Imprensa francesa aponta erros da coletiva de Donald Trump
A imprensa francesa publica nesta quinta-feira (12) longas análises sobre a primeira coletiva do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump. "A sombra da Rússia paira sobre a gestão Trump", diz a manchete do Le Figaro. Já o Le Monde prevê que o governo do republicano será marcado por incidentes de conflito de interesses e tráfico de influência pelo fato de Trump ter rejeitado a ideia de se separar de seu império financeiro.
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Segundo Le Figaro, "o governo republicano irá começar sob uma atmosfera de desconfiança profunda, como jamais se viu na história americana". Em seu editorial, Le Figaro considera preocupante o fato de a CIA e o FBI terem advertido dois presidentes (Trump e Barack Obama) do risco de chantagem da Rússia.
As suspeitas de que Trump "mantém relações obscuras com Moscou" e a hipotética existência de um vídeo, no qual ele aparece com prostitutas, são "nebulosas", mas "têm força suficiente para provocar uma tempestade", escreve o diário. "A questão é saber até que ponto o sólido sistema democrático americano saberá lidar com isso", avalia o Le Figaro.
Nas páginas internas, uma análise assinada pela jornalista Laure Mandeville sublinha que a maneira virulenta como Trump reagiu ao relatório das agências de inteligência pode ser uma demonstração de seu medo de ter as informações confirmadas. O ex-presidente Richard Nixon enfrentou esse clima deletério, entre 1969 e 1974, mas não desde os primeiros passos na Casa Branca, insiste o Le Figaro.
"Existe um divórcio total entre o presidente e as elites liberais; entre os eleitores de Trump e essas elites também. O perigo é que uma potência estrangeira se aproveite desses fossos gigantescos para enfraquecer ainda mais os Estados Unidos. No momento, é impossível saber se Trump renascerá como uma fênix, depois de conjurar os demônios", conclui a jornalista.
Conflito de interesses entre a Casa Branca e o império Trump
Para o Le Monde, Trump cometeu um erro ao não se separar de seu grupo empresarial. O fato de ter transferido a gestão a seus filhos, como sua advogada explicou durante a coletiva, não basta para afastar o receio de conflito de interesses. Le Monde lembra que Walter Shaub, diretor do Escritório para Ética Governamental, do Instituto Brooklin, considera que a escolha de Trump vai na contramão do que fizeram os ex-presidentes Jimmy Carter, Ronald Reagan, George W. Bush e Bill Clinton.
O jornal liberal Les Echos considerou a primeira coletiva de Trump "desordenada", no estilo do bilionário, adepto de declarações improvisadas. Para Les Echos, Trump mostrou sobretudo o desejo de agir rápido, seja em relação ao combate à imigração clandestina, com a construção de um muro na fronteira com o México, ou em relação à criação de empregos.
Em seu editorial, o jornal diz que a chegada de Trump à Casa Branca mostra que Barack Obama deixa um país mais dividido do que nunca, onde a desigualdade entre ricos e pobres aumentou e o conflito racial se agravou. "Obama pode se orgulhar do legado econômico, mas a vitória de Trump neutraliza esses esforços e representa o maior fracasso do primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos", indica o texto.
O jornal de esquerda Libération diz que será necessário se acostumar ao estilo do bilionário. "Ele responde o que quer e quando quer, como fez com o jornalista da CNN que tentou interrogá-lo", escreve o Libération.
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