Acessar o conteúdo principal
Brasil-América Latina

Conheça a argentina que faz sucesso no berço do samba carioca

Publicado em:

Ale Maria é uma das vozes mais promissoras da nova geração do samba de raiz carioca e desbrava com sucesso um caminho inédito para uma estrangeira.

Ale Maria cantora de samba na Argentina
Ale Maria cantora de samba na Argentina M. Resende
Publicidade

Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

Se você chegar a uma roda de samba e encontrar uma loirinha com pinta de surfista no palco, não se surpreenda: ela não errou de praia. Ela é simplesmente Ale Maria, uma das vozes mais promissoras da nova geração do samba. A surpresa será ainda maior quando você descobrir que essa cantora e compositora do melhor samba de raiz carioca é argentina.

"Se você chegar e me encontrar/ No samba, eu lhe peço um favor/ Respeite o insano/ Sagrado e profano/ Que foi nosso amor", entoa Ale Maria durante a entrevista a RFI. O samba "Se a fila andar", de Toninho Geraes, poderia ser o reflexo dessa relação de amor dela com essa cultura popular carioca.

María Alejandra Fernández (32 anos), tornou-se Ale Maria quando, há um ano, trocou Buenos Aires pelo Rio de Janeiro em busca do sonho de cantar no berço do samba. A paixão pelo ritmo começou há 15 anos em terra portenha.

No começo, Ale Maria achava que a sua vocação era só sambar. Nasceu em Buenos Aires, mas cresceu em Mercedes, na província de Corrientes que faz fronteira com o Rio Grande Sul. Pela proximidade com o Brasil, a cidade tem Carnaval com samba-enredo e ela morria de vontade de desfilar. De volta a Buenos Aires, começou como passista.

"Eu pensei que a minha história dentro do samba fosse dançando porque eu gostava muito de dançar. Não me imaginava cantando, até que eu conheci o samba. Aí falei: "Ah! Isso está muito bacana. Eu vou cantar samba", recorda.

E começou a cantar em rodas de samba de Buenos Aires, mas com a cabeça no que estava acontecendo no no Rio de Janeiro, para aonde passou a viajar sempre que podia. Assim, foi ampliando as amizades com cantores, músicos e compositores.

"Comecei a cantar samba na cara-de-pau. Gostava muito das melodias em português. Depois quis entender o que as letras diziam e comecei a pesquisar. Também tive aulas de canto. Fui cantando cada vez melhor, com mais sentimento. E assim fui crescendo como artista de samba", descreve.

O desafio carioca

Há um ano, estava procurando trabalho em Buenos Aires, tomou a decisão mais ousada: trocar de país, de língua e partir para vencer no Rio de Janeiro, onde só os grandes têm espaço.

Um amigo sambista lhe abriu algumas portas e, em menos de um ano, Ale Maria conseguiu o que poucos sambistas cariocas conseguiram. Ela ganhou protagonismo nas mais exigentes rodas de samba, da Lapa ao subúrbio.

"Todo mundo na Argentina me pergunta se eu moro perto da praia. Respondo que quero morar perto da Central (Estação Central do Brasil) para poder pegar os trens para ir a todas as rodas de samba na Lapa, no Estácio, na Tijuca, em Vila Isabel, em Jacarepaguá, em Madureira, em Osvaldo Cruz, em Irajá, em Vila da Penha, na Abolição... Frequento todas. Dentro do samba, eu criei uma família muito legal no Rio de Janeiro, tanto que eu até esqueço que sou argentina", orgulha-se.

Ale conheceu ou cantou com os maiores nomes do cenário carioca. Até um ano atrás, ela acompanhava esses artistas de longe, como fã pela Internet.

"Eu sempre assistia na minha casa, na Argentina, os vídeos no Youtube de Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, Jorge Aragão, Toninho Geraes, Xande de Pilares, Beth Carvalho, Sombrinha, Fundo de Quintal e Almir Guineto. Todas as pessoas que, para mim, eram mestres. E eu estive na hora certa, no lugar certo. Todos os dias eu só agradeço. Não peço nada", descreve essa portenha no seu sonho encantado do samba.

"Cada dia canta melhor"

Em 2016, quando cantava no "Cacique de Ramos", conheceu Toninho Geraes. O compositor ficou deslumbrado com a paixão e com o respeito da argentina pelo samba. Da amizade com o cantor e compositor, vieram apresentações em dueto. Das apresentações, o romance. Da parceria na vida, composições. Da dedicação constante ao samba, o reconhecimento do público.

"E eu estou percebendo essa mudança no público. O público está-me dizendo 'olha, você está cantando muito bem! Parabéns!'. Já não é mais aquela coisa "Ah, ela é a argentina que canta samba. Parabéns!', como se diz a uma criança", compara. "O meu objetivo mais próximo é continuar a ser feliz, fazendo o que eu gosto", sintetiza.

Neste ano, Ale Maria vai lançar o seu primeiro EP (Extended Play) com composições próprias e de parceiros. Destaque para o samba "Paixão é Maré" (Toninho Geraes e Chico Alves) com uma daquelas melodias envolventes de outrora, cujo refrão fica ecoando na cabeça durante o dia. E o lançamento a trará de volta à Argentina, mas agora em turnê profissional.

Ao se referirem ao máximo expoente do Tango, Carlos Gardel, os argentinos dizem que "A cada dia, canta melhor". A classificação poderia ser aplicada agora a Ale Maria pelo público carioca que a vê evoluir diariamente no ambiente do samba.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.