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Linha Direta

Argentinos vão às ruas de Buenos Aires contra a violência

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"Para que no te pase" ou, em português, "Para que não te aconteça". Sob este lema de prevenção, milhares de pessoas se manifestaram nas principais praças das grandes cidades argentinas.A principal concentração foi em frente ao Congresso, em Buenos Aires, para pressionar legisladores, mas também juízes por ações de proteção das vítimas da violência e, sobretudo, para que não haja mais vítimas.

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Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

Há duas semanas, em Hurlingham, periferia oeste de Buenos Aires, um episódio comoveu a Argentina. Um jovem de 19 anos, alcoolizado e sem carteira de motorista, subiu com o carro em uma calçada e matou uma criança de apenas um ano e oito meses, que brincava em frente à sua casa. O pequeno Máximo Escalada foi imprensado entre o pára-choque e o muro da residência.

Emocionada, a mãe da criança, Mara, de 38 anos, falou à RFI Brasil sobre a perda. "O carro subiu na calçada. O meu bebê estava brincado com a bola e um assassino subiu na calçada com um carro e o atropelou e  matou", descreve. A atenção da imprensa e a pressão popular ajudaram a manter o responsável preso. Mesmo assim, Mara reuniu as forças para vir à manifestação Para Que Não Te Aconteça. "Estamos aqui pedindo justiça para todos. Viemos apoiar todos para que não aconteça mais e para que não haja mais assassinos soltos", pede.

"Assassinos estão soltos"

Mas o assassino de Leticia Allo, de 29 anos, está solto. Em maio passado, Leti, como era chamada pelos amigos, atravessava uma famosa avenida de Buenos Aires, no bairro de Palermo, quando um carro avançou o sinal e a atropelou. O motorista fugiu, mas foi capturado 14 quarteirões mais adiante. O relatório da polícia foi alterado posteriormente. O culpado ficou preso apenas 12 horas, como relata a amiga de Leti, Romina Durán, de 25 anos.

"Hoje em dia, ele continua livre e a causa continua impune. Estamos pedindo justiça pela Leti. Ela ficou internada 40 dias, mas faleceu devido à quantidade de fraturas que tinha", conta. Numa das mãos, Romina ergue um cartaz que pede justiça pela amiga. Na outra mão, traz um livro com a Lei de Responsabilidade do Estado argentino. Ela desabafa: "Estudo Direito, ironicamente. E tento fazer justiça. Trago a Lei de Responsabilidade do Estado que não serve para nada e que está muito mal feita, como tudo".

Milhares de pessoas manifestaram em frente ao Congresso argentino em Buenos Aires nesta terça-feira em protesto. A manifestação teve réplicas nas principais praças das grandes cidades argentinas. A violência é a principal preocupação dos argentinos. Acima até da inflação que ronda os 40% ao ano e do desemprego que tem aumentado velozmente.

"Para que não te aconteça, para que não nos aconteça e para que não nos volte a acontecer" repetiam os organizadores enquanto os manifestantes gritavam "Justiça". A passeata não trazia nenhuma bandeira política, mas muitos cartazes com os nomes e  fotos de vítimas. O movimento foi convocado pelas redes sociais e organizado pelas próprias vítimas e por parentes das vítimas da violência, que pedem que legisladores e juízes estejam ao seu lado.

Nos processos judiciais, ao contrário do que se poderia supor, as vítimas e as famílias estão em condições inferiores às dos acusados, que têm tem direito, por exemplo, a um advogado pago pelo Estado - enquanto as vítimas precisam pagar por um do próprio bolso. Muitas vezes, as vítimas mal conseguem participar do processo penal.

Reivindicação é por sistema mais eficiente

A reivindicação é por um sistema penal mais eficiente que acompanhe as vítimas. Além disso, os acusados, os indiciados e até mesmo os condenados são libertados por juízes no que aqui é conhecido como "porta giratória". O acusado fica preso apenas dias ou mesmo horas. A exigência é pela prevenção e controle dos Três Poderes do Estado contra a insegurança, contra a impunidade posterior à violência e contra a injustiça.

Essa mobilização aconteceu diante do Congresso e não diante da Casa Rosada. O governo tem até se manifestado a favor de que juízes, promotores e legisladores modifiquem o sistema penal. Em recentes casos de justiça pela próprias mãos, tanto a ministra da Segurança, Patricia Bullrich, quanto o próprio presidente, Mauricio Macri, defenderam os direitos das vítimas.

Pesquisa mostra que argentinos não confiam no sistema judiciário

Uma pesquisa nacional da prestigiosa consultoria Management & Fit, publicada neste fim-de-semana, aponta a Justiça argentina como a grande questionada. 77% dos argentinos não confiam no Poder Judiciário. 15% confiam um pouco. Somente 3% têm muita confiança.

Na Argentina, o desemprego tem aumentado velozmente. A inflação anual ronda os 40% e é uma das mais altas do mundo. No entanto, o que mais preocupa os argentinos é a violência: 34,5% dos argentinos colocam a violência como principal problema. O desemprego vem muito atrás, 20 pontos atrás, com 14%. A inflação, apenas 13%. Outro exemplo de como o sistema judiciário é o grande vilão: 50,5% dos argentinos, mais da metade, aprovam a justiça pelas próprias mãos.

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