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Brasil-América Latina

Show em cafés de Buenos Aires presta homenagem a Tom Jobim

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Se estivesse vivo, Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim teria completado em 25 de janeiro passado 90 anos. Agora, um show itinerante, que circula todos os meses por alguns dos mais notáveis cafés de Buenos Aires, presta homenagem ao maior expoente da música brasileira.

Cartaz do show com sucessos de Tom Jobim atualmente em cartaz em Buenos Aires.
Cartaz do show com sucessos de Tom Jobim atualmente em cartaz em Buenos Aires. Divulgação
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Do correspondente em Buenos Aires

Notorius, Jazz Voyeur ou o histórico Las Violetas são alguns dos palcos do show "Tributo a Tom Jobim". O repertório destaca canções emblemáticas da carreira do maestro, que se dedicava aos arranjos para composições de outros músicos até a estreia, em 1956, da peça "O Orfeu da Conceição", de Vinícius de Moraes. Com cenário de Oscar Niemeyer, a produção musical teve a assinatura de Tom Jobim.

A partir daquele momento, começava uma revolução silenciosa. Com ele, a música erudita se popularizava enquanto o samba se modernizava. Em 1958, Tom descobria a fórmula mágica: a Bossa Nova.

Até sua prematura despedida, em 1994, a consagração mundial do maestro incluía obras-primas, como "A Felicidade", "Insensatez", "Corcovado", "Samba de Uma Nota Só", "Águas de Março", "Desafinado" e a segunda canção mais executada na história da música, "Garota de Ipanema" (1962), que só ficou atrás de "Yesterday" (1965), dos Beatles.

Com Tom Jobim, aliás, Ipanema tornava-se a referência no imaginário internacional de felicidade. Deixava, inclusive, para trás Copacabana, a princesinha do mar de Dick Farney. Era o cartão postal do Brasil feliz que se industrializava, que se urbanizava, mas que se inchava até ser depois criticado pelo próprio maestro pela especulação imobiliária e pelo desmatamento voraz.

Com a Bossa Nova, a música brasileira ficou positiva. Saiu da "saudade sem fim" para o "Chega de Saudade". O "nunca mais" virou "por toda a minha vida". E o "adeus" tornou-se a certeza de uma volta e de "Eu Sei que Vou Te Amar".

Shows na Argentina

Quase não há registros, mas Tom Jobim veio tocar na Argentina uma única vez, durante duas semanas no verão de 1978, na cidade de Mar del Plata, mais exatamente no Hotel Hermitage. Apresentou-se com o legendário show do Canecão (1977) ao lado de Vinícius de Moraes, Miúcha, Toquinho, Olivia Hime e o Quarteto em Cy.

Agora, é a vez de o espetáculo em Buenos Aires atrair, em cada edição, centenas de argentinos e brasileiros. Com o argentino Norbi Córdoba no baixo e o uruguaio Fabián Miodownick na bateria, o show é conduzido pela voz da brasileira Josi Dias e pelo maestro argentino Jorge Cutello, no piano e em português.

"A Bossa Nova é uma síntese da classe média universitária. É uma música educada. E o Tom tem essa mistura de música clássica, jazz e samba. É uma mistura maravilhosa, perfeita. Eu acho que o Tom é o representante mais importante da música do Brasil", define Cutello.

Em dueto, é como se a pernambucana Josi Dias cantasse com a alma.

"Com a Bossa Nova, eu canto realmente com a alma e com o coração. Somente de escutar a melodia que ele compôs, eu já choro de emoção. Ele me faz chorar somente com as notas", desabafa emocionada.

Em "Eu Sei Que Vou Te Amar", combinada com "Dindi", Josi Dias alterna estilos que remetem a Maria Creuza e a Astrud Gilberto, respectivamente. Já o estilo de "Garota de Ipanema" recorda a versão de Leni Andrade. O "Samba de Uma Nota Só" associado ao poema de Gonçalves Dias "Canção do Exílio" (Minha terra tem palmeiras/ onde canta o sabiá) resgata a versão que Tom Jobim apresentou no Festival de Jazz de Montreal em 1986 e emociona os brasileiros há anos distantes de sua terra.

"Eu venho para matar a saudade, estar entre amigos e escutar a música do Tom Jobim. É muita poesia e é muita conexão com o Brasil", descreve radiante a baiana Catia Assis, há 12 anos em Buenos Aires.

"Chega de Saudade"

Na versão de "Chega de Saudade", Josi Dias quis dar um toque de tango. O resultado, no entanto, remete à primeira gravação na voz de Elizete Cardoso.

"É uma versão com a influência do tango daqui. A época da Elizete Cardoso também era o auge do tango. Então, tem uma coisa meio melancólica do 'vai minha tristeza e diz a ela que sem ela não pode ser', aquela coisa do sofrimento e de que ela volte. Tento essa versão meio tangueira, saindo um pouquinho da Bossa Nova", explica.

"Chega de Saudade" no LP "Canção do Amor Demais", de 1958, com o violão moderno de João Gilberto em contradição com os vibratos de Elizeth Cardoso, é considerada o marco zero da Bossa Nova, a transição de uma música em extinção para uma que nascia. Já nada seria igual, mas essa é outra história. Uma história que, no ano que vem, completa 60 anos, graças a Tom Jobim.

Quando em 1990, a ausência física Vinícius de Moraes completava dez anos, Tom Jobim escreveu: "Cadê o meu Poetinha? Cadê minha letra, cadê? E morro aqui neste piano de saudades de você".

E parafraseando agora o próprio Tom, "Cadê o nosso Maestro, cadê? E morremos todos neste artigo de saudades de você".

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