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Linha Direta

Trump elogia ícone da extrema-direita em meio a tragédia no Texas

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Nunca se viu tanta água em Houston, a quarta maior área urbana dos EUA, com mais de 6,6 milhões de habitantes, destruída de forma avassaladora desde sexta-feira pela tempestade tropical Harvey. Até o fim da noite de segunda-feira (28), o número de vítimas já havia chegado a dez pessoas na metrópole do Texas.

Moradores usam barcos para sair de zonas completamente alagadas pelo furacão Harvey em Houston, Texas, em 28 de agosto de 2017.
Moradores usam barcos para sair de zonas completamente alagadas pelo furacão Harvey em Houston, Texas, em 28 de agosto de 2017. REUTERS/Adrees Latif
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Ainda não é possível ter a dimensão exata da catástrofe, mas, até o começo da madrugada, mais de 30 mil moradores estavam alojados em abrigos e pelo menos 450 mil pessoas devem ser afetadas pelo maior desastre natural dos EUA desde o furacão Katrina, em 2005, em Nova Orleans.

O presidente Donald Trump, que deve visitar hoje a região, agiu com presteza, interessado em não repetir o desastre político da resposta dada pelo governo Bush ao Katrina, quando milhares de pessoas, especialmente afro-americanos, ficaram ao léu em imagens chocantes que ajudaram, três anos depois, a levar Barack Obama à Casa Branca.

Mas Trump foi duramente criticado nesta segunda-feira (28) ao assumir, em coletiva de imprensa, ter decidido usar justamente o momento em que a audiência na televisão seria maior por conta da chegada do furacão na costa do Texas, na sexta-feira (25), para anunciar seu polêmico perdão a um ex-xerife do Arizona acusado de vários crimes e celebrado pela direita radical por sua postura anti-imigração.

Os deslizes de Trump

O governo federal enviou ainda na sexta-feira cerca de 5 mil servidores para o Texas, boa parte deles com a experiência crucial de ter enfrentado o sufoco da demorada reconstrução da Nova Orleans pós-Katrina. E isso foi visto como uma decisão acertada até mesmo pela imprensa mais crítica ao governo Trump, como os diários Washington Post e New York Times. Mas o teste de eficiência do governo Trump caiu por terra ontem quando, em uma coletiva de imprensa, o presidente saiu em defesa de sua decisão de perdoar o ex-xerife Joe Arpaio.

Ele é uma figura polêmica do estado do Arizona, acusado de uma série de abusos de poder, preso depois de deter ilegalmente, por nove horas, um cidadão mexicano detentor de um visto válido de turista, em visita aos EUA. Trump reagiu de maneira atabalhoada às insinuações da imprensa e da oposição de que teria anunciado o perdão presidencial a este ícone da extrema-direita justamente no dia em que a tempestade Harvey chegou no Texas, com a opinião pública focada na catástrofe natural.

Pois Trump retrucou que ele fez exatamente o oposto, que queria “aproveitar os altos índices de audiência” gerados na mídia por conta da preocupação com o furacão para celebrar sua decisão de proteger um amigo pessoal, um defensor de sua campanha e um, em suas palavras, ferrenho inimigo da imigração ilegal nos EUA. O tiro, claro, saiu pela culatra, com críticos de todos os lados do flanco ideológico denunciando a falta de sensibilidade do republicano no momento em que os texanos enfrentam aquela que é considerada a pior tempestade da história do estado.

Previsões metereológicas para os próximos dias

Infelizmente, as previsões do serviço meteorológico são ruins. Não só as chuvas não param nos próximos dias como elas devem seguir intensas até pelo menos sexta-feira (1). Se confirmado, seria uma semana seguida de chuvas intensas na região, com os níveis do Golfo do México e do Rio Colorado subindo sem parar, aumentando o tamanho das enchentes.

Já se vêem imagens semelhantes às do Katrina, com pessoas nos tetos de casas e ruas que se transformaram em rios. Pessoas que possuem embarcações estão se voluntariando em massa para resgatar cidadãos ilhados em toda a Grande Houston. As estimativas para os gastos na recuperação ultrapassam a casa do bilhão de dólares e os democratas começam a pressionar os governistas a fim de aprovarem mais gastos públicos federais para a reconstrução de Houston.

O dedo está apontado agora para a decisão de cortes de pessoal e de investimentos nas agências públicas responsáveis aqui nos EUA pela defesa civil, proteção ao meio ambiente e estudos climáticos, uma tônica do governo Trump desde que o republicano tomou posse, em janeiro.

Trump no Texas

Embora a Casa Branca ainda não tenha confirmado com exatidão a agenda de hoje do presidente, imagina-se que ele não consiga chegar às áreas mais afetadas. De qualquer modo, o Texas é um estado de larga maioria republicana, que não vota em um candidato democrata à presidência desde 1976. Trump venceu no ano passado com 52% dos votos contra 43% dados a Hillary Clinton.

E Trump está decidido a mostrar aos americanos que ele é um presidente presente e próximo de seus eleitores. Ele tem usado o twitter seguidamente para parabenizar a resposta de sua própria administração à devastação causada pelo Harvey no que analistas vêem como uma operação de propaganda calculada para apresentá-lo como um líder atento e efetivo. A Casa Branca distribuiu à imprensa, ainda na sexta-feira, fotos do presidente se reunindo com seu gabinete, reunindo esforços para a contenção de uma eventual tragédia.

Hoje, no Texas, Trump precisa conter sua disposição para criar querelas com a imprensa e se mostrar presidencial. Por mais terrível e cínico que pareça ser, o inferno do Harvey pode ser, para o presidente, uma oportunidade de recuperar alguma simpatia da população em um momento que nem 35% dos americanos, de acordo com as pesquisas, se diz satisfeito com seu governo.

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