A semana que começa hoje será especialmente complicada nos Estados Unidos (EUA). Amargando recordes negativos de popularidade, Donald Trump passou o fim de semana no Texas e na Louisiana, confortando vítimas da tempestade tropical Harvey. O tabuleiro geopolítico internacional também se complicou no domingo com o anúncio, pela Coreia do Norte, do sucesso de um teste de uma bomba de hidrogênio, segundo Pyongyang.
Eduardo Graça, correspondente da RFI em Nova York
Depois da passagem da tempestade Harvey, Houston segue debaixo d’água e a polícia continua ajudando no resgate de cidadãos ilhados e o número de mortos confirmado já chega a 47 pessoas. O presidente passou o fim de semana no sudoeste do país ensaiando uma aproximação com a população e apostando em uma virada em seus índices de popularidade.
Muito criticado por não ter visitado vítimas em sua primeira viagem à região, na terça-feira, Trump, no fim de semana, deu prioridade ao encontro com os moradores da quarta maior cidade do país, servindo quentinhas, beijando crianças e, para além do simbolismo, prometendo defender a aprovação urgente pelo Congresso da extensão do limite da dívida pública para incluir um pacote de ajuda ao Texas e à Louisiana de US$ 7,9 bilhões.
A viagem dos Trump só não recebeu uma resposta mais positiva da opinião pública porque, por um lado, líderes conservadores contrariam o presidente e anunciaram combate a qualquer aumento de gastos do governo, mesmo frente a um desastre das proporções do Harvey. E, por outro, porque cientistas e a oposição batem na tecla de que é preciso se estudar mais profundamente as conexões entre a maior tempestade tropical jamais registrada na história do Texas e o aquecimento global, cuja existência é simplesmente negada pelo governo atual.
Congresso deve aprovar reforma fiscal
Esta seria a primeira vitória de Trump no Capitólio em mais de sete meses de governo.O objetivo do pacote fiscal é o corte de impostos para os mais ricos e as grandes empresas para estimular o crescimento econômico e gerar mais empregos no país.
O problema é que estudos independentes mostram que todas as vezes em que este modelo foi adotado por Washington, a partir da revolução conservadora de Ronald Reagan nos anos 1980, o grosso do abono foi parar no bolso de altos executivos, em eventuais pacotes de demissões de funcionários em postos de chefia e para se resolver pendengas judiciais das grandes corporações, e não em investimento no setor produtivo.
Alardeado pelo presidente como o "maior corte de impostos da história dos EUA", a reforma fiscal de Trump reduz de 35% para 15% os impostos federais das empresas, o que, de acordo com economistas, pode ter um efeito danoso para o déficit público do país. Entre outubro de 2016 e março deste ano, este número ultrapassou US$ 526 milhões de dólares.
Os democratas classificaram o plano de irresponsável e avisaram que só aceitam sentar à mesa de negociações se for incluído algum tipo de alívio direto para os contribuintes de classe média e mais pobres. Ou seja, Trump precisará de um Partido Republicano unido para não repetir fracassos anteriores, como o da reforma da saúde.
Reação de Trump ao teste nuclear norte-coreano é criticada
O presidente americano primeiro soltou bravatas e depois, usando redes sociais, desancou aliados importantes na região, como a Coreia do Sul, culpando Seul pelo agravamento da situação por não oferecer uma resistência mais dura aos vizinhos do norte. Neste domingo, o secretário de Defesa, Jim Mattis, afirmou que qualquer ameaça de Pyongyang aos EUA e aliados gerará “massiva resposta militar”.
A situação militar, entretanto, parece ser muito mais complicada do que a atual diplomacia americana parece ser capaz de lidar, com a Coreia do Sul querendo evitar a qualquer custo perdas humanas e destruição nos dois lados da península, o Japão se movendo na direção de jogar por terra a Constituição pacifista estabelecida depois da Segunda Guerra Mundial e a China buscando evitar a qualquer custo uma eventual reunificação coreana sob a tutela de Seul.
A comunidade internacional, por sua vez, está de prontidão. Uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU foi anunciada nesta segunda-feira e a Assembleia-Geral da ONU, que acontece em duas semanas aqui em Nova York, será dominada pela necessidade de se conter a ameaça crescente que a Coreia do Norte está se tornando para a segurança mundial, e especialmente de seus vizinhos Coreia do Sul e Japão.
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