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Linha Direta

Hillary e Trump falham na resposta a catástrofes naturais nos EUA

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A menos de três meses das eleições gerais nos Estados Unidos, as atenções da mídia norte-americana se voltaram esta semana para a Louisiana e a Califórnia. O primeiro estado, cuja maior cidade é Nova Orleans, está sofrendo com tempestades de verão incessantes que causaram enchentes jamais vistas em cidades como a capital, Baton Rouge. A coincidência é que, ao mesmo tempo, a costa oeste do país enfrenta uma seca recorde e uma sucessão de incêndios. Os desastres naturais entraram, como esperado, na pauta dos candidatos à sucessão de Barack Obama.

Incêndio afeta três estados dos Estados Unidos: Califórnia, Arizona e Novo México.
Incêndio afeta três estados dos Estados Unidos: Califórnia, Arizona e Novo México. REUTERS/Patrick T Fallon
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Eduardo Graça, correspondente da RFI em Nova York

O governo federal decretou situação de calamidade pública na Louisiana e, até a manhã desta quinta-feira (18), pelo menos 13 pessoas haviam morrido por conta das enchentes no estado sulista. Pelo menos 40 mil casas foram destruídas e algumas localidades pequenas do sul da região, onde as chuvas foram mais intensas, simplesmente desapareceram da noite para o dia, com vizinhanças inteiras submersas. A tragédia também atingiu o estado vizinho do Mississipi.

Apesar de as chuvas terem diminuído nas últimas 24 horas, autoridades da Louisiana já trabalham com a perspectiva de que, pelo menos em termos de pessoas desalojadas, pode-se chegar a um número similar ao do furacão Katrina, em 2005, com mais de 150 mil sem-teto. A Cruz Vermelha estima em mais de US$ 30 milhões os custos da recuperação total das áreas afetadas, que deve levar anos. O estado é castigado por seguidas catástrofes – além do Katrina, também enfrentou o imenso vazamento de petróleo no Golfo do México, em 2010.

Vista aérea de um bairro da cidade de Sorrento, Louisiana, em 17 de agosto de 2016.
Vista aérea de um bairro da cidade de Sorrento, Louisiana, em 17 de agosto de 2016. Jeffrey Dubinsky/Handout via Reuters

Já os incêndios florestais na Califórnia são responsáveis pelo desalojamento de 83 mil pessoas no sul do estado mais rico dos EUA. As chamas começaram na terça-feira e, até agora, já queimaram mais de 10,3 mil hectares.

Mais de 4 mil bombeiros combatem o fogo, mas só conseguiram controlar 4% do incêndio. O tempo está extremamente seco e a imensidão de galhos ressecados funciona como um poderoso combustível.

Richard Rossi e o bisneto de 4 anos tiveram a casa inundada em St. Amant, Louisiana.
Richard Rossi e o bisneto de 4 anos tiveram a casa inundada em St. Amant, Louisiana. REUTERS/Jonathan Bachman

Fraco envolvimento de candidatos

A resposta dos candidatos à presidência, Hillary Clinton e Donald Trump, às tragédias tem ficado aquém do esperado. Os dois foram duramente criticados por terem reagido tardiamente e de maneira comedida às calamidades públicas.

Hillary usou as redes sociais para pedir que os cidadãos ajudem a Cruz Vermelha nos trabalhos de assistência aos desalojados. Foi o seu único comentário - e Trump, nem isso. A imprensa acusa os candidatos de não darem a dimensão necessária a uma enchente de proporções históricas nos EUA, ainda que por motivos bem diversos.

Problema recorrente na política americana

A resposta ao furacão Katrina foi um dos momentos mais vergonhosos do governo George W.Bush, acusado de tratar como cidadãos de segunda classe uma população formada majoritariamente por afro-americanos e pobres. Os democratas martelaram - como se sabe, com ótimos resultados - no descaso criminoso da administração republicana nas eleições de 2008. Só que agora o presidente, que não interrompeu suas férias na praia para visitar a Louisiana, é o mesmo Barack Obama vitorioso de oito anos atrás. O governador do estado desta vez também é democrata, deixando Hillary sem a possibilidade de criticar a resposta oficial.

Já para Trump, o problema se chama Sandy, o nome do furacão que foi especialmente danoso para Nova Jersey e Nova York, uma semana antes das eleições de 2012. Enquanto o presidente Obama, na época disputando a reeleição, deu todo o apoio às vítimas, o então candidato republicano, Mitt Romney, foi cobrado por ter defendido, durante as primárias, duros cortes de verbas públicas para a FEMA, o equivalente à Defesa Civil nos EUA, na linha de quanto menos governo melhor, defendida pelos republicanos.

Trump foca no eleitorado de extrema-direita

Como a equipe econômica de Trump segue a mesma receita, não seria difícil colar no bilionário o rótulo usado contra Romney. Mudo em relação às tragédias que afetam dois estados de pouca importância no tabuleiro político nacional – há poucas dúvidas de que a Califórnia dará seus votos a Hillary e a Louisiana, a Trump –, o candidato preferiu usar a noite de quarta-feira (17) para desafiar uma vez mais a cúpula do Partido Republicano.

O bilionário anunciou a contratação de Stephen Bannon, do website ultraconservador Breitbart News, uma espécie de tabloide digital político, como novo comandante de sua campanha, que vai de mal a pior. Com isso, ele quer mandar um recado claro: irá radicalizar ainda mais, deixando Hillary falando sozinha para os moderados.

Para analistas, a aposta em uma mensagem de autenticidade demonstra, no entanto, o desespero de Trump, que quer garantir pelo menos o voto da ultradireita. Se as eleições fossem hoje, de acordo com o modelo estatístico usado pelos especialistas do “New York Times”, um dos mais respeitados aqui nos EUA, Hillary teria 87% de chances de vencer, contra 13% de Trump. Ou seja, o risco de ela sair derrotada é o mesmo de um jogador experiente perder um gol feito, sem goleiro, dentro da área. Para Trump, no momento, essa é a tragédia que importa.
 

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