Incoerência de governo Trump é perigo para o mundo inteiro
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O mundo vem se tornando um lugar muito mais perigoso. O ignorante e irascível presidente americano conseguiu criar, em poucas semanas, um clima de pesada incerteza nas relações internacionais. Até o presidente russo, Vladimir Putin, que ajudou a eleição do magnata com ataques cibernéticos, já mostra sinais de preocupação. O homem do topete dourado é imprevisível e, pelo visto, acha isso ótimo.
A nova Casa Branca saiu atirando para todos os lados. O primeiro alvo foi o México, com as ameaças de pesadas barreiras tarifárias e um muro contra a imigração clandestina. O segundo foi a China – tratada como o inimigo econômico número um – ameaçada com uma guerra comercial, e até com um bloqueio naval no mar da China meridional.
No Oriente Médio, Trump fez questão de apoiar os setores mais extremistas do governo israelense, e anunciou a transferência da embaixada americana para Jerusalém. Enquanto o seu principal conselheiro, Steve Bannon, acha que o maior inimigo não são os islamistas radicais, mas o próprio Islã. Quem nem Pôncio Pilatos, o magnata-presidente também vem demonstrando total indiferença com relação situação na Síria ou com a ideia de um Estado palestino.
Quanto à Europa, o presidente já disse que a OTAN era uma instituição “obsoleta” e que a implosão da União Europeia seria uma coisa positiva. E porque não negociar o futuro do Velho Continente com a Rússia?
Nada disso tem a ver com a tradição diplomática dos Estados Unidos. E ainda menos com a visão de política externa do establishment republicano – sem falar dos democratas. O problema é que essa incoerência toda gera desconfiança. E no campo da geopolítica, desconfiança vira rapidamente corrida armamentista.
Comércio de armas evolui de maneira preocupante
O Instituto de Pesquisas de Paz de Estocolmo (SIPRI) acaba de publicar o seu relatório anual sobre o comércio de armas. As conclusões são aterradoras: os orçamentos e compras de armamentos estão bombando. Os principais exportadores – Estados Unidos, Rússia, China, França e Alemanha – estão inundando o planeta de armas cada vez mais sofisticadas. E basta olhar para os clientes para ter um mapa da principais zonas de tensão no mundo: Índia, Japão, Coréia, Filipinas, Vietnam Indonésia, Arábia Saudita, Emirado Árabes, Irã, Argélia, Marrocos e até países africanos.
Os orçamentos militares da China e da Rússia estão literalmente explodindo. E os Estados Unidos gastam mais com suas forças armadas do que o resto do mundo junto. A promessa de Trump de turbinar seriamente as despesas militares americanas só pode acelerar ainda mais essa corrida armamentista global.
A história sempre demonstrou que quando existe muita arma disponível, elas acabam sendo usadas. A grande maioria dos conflitos nas últimas décadas foram guerras civis ou guerras irregulares ou “híbridas”. Só que hoje, a velha guerra convencional entre Estados soberanos parece estar de volta. Os delírios do "lourão" que ganhou a Casa Branca podem perfeitamente precipitar enfrentamentos gravíssimos.
Mas a boa notícia é que, por enquanto, Trump não é um ditador que faz o que quer. Os líderes políticos em Washington, os principais empresários do país, o Poder Judiciário e até os grandes serviços de inteligência americanos não estão a fim de encampar as loucuras do time Trump. Com apenas um mês de governo, o novo presidente teve que engolir uma equipe de política externa feita de profissionais racionais que não estão a fim de tolerar tamanhas insanidades.
O secretário da Defesa, o general James Mattis, o secretário de Estado Rex Tillerson, e agora o novo conselheiro de segurança nacional o tenente-coronel McMaster são todos “cabeça fria” e muito respeitados por todo o estamento político-militar americano. E todos já tomaram posição pública e clara contra as maluquices da Casa Branca. Sem eles, Trump pode continuar esbravejando, mas não vai poder realizar suas loucuras. O problema é quanto tempo pode durar essa divisão no topo do poder.
* As crônicas do cientista político Alfredo Valladão podem ser lidas todas as segundas-feiras no site da RFI Brasil
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