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México/violência

México: 2017 pode ser o ano mais violento da história, diz relatório

Com um assassinato a cada 18 minutos, os mexicanos assistem ao recrudescimento da violência, que pode fazer com que 2017 entre para a história como o ano mais violento do país. Entre as várias explicações para esse aumento está a disputa pela liderança no tráfico de drogas, que se espalhou pelo país desde a prisão do traficante Joaquín Guzmán Loera, conhecido como El Chapo, em abril de 2016.

México é palco frequente de crimes ligados ao tráfico de drogas
México é palco frequente de crimes ligados ao tráfico de drogas REUTERS/Jesus Bustamante
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Gustavo Poloni, correspondente da RFI na Cidade do México

O país vê esse aumento na violência, com uma mistura de preocupação e medo. De acordo com o mais recente relatório do Observatório Nacional Cidadão, uma organização mexicana que todos os meses mede os principais indicadores de violência no país, apenas dois crimes registraram diminuição nos últimos meses: homicídio culposo e roubo a pedestres.

Todos os demais (homicídio doloso, sequestro, roubo com violência, roubo de carro, assalto a residências e negócios, estupro e extorsão) aumentaram pelo menos 5% em 2017. Entre eles, o que mais preocupa é o número de assassinatos. No México, uma pessoa é morta, em média, a cada 18 minutos. Se a taxa registrada nos oito primeiros meses de 2017 se mantiver até o final do ano, serão quase 28 mil mexicanos assassinados, a maior nos últimos seis anos e um recorde na história do país.

Para ficar ainda mais claro o aumento vertiginoso no número de assassinatos, queria fazer uma comparação. Em junho de 2014, em média 47 pessoas eram mortas em um dia no país. Neste ano, essa cifra pulou para 85 assassinatos ao dia. É quase o dobro. O aumento fez com que o Instituto Internacional para Estudos Estratégicos, um órgão de pesquisa britânico, colocasse o México na terceira posição na lista dos países mais perigosos do mundo, atrás apenas da Síria e do Iraque.

Grave desigualdade social

Muitos fatores explicam o alto número de assassinatos no México. O principal deles é a grave desigualdade social, muito parecida com a que existe no Brasil. É a origem de muitos dos problemas atuais. Existe outra questão: a política, com eleição de novos governadores e prefeitos. Ao entrar um novo governo, os pactos que existiam entre autoridades e criminosos são quebrados, e os bandidos se tornam mais violentos para renovar ou melhorar os acordos que já existiam.

Mas, segundo os especialistas, o recrudescimento da violência, que teve início em abril do ano passado, coincide com o período em que as autoridades locais prenderam e extraditaram para os Estados Unidos o traficante Joaquín Guzmán Loera, conhecido como El Chapo. Ele era o líder do Cartel de Sinaloa, considerado o maior do mundo, responsável pela movimentação de dezenas de bilhões de dólares ao ano com o tráfico de drogas.

Se a prisão de um grande traficante é boa por um lado, por outro ela deixa um vazio a ser preenchido por grupos criminosos, que vêm na captura de El Chapo uma chance de ampliar seus negócios. Foi exatamente o que aconteceu no México. Hoje, diversas organizações criminosas disputam não só a liderança do Cartel de Sinaloa, mas também pontos de comércio de drogas e rotas de exportação, principalmente para os Estados Unidos. O resultado é uma guerra sangrenta que espalha medo por todo o país.

Violência se espalha por todo o país

É curioso notar que, alguns anos atrás, a guerra pelo controle do tráfico de drogas estava restrita a estados como Sinaloa e Guerrero. Mas, de uns tempos para cá, ela se espalhou para todos os cantos do país: da capital até conhecidos pontos turísticos, que eram considerados livres do problema. Tome como exemplo o estado de Quintana Roo, onde fica Cancún, um dos destinos mais conhecidos pelos brasileiros. Até bem pouco tempo, era possível viajar tranquilamente de carro à noite pelas estradas da região – uma prática que sempre foi considerada arriscada em outros lugares do México.

Hoje, é preciso mais cuidado. De janeiro a julho, 75 pessoas foram sido assassinadas no estado, conhecido pelo azul turquesa da água do mar. Outro ponto turístico bastante conhecido do país também sofre com a violência: Los Cabos. Localizado ao sul do estado de Baja California Sur, Los Cabos atrai todos os anos milhões de turistas que buscam suas praias paradisíacas para passear de barco e nadar com baleias.

O número exato de mortos não foi divulgado, mas as autoridades afirmam que os assassinatos triplicaram do ano passado para cá. O medo é que, com a violência, esses famosos destinos turísticos tenham o mesmo destino de outra cidade muito conhecida do México: Acapulco.

A praia, uma baía linda que já foi uma das mais turísticas do país, hoje encabeça uma lista bem menos glamorosa: é considerada a terceira cidade mais violenta do mundo. Fica no meio do fogo cruzado, como acontece com frequência nas favelas no Rio de Janeiro, que, com a falência do estado e o fim das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), também assistem ao aumento da violência causada pela guerra das quadrilhas de traficantes de drogas.

Em julho, uma grande operação policial transformou um bairro na zona sul da Cidade do México em um verdadeiro campo de batalha. Os policiais estavam atrás de Felipe de Jesús Pérez Luna, conhecido como El Ojos, chefe do chamado Cartel de Tláhuac, que fornece drogas para a região e para os alunos da maior universidade da cidade, a UNAM. O resultado? Ruas bloqueadas por narcotraficantes, carros incendiados por todos os lados e oito mortos – incluindo o próprio El Ojos.

Tráfico de drogas

É bem verdade que a maioria dos assassinatos está ligada ao tráfico de drogas, mas às vezes ela atinge pessoas inocentes. Em setembro, o cineasta Carlos Muñoz Portal, de 37 anos, pegou seu carro para viajar pelo Estado do México e tirar fotografias da região. Segundo amigos, ele estudava locações para a gravação da nova temporada de Narcos, a séria da Netflix que conta a história dos principais carteis de drogas do mundo e que, em 2018, na sua quarta temporada, chega ao México para retratar o Cartel de Sinaloa, de El Chapo.

Em um desses casos onde a vida imita a arte, seu corpo foi encontrado cravejado de balas algumas horas mais tarde, dentro do carro abandonado numa estrada de terra no município de Temascalapa. A polícia ainda não sabe o que aconteceu e investiga o caso.

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