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Brasil-América Latina

Governo venezuelano inova ao abrir casas de câmbio na fronteira

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A intensa movimentação comercial fomentada por venezuelanos no Brasil e na Colômbia levou o presidente Nicolás Maduro a autorizar a abertura de 20 casas de câmbio na fronteira com estes dois países. Ele recorreu ao Decreto de Emergência Econômica para lançar a medida até então inédita.

Novas cédulas de bolívares que começaram a circular na Venezuela
Novas cédulas de bolívares que começaram a circular na Venezuela REUTERS/Marco Bello
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Elianah Jorge, correspondente da RFI em Caracas

A escassez de produtos na Venezuela tem sido o estopim que motivou o aparecimento de máfias que trocam o bolívar, a moeda venezuelana, por outras moedas estrangeiras, sobretudo negociando no mercado paralelo o dólar. No país socialista a moeda norte-americana é supervalorizada na cotação informal já que a Venezuela há mais de uma década tem um ferrenho controle cambial. Agora, no país, funcionam quatro taxas de câmbio: três oficiais e uma paralela.

O analista financeiro Eduardo Semtei
O analista financeiro Eduardo Semtei E. Jorge

 Há anos o governo venezuelano tenta neutralizar o poder das negociações paralelas no país, lembra o analista financeiro Eduardo Semtei. Segundo ele, no mercado negro, um dólar está cotado agora a 3.700 bolívares, enquanto no mercado oficial a taxa mais alta é de 700 bolívares. "O governo acredita que pode baixar a cotação fazendo um malabarismo financeiro abrindo as casas de câmbio”, afirma Semtei.

Trocar legalmente bolívares por reais ou vice-versa chama a atenção de quem cruza constantemente a fronteira Brasil-Venezuela. Porém, na prática, essa cotação oficial das casas de câmbio não vem agradando tanto.

Timóteo Camargo, morador de Roraima, conta que “a discrepância no câmbio oficial para o paralelo é tão grande que é impensável viajar pra Venezuela utilizando o dinheiro trocado no câmbio legal”.

Timóteo Camargo, morador de Roraima
Timóteo Camargo, morador de Roraima E. Jorge

A declaração de Timóteo demonstra que o câmbio informal continuará a ser o preferido de muitos viajantes já que ele propõe uma cotação muito superior à oferecida nas casas oficiais.

Pouca moeda estrangeira circulando na Venezuela

Além disso, a escassez também afeta o mercado cambial. Há pouca moeda estrangeira circulando no país por causa da falta de investimentos externos. A situação é agravada pela queda do preço internacional da única grande produção da Venezuela: o petróleo.

Este é o motivo pelo qual o analista financeiro Eduardo Semtei garante que as casas de câmbio na fronteira estão com os dias contados, afinal como vender a baixos preços o que está em falta? “A cotação é feita sobre a base de um malabarismo financeiro abrindo casas de câmbio. Mas isso é um problema de oferta e de demanda tanto na fronteira da Venezuela com o Brasil como na da Colômbia. O câmbio não obedece a vontade de uma pessoa ou de um grupo e sim de disponibilidade de divisas e não há disponibilidade de divisas. Os efeitos destas medidas incorretas serão sentidos em poucos dias.”

Já no primeiro dia, algumas casas de câmbio na fronteira colombiana não dispunham de dinheiro para fazer a troca de bolívares por moedas estrangeiras, o que respalda a tese de Semtei.

No entanto, o ministro de Economia e Finanças, Ramón Lobo, garante que a a abertura das casas de câmbio na fronteira tem como objetivo “proteger a moeda venezuelana”. No entanto, ele não deu explicações de como isso acontece na prática, tendo em vista que a preferência até entre os venezuelanos é por moedas estrangeiras, considerada a única maneira de garantir uma poupança diante do bolívar que a cada dia se desvaloriza com a inflação galopante que acontece na Venezuela.

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