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Linha Direta

Críticas de Trump a atletas visava desviar atenção de fracasso em revogar Obamacare

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, manteve viva nesta segunda-feira (25) a polêmica com os jogadores de futebol americano e sua "falta de respeito" ao se ajoelharem durante o hino nacional antes dos jogos. Essa nova frente de conflito visava desviar a atenção para o fracasso da revogação do Obamacare, mas o tiro saiu pela culatra. Os protestos dos jogadores, iniciados no último final de semana, podem agora atingir outros esportes, como o basquete e o beisebol.

Protestos em frente a Trump Tower em Nova York em apoio aos jogadores de futebol americanos criticados por Donald Trump
Protestos em frente a Trump Tower em Nova York em apoio aos jogadores de futebol americanos criticados por Donald Trump REUTERS/Stephanie Keith
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Eduardo Graça, correspondente da RFI em Nova York

Donald Trump criou mais uma confusão de proporções gigantescas e, desta vez, com o pessoal dos esportes. Em um comício no Alabama, na sexta-feira (22), o presidente dos EUA usou termos de baixo calão para criticar os jogadores de futebol americano que se ajoelham no tradicional momento em que se toca o hino nacional, antes dos jogos. O gesto é um protesto contra a maneira como a polícia trata cidadãos negros e começou a se tornar comum no ano passado, especialmente entre os atletas com ascendência afro-americana. As declarações infelizes de Trump uniram jogadores de todas as etnias, donos de clubes e torcedores em um final de semana de protesto contra o republicano nos estádios do país.

O que acontece neste momento nos EUA é o exemplo daquela expressão “o tiro saiu pela culatra”. Trump cometeu um “sincericídio” ao fazer uma crítica sarcástica, bem ao seu estilo, desta vez com direito até a palavrões, aos jogadores de futebol americano ativistas, durante o discurso no Alabama, em meio a uma eleição especial para o senado. Trata–se de um estado ultraconservador, e a plateia era igualmente direitista, mas se ele fez sucesso com sua base, foi um desastre completo na chamada América Profunda, inclusive entre muitos eleitores declarados do republicano.

Para estrategistas da Casa Branca era importante Trump criar um fato que desviasse as atenções dos americanos de outra derrota legislativa da atual administração, que tentou, uma vez mais, sem sucesso, derrubar o programa de reforma da saúde do governo Obama, o Obamacare. Na segunda-feira, o governo não conseguiu votos suficientes entre os próprios republicanos para aprovar o projeto defendido por Trump. Três senadores do partido no poder se posicionaram contra o plano.

Só que o presidente exagerou no tom, foi acusado de ser um fator de divisão e não de união do país e acabou recebendo críticas até dos bilionários cartolas e donos dos times de futebol, boa parte deles doadores importantes das campanhas republicanas.

Apoio de Tom Brady, marido de Giselle Bundchen

O futebol americano, que tem laços fortes com os militares e é o esporte preferido da chamada América Profunda, é conhecido por seu conservadorismo. O cálculo da Casa Branca era que Trump estava pisando em um terreno amigo ao criticar os protestos como anti-patrióticos. Mas o problema é que o presidente acabou caindo na armadilha de interferir em uma área que não lhe diz respeito, e os americanos são ciosos de suas liberdades individuais.

Bruce Maxwell é o primeiro atleta da MLB a ajoelhar durante hino.
Bruce Maxwell é o primeiro atleta da MLB a ajoelhar durante hino. REUTERS/Stephen Lam

Até a fala do presidente na sexta-feira, a percepção era a de que apenas jogadores mais radicais estavam usando símbolos nacionais - como o hino e a bandeira - para protestos sociais e políticos. Agora a maré virou e até mesmo atletas mais conservadores, como Tom Brady, o marido de Giselle Bundchen, que declarou seu voto a Trump no ano passado, encontraram maneiras de apoiar o protesto dos jogadores no domingo. País afora, jogadores e cartolas repetiram o gesto de se ajoelhar ou de se darem as mãos no momento do hino e três times simplesmente permaneceram no vestiário até o fim da cerimônia inicial.

Mesmo assim o presidente Trump não voltou atrás e usou as redes sociais para pedir aos fãs que boicotem os jogos até os protestos pararem. Imaginem a reação dos donos dos times, que já vêm sofrendo com a diminuição da audiência nos jogos. De acordo com seus críticos, o presidente está é alimentando perigosamente mais tensão racial e social em um país já tão radicalizado.

Outros esportes

A Nascar, do automobilismo, e a liga nacional de hóquei, temerosas da reação de seus esportistas, se apressaram em proibir qualquer tipo de protesto. Mas Trump já se encrencou com a poderosa NBA, a liga mais importante de basquetebol do planeta, ao desconvidar para visitar a Casa Branca, como é de praxe, os campeões do Golden State Warriors. Ele tomou essa decisão depois que o atleta Stephen Curry afirmou que não tem vontade de se encontrar com o presidente.

Nomes de peso, como LeBron James, saíram em defesa do colega dizendo que “ir à Casa Branca, independentemente do partido político, sempre foi uma honra para os atletas, até a eleição de Trump”. LeBron também usou uma gíria para dizer que o presidente é algo assim como um indolente, para não dizer algo mais chulo.

Uma situação jamais vista nos EUA na relação entre presidente e atletas, nem na época em que os Pantera Negra protestaram contra o governo Nixon, na virada dos anos 1960 para os 70. Para a opinião pública, o que fica é a imagem de um líder interessado em alimentar guerras culturais e não em buscar consenso entre os cidadãos americanos, mesmo em searas aparentemente neutras como as competições esportivas.

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