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Linha Direta

Hillary ou Trump devem criar barreiras comerciais para a China

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Na reta final da eleição americana, a disputa apertada entre a democrata Hillary Clinton e o republicano Donald Trump cria um ambiente de incertezas, não apenas dentro dos Estados Unidos, mas também fora. China e Rússia observam com a maior atenção os desdobramentos da campanha, que pode ter consequências importantes para o seu relacionamento com os americanos.

Os candidatos à Presidência dos EUA, Donald Trump e Hillary Clinton, disputam cada voto na reta final da campanha.
Os candidatos à Presidência dos EUA, Donald Trump e Hillary Clinton, disputam cada voto na reta final da campanha. REUTERS/Mike Segar/Carlos Barria/Files
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Vivian Oswald, correspondente da RFI em Pequim

Existem muitas arestas entre Pequim e Washington. Os entendimentos entre Rússia e Estados Unidos passam por um momento bastante ruim e o atual xadrez geopolítico tem nos três países peças fundamentais. As duas maiores economias do mundo têm acumulado uma lista de divergências na disputa por áreas de influência, sobretudo durante os últimos anos da Era Barack Obama.

Incomoda os chineses os avanços americanos na questão do Mar do Sul da China, um dos maiores focos de tensão da região. Desde 2012, Obama deu início à política que mudou o foco de Washington para a Ásia do Pacífico, o que bate de frente com os interesses chineses. Na agenda política há temas espinhosos como liberdade de expressão e de imprensa, direitos humanos e democracia.

Mas nem tudo é complicado: há muitos acordos de cooperação em andamento. As relações comerciais entre eles ajudaram a desenvolver a economia chinesa nos últimos anos. Recentemente, os dois entraram em um entendimento para, no âmbito da mudança do clima, ratificar o Acordo de Paris pouco antes do encontro do G20. Tudo isso mostra que a parceria também pode ser positiva.

Relação não deve mudar de forma radical

O sistema americano funciona de tal maneira que nenhum presidente tem a capacidade de impor por conta própria uma mudança de rumo da política externa. Ou seja, pelo menos no médio prazo, ainda que sob a presidência de Trump, a política em relação à China seria de continuidade. Para analistas, os problemas fundamentais serão os mesmos. Os americanos vendem armas para Taiwan, o Mar do Sul da China continuará sendo fonte de tensão, assim como as discussões de uma base americana na Coreia do Sul.

Trump é um grande incógnita. E,embora Hillary signifique temas incômodos, é pelo menos alguém com quem os chineses acreditam que já sabem lidar. Tanto Hillary quanto Trump deve criar barreiras comerciais para a China, a partir de medidas populistas para agradar o eleitorado depois de um processo tão tumultuado. Há anos, os Estados Unidos compram muito mais da China do que os chineses deles. Só no ano passado, o déficit comercial foi de US$ 367 bilhões.

Eleição americana interessa a China

Os chineses se interessam mais pelo processo eleitoral do que pelo desempenho dos candidatos. Internautas se divertiram com a troca de insultos e as cenas dos debates, algo impensável em um país como a China. Acompanham como novela. A confusão serviu para questionar o modelo de democracia americano e, por mais que o governo chinês tenha feito questão de evitar opiniões sobre a eleição americana, os jornais estatais dizem que esta eleição é um caos e que ao contrário do que os Estados Unidos pregam, a democracia Ocidental não é superior.

Relação com a Rússia se complica

Com a Rússia, a relação tem estado bem mais tensa. Na verdade, ela já não vai bem há alguns anos. Quando o presidente Barack Obama foi eleito, falava-se em um novo recomeço, que não aconteceu. As trocas de farpas, recentemente, viram trocas de acusações sérias. A agenda está carregada. A Rússia está sob sanções impostas pelo Ocidente há dois anos 2014 desde a sua participação na crise da Ucrânia.

A Guerra na Síria opõe Estados Unidos, aliados dos rebeldes que lutam contra o regime de Bashar al-Assad, próximo da Rússia. O vazamento de 30 mil mensagens do comitê democrata por hackers, que a campanha de Hillary acusa terem o Kremlin por trás, engrossou a lista de problemas. Há ainda investigações que apontaram para a participação russa na queda do avião da Malasyan Airline e questões de direitos humanos.

Putin ganha destaque na campanha

Nem ele mesmo esperava ganhar tanto destaque: os americanos garantem que o Kremlin tem feito de tudo para influenciar o resultado das urnas. A lista de queixas vai do vazamento dos emails à participação na guerra da Síria. É claro que ajuda o fato de a Rússia ainda ser no imaginário coletivo americano o outro lado de uma Guerra Fria que parece mais quente do que nunca. Putin já negou qualquer envolvimento. Há alguns dias, disse que o que chamou de histeria americana com a Rússia não passava de um truque.

Como a China, a Rússia sabe que Trump é uma surpresa. Mas há quem diga que ele poderia se voltar mais para o seu público interno, ser menos intervencionista, o que agrada os russos. Uma avaliação interessante é a de que o magnata causará mais problemas para os Estados Unidos e para as relações internacionais, o que também agrada.

Kremlin não esconde a má vontade com Hillary

Agora, seja quem for o vencedor, o novo presidente americano já sabe que Putin é o que terá pela frente ao longo do seu mandato. A expectativa é a de que o líder russo se reeleja facilmente nas próximas eleições em 2018. O turbulento processo eleitoral americano também chamou a atenção da Rússia e Putin vê nesta eleição uma espécie de vingança contra um país que tem o hábito de criticar o sistema político russo, que não abre qualquer espaço para a oposição. Os russos em geral não escondem uma certa vontade de ver o circo pegar fogo.

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