depois do seu assassinato, o sonho do ativista ainda está longe de ser conquistado.

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