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Linha Direta

Gafes e desdém com América Latina marcam 1º ano de governo Trump

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O governo Donald Trump completa um ano neste sábado (20). Foram 365 dias de muito barulho, com mudanças radicais em relação à Era Obama, tanto nos rumos da política nacional americana quanto nas relações exteriores de Washington.

365 dias conturbados marcam um ano da posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos.
365 dias conturbados marcam um ano da posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos. REUTERS/Kevin Lamarque
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Eduardo Graça, correspondente da RFI Brasil em Nova York

Na estreia do primeiro governo republicano em oito anos, a maioria parlamentar nas duas casas do Congresso não foi suficiente para Trump conseguir avançar como gostaria na sua agenda. O ano foi marcado pela falta de experiência do empresário que jamais exercera qualquer cargo político anteriormente, por intrigas que jogaram membros do círculo próximo do presidente uns contra os outros e muitas demissões no primeiro escalão do governo. Sem contar a sombra das investigações, comandadas pelo Congresso, pelo Judiciário e pelo FBI, sobre a possível ligação entre a vitoriosa campanha presidencial republicana e os hackers russos que invadiram os computadores do Partido Democrata e influenciaram decisivamente no pleito de 2016.

Em alguns momentos, como na tentativa frustrada de derrubar o Obamacare, a reforma do sistema de saúde americano, marca do governo anterior, parecia até que Trump não tinha maioria na Casa dos Representantes e no Senado. Faltou habilidade e jogo de cintura para o presidente que dizia ser um especialista imbatível nas mesas de negociação.

Ainda assim, Trump conseguiu aprovar seu indicado para a Suprema Corte, um juiz conservador e inexperiente do Colorado. No legislativo, sua principal vitória foi a aprovação de uma reforma fiscal que inclui a redução de 35% para 21% nos impostos cobrados de empresas, com uma elevação estimada do déficit do país, nos próximos dez anos, na casa dos R$ 5 trilhões. Os republicanos, no entanto, apostam que o incentivo à economia, com crescimento anual acima dos atuais 3%, compensará o aumento da dívida. Em outra promessa de campanha cumprida, mas muito criticada dentro e fora dos EUA, o republicano conseguiu retirar Washington do Acordo do Clima.
 

Popularidade despencou

As conquistas, no entanto, não o ajudaram em nada nas pesquisas de opinião: Trump bate recordes de impopularidade. Hoje, 39% dos americanos se dizem satisfeitos com seu governo, algo jamais registrado no fim do primeiro ano de uma nova administração na Casa Branca desde o início das pesquisas do gênero. Nos momentos mais difíceis para sua administração, como durante as dez demissões de primeiro escalão, sua reação desastrada frente a ataques da extrema-direita - como a que gerou a morte de uma cidadã na Virgínia -, apenas 35% dos americanos diziam apoiar o novo governo. São números preocupantes para os governistas, já que há eleição de meio-termo este ano, com a renovação de toda a Câmara dos Representantes e de boa parte do Senado.

Se as eleições fossem hoje, de acordo com as pesquisas, os democratas teriam grande chance de recuperar a maioria pelo menos na Câmara Baixa do legislativo, o que seria uma enorme dor de cabeça para um presidente que vê a sombra do impeachment se aproximar, ainda que lentamente, cada vez mais da Casa Branca.

Na política externa, isolamento

Quanto à interação da maior potência do planeta com o resto do mundo, foi um desastre completo. Trump rompeu acordos, isolou os EUA, se estranhou com os aliados europeus, diminuiu a importância do país no tabuleiro da geopolítica e deixou a América Latina de lado. O mais grave foi o perigo real de uma guerra nuclear, depois de suas investidas desastradas em relação à Coreia do Norte, ameaçando invadir a península. No Oriente Médio, ele praticamente sepultou as já difíceis possibilidades de um acordo entre Israel e Autoridade Palestina, ao transferir a embaixada americana de Tel-Aviv para Jerusalém, uma cidade considerada sagrada por judeus, cristãos e muçulmanos.

O secretário de Estado Rex Tillerson, um executivo do setor de petróleo sem experiência anterior na área, tentou, sem sucesso, uma aproximação com a China e com a Rússia, mas o que se vê é a total ausência de estratégia para a área. Não há uma Doutrina Trump e a diplomacia inexiste.

Quanto à América Latina, Trump tratou da região a partir da perspectiva da imigração, com o projeto do muro na fronteira com o México, o fim da reaproximação com Cuba e a ameaça - claramente recebida com narizes torcidos pelos líder sul-americanos - de sanções e intervenção armada na Venezuela. Também iniciou uma revisão do Nafta, o que pode ser um desastre comercial para o México, e terminou com programas voltados para a isenção de visto para imigrantes do Haiti, El Salvador e Honduras, chamados, juntamente com os países africanos, de “países de merda” pelo presidente - de acordo com relatos de políticos presentes a uma reunião fechada em Washington.

Pode-se até não gostar do estilo Trump, mas não há dúvidas de que ele o imprimiu muito claramente nestes primeiros 365 dias de governo.
 

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