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Linha Direta

Novas revelações sobre Trump e Rússia abalam governo dos EUA

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O "Russiangate" está impedindo a administração Donald Trump de avançar na agenda doméstica. Uma reportagem publicada neste domingo (9) no jornal The New York Times revela que os encontros entre os membros da campanha de Trump e do governo russo foram arquitetados pelo próprio presidente americano.  

O presidente americano, Donald Trump, e o russo, Vladimir Putin, durante o G20.
O presidente americano, Donald Trump, e o russo, Vladimir Putin, durante o G20. REUTERS/Carlos Barria
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Eduardo Graça, correspondente da RFI em Nova York

A reportagem revela um encontro que incluiu membros destacados da campanha de Trump e foi, de acordo com as fontes do “Times”, arquitetado pelo próprio Donald Trump Jr., com a advogada russa Natalia Veselnitskaya, cujas conexões com o Kremlin são notórias. Ela defende o interesse de boa parte da elite russa em casos complexos na Justiça americana. Essas fontes garantem que o encontro se deu porque a advogada havia acenado com a proposta de entregar aos trumpistas informações danosas à democrata Hillary Clinton.

Não se pode esquecer que Trump Jr. é quem, desde a posse do pai, em janeiro, comanda os negócios da família. Também estava presente no encontro o genro de Trump, Jared Kushner, hoje seu principal conselheiro na Casa Branca. Os dois dizem que a conversa girou apenas em torno do veto do governo russo a adoções de crianças por casais americanos.

A advogada diz que a conversa durou apenas 10 minutos. Mas, desde o início das investigações do que já está sendo chamado de Russiangate, nunca se chegou tão perto de estabelecer uma relação direta entre Rússia, interferência direta nas eleições e a campanha Trump. A matéria do “Times” seguiu as pistas de outra reportagem que abalou o governo, publicada pelo rival “Wall Street Journal”, na semana passada.

As fontes do jornal econômico garantiam que o ex-conselheiro de segurança nacional de Trump, o general Michael Flynn, estaria ciente da invasão por hackers russos dos e-mails de Hillary Clinton, informado por um conhecido lobista republicano. A Casa Branca negou saber das movimentações de Flynn, mas a cada semana uma peça do quebra-cabeças do Russiangate parece ser resolvida e o que se vê é um retrato nada agradável do presidente da República, alimentando ainda mais as investigações que seguem a todo vapor pelo F.B.I., comandadas por um procurador independente.

Primeiro encontro com Putin

As revelações sobre o encontro de Donald Trump Jr., divulgadas pelo “New York Times”, caíram como uma bomba nos EUA. A mídia já estava lidando com a performance considerada aquém do esperado do presidente na reunião do G20, em Hamburgo, na Alemanha, na sexta e no sábado, quando Trump pai teve seu primeiro encontro oficial com o líder russo Vladimir Putin.

Trump foi duramente criticado por democratas e republicanos depois de Putin ter dito à imprensa que o colega americano havia concordado não haver evidência alguma de interferência de Moscou nas eleições americanas do ano passado, contrariando análises da CIA, do FBI e da Agência Nacional de Segurança dos EUA, a NSA.

Para piorar, Trump saiu da Alemanha com o carimbo de ingênuo dado pela grande imprensa americana ao defender a proposta russa de um acordo de proteção mútua contra cyber-ataques. Os senadores republicanos John McCain e Marco Rubio disseram que tal proposta era como colocar a raposa no comando do galinheiro.

Ontem, assessores da própria Casa Branca revelaram que Donald Trump Jr., o filho mais velho do presidente, se encontrou com a advogada russa Natalia Veselnitskaya, duas semanas depois do magnata se tornar candidato do Partido Republicano à sucessão de Barack Obama, com a promessa de que obteria informações comprometedoras sobre a candidatura Hillary Clinton.

Atraso nas votações

Esta nuvem negra sob a Casa Branca, em termo usado pelo próprio presidente, está emperrando a administração Trump. O exemplo da vez é a reforma da Saúde. Foi justamente a implantação do Obamacare que galvanizou a então oposição republicana e deu fôlego à militância conservadora do Tea Party. Uma das promessas centrais da candidatura Trump era derrubar de imediato o que consideravam ser um ensaio da implantação de um sistema de saúde público pelos democratas.

Nesta semana, a equipe técnica do Congresso irá divulgar um aguardado relatório sobre os efeitos da reforma do sistema de saúde proposta pelo governo na vida dos cidadãos americanos e o presidente gostaria que o passo seguinte fosse a votação imediata da proposta apelidada de "Trumpcare" no Senado. Mas isso não deve acontecer, já que as atenções da elite política seguem cada vez mais voltadas para os novos capítulos de uma novela cujo enredo é a intervenção política da Rússia nas eleições americanas.

Depois de uma proposta fraca apresentada pela Câmara dos Representantes, a liderança republicana no Senado apresentou o que seria o projeto dos sonhos dos conservadores, que gostariam de aprovar ainda esta semana, depois da divulgação pelo Congresso de um relatório detalhado sobre os efeitos do novo plano. Mas o governo não conseguiu garantir sequer os votos de todos os republicanos no Senado.

Por um lado, o projeto enfrenta uma reação popular, que pegou a Casa Branca de surpresa, em estados cujos eleitorados têm um perfil mais moderado, com os cidadãos assustados com os cortes radicais no Medicaid. Este é o programa que oferece subsídios públicos para os idosos, veteranos de guerra e pessoas com deficiência física e mental. Por outro lado, a prioridade de vários senadores da própria base governista passou a ser outra: a de apagar os incêndios diários causados pela trama cada vez mais complexa do Russiangate.

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