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Linha Direta

Equipe de governo escolhida por Trump assusta americanos

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O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, defendeu nesta quinta-feira (9) as escolhas de sua equipe de governo, que vem sendo extremente criticadas pela opinião pública e a imprensa. Segundo o bilionário, seu gabinete será um dos melhores da história do país. Mas as mais suas recentes nomeações estão dando o que falar.

Donald Trump nomeou Ben Carson (esq.), neurocirurgião aposentado, como secretário de Habitação e Desenvolvimento Urbano.
Donald Trump nomeou Ben Carson (esq.), neurocirurgião aposentado, como secretário de Habitação e Desenvolvimento Urbano. REUTERS/Carlo Allegri/File Photo
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Eduardo Graça, correspondente da RFI em Nova York

Nesta semana Trump anunciou que o comando da política ambiental de seu governo irá para um político do sul dos Estados Unidos ligado à indústria do carvão e que já declarou não acreditar no aquecimento global. Para posto equivalente ao de ministro do Trabalho no Brasil, ele irá nomear o presidente de uma rede de fast food que é contrário a qualquer aumento do salário mínimo e é inimigo declarado das centrais sindicais. Para a Secretaria da Habitação, Trump escolheu o cirurgião Ben Carson, um dos primeiros pré-candidatos derrotados nas primárias republicanas a anunciar o apoio à candidatura Trump. Detalhe: o próprio médico reconheceu publicamente nada entender de projetos habitacionais.

A imprensa e a opinião pública estão mais surpresos do que satisfeitos com um governo que cada vez mais parece uma mistura de ultraconservadores com amigos pessoais de Trump. As últimas três nomeações fizeram com que ecologistas, cientistas, acadêmicos e sindicalistas recorressem à velha imagem da raposa tomando conta do galinheiro.

Escolha de Scott Pruitt causa polêmica

O caso mais sério é o da escolha do advogado-geral do estado sulista de Oklahoma, Scott Pruitt, como o novo diretor da agência reguladora de proteção do meio-ambiente. Já no anúncio da escolha, feito nas redes sociais, Trump enfatizou a criação de empregos e a implantação de uma nova política energética, menos verde e mais tradicional, do que qualquer tipo de mecanismo de proteção ambiental.

Pruitt será o primeiro comandante da política ambiental da história dos Estados Unidos a questionar o consenso científico das causas das mudanças climáticas e do aquecimento global. E mais: ele se notabilizou politicamente justamente processando o governo de Barack Obama e se tornando o inimigo número um da indústria da energia alternativa.

Muito próximo das grandes empresas de petróleo e gás, Pruitt, ironicamente, passou cinco anos no comando da Justiça do Oklahoma combatendo a agência que agora irá comandar. E, sendo muito próximo dos lobistas, ele ignorou solenemente os avisos de cientistas de que a prática de extração de gás no estado através da fratura hidráulica, o chamado fracking, aumentaria o risco de terremotos, o que se comprovou nos últimos anos.

O controverso gabinete Trump

Trump corre o risco de desagradar parte de seu eleitorado, já que durante a campanha presidencial, ele acusou a candidata democrata, Hillary Clinton, de ser próxima dos lobistas de Washington. O novo ministério, afinal, é recheado de nomes ligados ao grande capital e aos lobistas da capital americana.

Este é um dos maiores paradoxos do gabinete Trump. É bom que se diga que um dos principais postos do novo governo, o de secretário de Estado, só será anunciado na semana que vem. Se for confirmado, o ex-governador Mitt Romney terá o ministério com as contas bancárias mais recheadas de todos os tempos aqui nos EUA.

O novo secretário do Tesouro, Steve Munchin, era uma das estrelas do Goldman Sachs, justamente o banco que Trump dizia ser a encarnação do que há de pior em Wall Street. O do Trabalho, Andrew Pudzer, é um dos maiores inimigos dos sindicatos, que defende o investimento maciço em robôs para substituir empregados do setor alimentício.

Para o Comércio, Trump escolheu outro milionário, Wilbur Ross, dono de minas de carvão. Para a Saúde, o deputado Tom Price, soldado aguerrido do lobby dos planos de saúde e inimigo número um de qualquer reforma da saúde que inclua uma opção pública.

Ben Carson foi escolhido para a Habitação, entre outros motivos nada ortodoxos, por ser negro, já que Trump promete projetos voltados para a comunidade negra nas grandes cidades do país, que votaram em peso em Hillary. E, para a Educação, ele escolheu outra bilionária, Betsy DeVos, crítica justamente das escolas públicas do país. E ainda há o trio de generais da reserva em postos-chave, um deles apelidado de “Cachorro Louco”, todos com posições radicais contra o Irã e que defendem uma mudança de eixo da política externa americana, a ser mais focada no combate ao terrorismo de fundo islâmico e no apoio ainda mais incondicional a Israel, deixando em segundo plano o Extremo Oriente e a Autoridade Palestina.

Em resumo, é uma guinada em relação ao governo Obama, e com pouca possibilidade de oposição dos democratas, que são minoria no Legislativo, tanto no Senado quanto na Casa dos Representantes.

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