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Linha Direta

Depois de sucessivos ataques à China, Trump recebe Xi Jinping nos EUA

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O tão esperado primeiro encontro entre o presidente americano Donald Trump e o chinês Xi Jinping será realizado nesta quinta-feira (6). Muitas expectativas giram em torno da reunião, depois dos sucessivos ataques e ameaças do republicano contra Pequim, durante a campanha eleitoral americana.

O primeiro encontro entre Donald Trump e Xi Jinping é para ser informal e descontraído e acontecerá no clube de golfe de Trump, Mar-a-Lago, em Palm Beach, na Flórida.
O primeiro encontro entre Donald Trump e Xi Jinping é para ser informal e descontraído e acontecerá no clube de golfe de Trump, Mar-a-Lago, em Palm Beach, na Flórida. REUTERS/Joe Skipper
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Ligia Hougland, correspondente da RFI em Washington

Além de representarem interesses potencialmente conflitantes, os presidentes americano e chinês têm estilos bastante diferentes, o que está dando motivo para ainda mais especulação quanto ao resultado dessa primeira reunião. Enquanto Trump é impulsivo e gosta de publicidade, Xi Jinping é cauteloso e leva uma vida pessoal discreta. Apesar das diferenças, os dois chefe de Estado têm interesse em iniciar o novo relacionamento em um tom positivo, pois terão de negociar questões de extrema importância, tanto em política externa quanto em comércio.

A Casa Branca está fazendo questão de ressaltar que o encontro tem como principal objetivo criar uma oportunidade de os dois chefes de Estado se conhecerem e desenvolverem um relacionamento positivo, e não deve ser visto como um meio de conseguir resultados importantes e imediatos em política externa ou comércio.

Pelo menos oficialmente, o encontro tem o objetivo de ser informal e não deve seguir uma agenda rígida. O próprio ambiente escolhido passa uma ideia de uma interação mais pessoal e descontraída, o clube de golfe de Trump, Mar-a-Lago, em Palm Beach, na Flórida. As primeiras-damas, Melania Trump e Peng Liyuan, também estarão presentes no encontro que vai ser concluído na sexta-feira (7).

Tanto Trump quanto Jinping têm interesse em usar essa oportunidade para fortalecer sua imagem de liderança dentro de seus respectivos países. Para o republicano, é uma chance de ele mostrar ser eficaz em um momento de baixa popularidade e logo depois do fracasso na batalha contra o Obamacare no Congresso. E, se Jinping passar uma impressão de força ao interagir com Trump, isso vai ajudá-lo a solidificar sua imagem de líder no 19° congresso do Partido Comunista da China, que vai acontecer na segunda metade deste ano, garantindo um segundo mandato ao presidente chinês.

Apesar de a Casa Branca tentar dar a entender que não há expectativas ambiciosas para o encontro, certamente os dois presidentes vão falar em comércio e Coreia do Norte, vão avaliar o quanto de cooperação vai haver entre os Estados Unidos e a China e pretendem definir uma estrutura para diálogo entre os dois países para os próximos anos.

Trump promete não aliviar postura dura contra a China

Durante a campanha presidencial, Trump usou de uma retórica dura em relação à China, acusando o país de explorar os Estados Unidos e, inclusive, ameaçou criar uma taxa alfandegária de 45% sobre produtos chineses. Até a véspera da visita de Jinping, a retórica do presidente americano não mudou.

Há poucos dias, ao contrário da narrativa oficial do departamento de Estado, Trump disse no Twitter que acha que o encontro com Jinping será “muito difícil” e que os dois vão tratar de “questões sérias”, se referindo ao déficit comercial com a China e o impacto negativo, segundo o presidente republicano, que o país tem sobre a economia dos Estados Unidos.

Apesar de o lema “América Primeiro” ser popular com sindicatos americanos, essa é uma postura difícil de ser engolida pela China. Além disso, Trump já prometeu investir US$ 1 trilhão em infraestrutura e trazer alguns empregos que hoje praticamente estão extintos no mercado de trabalho americano - na verdade, não por causa da China, como alega Trump, mas devido à automação - de volta para os Estados Unidos. O cumprimento dessa promessa depende, em grande parte, da capacidade de Trump conseguir que a China concorde com termos comerciais mais vantajosos para os Estados Unidos.

Por enquanto, o governo chinês tem tentado passar a impressão de que a retórica dura de Trump, e mesmo os dois decretos por ele assinados na semana passada focando na redução do déficit comercial, não são motivos de preocupação, pois tratam de questões do interesse também da China. Apesar de ninguém estar esperando grandes avanços, alguns analistas acham que é possível que Jinping ofereça alguma pequena concessão comercial a Trump, mesmo que seja apenas para mostrar que há cooperação entre Pequim e Washington, mas nada muito significativo deve resultar desse primeiro encontro.

Pressão sobre a Coreia do Norte

Segundo a imprensa americana, representantes do departamento de Estado disseram que os Estados Unidos certamente esperam contar com a ajuda da China para colocar pressão sobre a Coreia do Norte e que esse tópico, por representar uma ameaça urgente, terá alta prioridade na agenda de Trump com Jinping.

O governo americano também acredita - e aproveita para mandar o recado - que já há muito tempo a Coreia do Norte não é mais um ativo estratégico para a China e sim um risco estratégico que pode desestabilizar a região.

Além disso, Trump pode usar Taiwan como poder de barganha com a China para conseguir cooperação. Logo depois de ser eleito, o republicano conversou por telefone com a presidente de Taiwan, o que incomodou bastante Pequim.

O governo americano diz estar comprometido em manter a política de “uma só China”, que reconhece Taiwan como território chinês. Mas, como Trump mesmo recentemente disse, ele é uma pessoa “flexível”, que pode mudar de ideia conforme a situação se desenvolve. Assim, Jinping, como qualquer outro chefe de Estado, precisa agir como se estivesse pisando em ovos ao lidar com Trump, pois essa é a impressão que o presidente americano gosta de passar quando está negociando.

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