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Legalizada no Chile, cannabis terapêutica estrela pratos de chef argentina

A proposta é da chef Natalia Revelant, especializada em cozinha vegetariana, que há anos combina os efeitos terapêuticos da maconha com produtos orgânicos como frutas, farinha de mandioca, amêndoas, grãos e sementes para produzir chocolates, pão-de-ló, bolos, sucos e leite.

A chef argentina Natalia Revelant, cujos pratos à base de maconha foram assunto de várias matérias da imprensa francesa esta semana.
A chef argentina Natalia Revelant, cujos pratos à base de maconha foram assunto de várias matérias da imprensa francesa esta semana. Reprodução Instagram
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"Descobri um universo [gastronômico] com a cannabis", afirma a chef Natalia Revelant, enquanto dezenas de pessoas aprendem suas receitas durante um curso na Fundação Daya, ONG chilena que lidera o uso medicinal da maconha.

No Chile, onde o Congresso discute a descriminalização do cultivo particular da planta, a lei permite o consumo particular de maconha, mas sua venda é penalizada. A lei vigente, no entanto, deixa uma livre interpretação à possibilidade de cultivos particulares da cannabis, levando alguns juízes a validar a prática em certos casos.

Em março do ano passado foi iniciada no Chile a maior plantação legal de maconha da América Latina, destinada à elaboração de um medicamento experimental que inicialmente seria usado em 4 mil pessoas com câncer, epilepsia refratária e dores crônicas, entre outras doenças, como parte de um projeto futuro mais ambicioso.

Gastronomia “cannábica”

A gastronomia "cannábica" é uma alternativa para os doentes crônicos que já utilizam o óleo e a resina de maconha ou remédios para combater seus males, sustenta Alejandra Ahumada, química farmacêutica da Fundação Daya.

Tudo pode ser utilizado da planta de folhas inconfundíveis. A raiz, o talo e as folhas são usados em saladas, para cozinhar carnes ou fazer sucos. A flor - mais conhecida como miolo - e as sementes são perfeitas para as sobremesas, chocolates ou pães de ló, diz a chef, de 38 anos. Como o sabor da maconha não é muito agradável, é importante saber combiná-lo com produtos que tenham semelhanças com seus terpenos, os compostos aromáticos que as plantas contêm.

"Uma planta de cannabis com um perfil alto de linalol [terpeno] pode ser combinado com lavanda e fazer bons biscoitos de manteiga", explica. A maconha também contém propriedades nutricionais como ácidos graxos essenciais para o nosso organismo e óleos essenciais como ômega 3 e ômega 6, usados para combater alguns sintomas de inflamação em pacientes.

Uma questão de dose

As propriedades medicinais da maconha se encontram em seus cannabinoides, compostos que também são responsáveis pelos efeitos alucinógenos como o THC, por isso é importante dosar exatamente a quantidade de cannabis que será usada na preparação da comida.

"É importante considerar que cada paciente vai reagir de maneira diferente ao uso dos cannabinoides e deve-se ter sempre o cuidado com a dose", afirma Ahumada. Uma dose de entre 0,1 e 0,5 gramas de cannabis em cada porção de comida é o recomendável para evitar os efeitos alucinógenos. Ultrapassar a dose poderia causar desmaio ou sonolência, afirma Natalia Revelant.

"A planta da cannabis não mata ninguém, por isso é importante que conheçamos os efeitos e pratiquemos para saber qual é a sua própria dose", indicou a chef. Os participantes da oficina preferem não ser identificados, com medo de serem detidos e que a polícia confisque seus cultivos de maconha, apesar de já começarem a vender remédios à base de cannabis para tratar dores crônicas.

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