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Brasil-América Latina

Turismo canábico para brasileiros faz sucesso no Uruguai

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A maconha uruguaia legalizada e de alta qualidade só pode ser vendida ou cultivada por cidadãos radicados no Uruguai. Está vetada aos turistas justamente para evitar o chamado "turismo canábico". Mas como os brasileiros fumam se os estrangeiros não podem comprar? O segredo não é vender, mas compartilhar.

O gaúcho Henrique Reichert, radicado há três anos no Uruguai, criou opções para os brasileiros que quiserem provar a maconha legalmente.
O gaúcho Henrique Reichert, radicado há três anos no Uruguai, criou opções para os brasileiros que quiserem provar a maconha legalmente. Márcio Resende/ Divulgação
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Márcio Resende, correspondente da RFI na Argentina

"Turistas não podem comprar, mas podem fumar", sintetiza o gaúcho Henrique Reichert, de 30 anos, radicado há três anos no Uruguai. Ele criou opções para os brasileiros que quiserem provar legalmente a maconha. Montou um tour temático onde se compartilha maconha com os turistas.

"Fazemos tudo dentro da lei e sem risco para quem quiser experimentar sem precisar recorrer ao tráfico sob risco de ser assaltado", garante. "Durante todos os roteiros, eu fumo. É justo que as pessoas que estiverem comigo, fumem comigo. Baseado é justamente feito para isso: para compartilhar experiências", conta. "O mais legal é que, nos lugares que a gente frequenta aqui, o pessoal gosta de brasileiros. São cultivadores que querem que você prove a maconha deles, que eles cultivaram com orgulho. Querem um parecer e acabam oferecendo. Isso surge ao naturalmente", acrescenta.

O roteiro visita os lugares emblemáticos relacionados com a inédita lei no mundo, aprovada em dezembro de 2013, através da qual o Estado controla desde a produção até a comercialização, passando pela distribuição da maconha recreativa. "Fiz um roteiro para os turistas conhecerem lugares emblemáticos da lei. Passamos pelo Palácio Legislativo, pelo órgão que regula a atividade, mas também por uma grow shop e vemos todos os processos da planta, dos nutrientes aos produtos finais junto a cultivadores", descreve. "Acabamos num jantar harmonizado, mas sem psicoativo porque as pessoas já chegam chapadas do dia", brinca.

"A primeira coisa que os turistas brasileiros perguntam é onde comprar. Isso é bem complicado. Sabemos que quem tem boca vai chegar a uma boca [de fumo], mas isso foge do ensejo da legalização", diferencia Henrique.

"Eu, a maconha e uma câmera"

Henrique Reichert se dedica às atividades relacionadas com a maconha. Criou o projeto "Eu, a maconha e uma câmera" e se tornou a referência na internet sobre o assunto para os brasileiros. Tem cerca de dois milhões de visitas mensais no conjunto das redes sociais. "Eu fumo 24 horas por dia", brinca. "Hoje eu vivo financeiramente da maconha", reitera. 

Henrique transformou o seu próprio apartamento num Airbnb canábico. "Tenho dois quartos que alugo nessa modalidade. Em cada um, tenho plantas. No meu apartamento, tenho o meu próprio cultivo em andamento. Ofereço do meu baseado porque isso não é proibido. Fumamos juntos. As pessoas têm acesso livre ao cultivo", explica. De quebra, o visitante ainda recebe aulas sobre as espécies e sobre como cultivar. "Dou algumas dicas. Ensino a galera a plantar, explico as espécies e como funciona a lei uruguaia", conta.

Clube de brasileiros

Como a legalização da maconha gerou um "boom" de brasileiros interessados em morar no Uruguai, Henrique já está perto de abrir o primeiro clube canábico só para brasileiros. "Será um clube para brasileiros radicados no Uruguai. Pessoas que também estavam cansadas da política de repressão à maconha de lá. Um clube restrito a brasileiros. Já estamos com meio caminho andado, funcionando quase", indica.

Para quem tem documento uruguaio, existem três formas de acesso à maconha: ou cultivo individual próprio (até seis plantas) ou os clubes canábicos (até 45 sócios e 99 plantas) ou, a terceira modalidade inaugurada em julho passado, a venda nas farmácias (máximo de 40 gramas mensais).

Em setembro de 2014, Henrique Reichert trancou a faculdade de pedagogia em Novo Hamburgo (RS), fechou a sua produtora cultural e deixou a família para viver a legalização da maconha. "Vim de férias ao Uruguai por uma semana com um amigo. Também vim com a ideia de sondar para talvez morar aqui. Já era um entusiasta da maconha no Brasil", conta. "Quando voltei ao Brasil, só deu tempo mesmo de vender o meu carro, os meus móveis. Em 20 dias, eu já estava aqui de volta definitivamente", relembra.

Contra a maconha

O entusiasmo de Henrique pela maconha, no entanto, é relativamente recente: tem apenas cinco anos. "Fui contra a maconha durante 25 anos da minha vida. Os argumentos que eu usava são os mesmos contra os quais eu hoje luto: que mata, que faz perder a família, que faz vender as coisas para comprar drogas, que é a porta de entrada para outras drogas", recorda. "Inclusive terminei com uma namorada porque ela fumava e eu não gostava. Incomodava-me muito mesmo", admite.

Com o tempo, os relatos ao redor, a curiosidade e o estudo do tema o levaram a uma transformação radical. Mas e a ex- namorada? "Se a minha ex-namorada me vir, vai pensar 'que babaca'. Eu realmente me senti um idiota. Terminei com ela porque eu aceitei uma mentira a vida inteira", lamenta.
 

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