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Venezuela está à beira de uma guerra civil, afirma especialista

A temperatura social sobe nas ruas da Venezuela. Nesta quarta-feira (18), a polícia nacional, armada com escudos, coletes à prova de balas e capacetes, entrou em confronto em Caracas com cerca de mil manifestantes da oposição que tentavam chegar à sede central do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), o principal órgão eleitoral do país.

A polícia venezuelana entrou em confronto com manifestantes da oposição durante protesto nesta quarta-feira (18), em Caracas.
A polícia venezuelana entrou em confronto com manifestantes da oposição durante protesto nesta quarta-feira (18), em Caracas. REUTERS/Carlos Garcia Rawlins
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Para a especialista Renée Fregosi, diretora de pesquisa em Ciências Políticas na Universidade Paris 3 - Sorbonne Nouvelle, a situação é causada pelo “novo autoritarismo” implantado pelo governo de Maduro. “O presidente venezuelano tem em suas mãos o Poder Judiciário, inteiramente nomeado por ele. Esse mesmo Judiciário decidiu que toda decisão tomada pela Assembleia Legislativa, eleita democraticamente, é inconstitucional. A Venezuela está à beira de uma guerra civil. Tenho a impressão que Maduro tenta, ele mesmo, começar essa guerra”, analisa Fregosi.

Estado de exceção

A manifestação da oposição nesta quarta-feira (18) foi a terceira em uma semana e constitui uma reação à decisão de Maduro de renovar por mais 60 dias o estado de exceção na Venezuela, numa resposta à crise econômica do país. Através desta medida, o presidente venezuelano se concede poderes para governar por decreto durante os próximos dois meses.

Segundo Renée Fregosi, Nicolás Maduro não propõe “nada de novo economicamente”. “Ele continua a expropriar empresas, hoje temos mais ou menos 8 mil empresas expropriadas. Expropriar significa fechar. Hoje, na Venezuela, não se tem mais produção nem distribuição. Quase não existem mais medicamentos, nem produtos de higiene pessoal. E os alimentos estão cada vez mais raros. Em dezembro, quando estive no país, já faltavam vários produtos de base como feijão e arroz, a carne estava com preço altíssimo e com um salário mínimo se podia viver apenas uma semana”, afirma a especialista.

A herança de Chávez e a influência de Cuba

“O sistema chavista colocou o país numa situação pior do que Chávez a encontrou”, aponta Fregosi. "Refiro-me ao Chávez de 1998, porque o sistema foi se tornando cada vez mais autoritário. Em 98, ele foi eleito democraticamente. Quando foi reeleito em 2012, a situação piora dramaticamente, mas graças aos lucros do petróleo, que ele utilizará de maneira clientelista, ele comprará, na ocasião, cerca de um milhão de votos, o que lhe concedeu uma larga vitória neste pleito de 2012”, acusa a especialista da Sorbonne.

“O sistema está hiper-estatizado", continua Renée Fregosi. "Se o povo votou tão massivamente pela oposição não é por amor à Mesa de Unidade Democrática (MUD), é simplesmente porque eles não aguentam mais esse sistema”, analisa.

Segundo a especialista, a Venezuela funciona sob a orientação direta de Cuba. “O estado cubano funciona completamente em simbiose com o estado venezuelano. Os cubanos dirigem o exército, o estado civil (são os cubanos que entregam os passaportes na Venezuela), são os cubanos que dirigem os transportes, como nos aeroportos, por exemplo. Na minha opinião, os Estados Unidos, ao invés de fingirem que acabaram de descobrir a crise Venezuela através de seu serviço secreto, deveriam é pressionar seus novos amigos de Cuba, para que os cubanos deixem enfim a Venezuela livre para estabelecer uma verdadeira transição pacífica em direção à democracia”, afirma Fregosi.

Oposição: perfil e reinvindicações

A oposição venezuelana, capitaneada por Henrique Capriles, candidato derrotado por Maduro nas últimas eleições, deseja realizar um referendo pela revogação do governo de Maduro ainda este ano. O vice-presidente venezuelano, Aristóbulo Istúriz, pediu nesta quarta-feira (18) que a oposição aguarde novas eleições, previstas para 2018. A oposição afirma ter levantado as 2 milhões de assinaturas necessárias para solicitar o referendo revogatório pela saída de Nicolas Maduro. O vice-presidente Istúriz, no entanto, diz que as assinaturas são fraudulentas, repetidas, adulteradas”.

Henrique Capriles solicitou uma intervenção militar. Para a especialista Renée Fregosi, “se a intervenção acontecer, é porque houve certamente uma fissura dentro do poder ditatorial de Maduro. O presidente venezuelano apela hoje para milícias chavistas fortemente armadas, e talvez isso seja um sinal de que ele não esteja tão seguro sobre o apoio das Forças Armadas venezuelanas a seu governo”, aponta.

Segundo Fregosi, “Henrique Capriles, que vem da tradição democrática-cristã, possuía um programa de forte conotação socialdemocrata”. "A frente de oposição da Mesa de Unidade Democrática (MUD) é composta de políticos da centro-direita até personalidades da esquerda radical, além de muitos ex-chavistas. Esta oposição possui hoje 112 deputados, ou seja 2/3 da assembleia, que contabiliza 167 deputados ao todo. Existe atualmente um forte consenso que une toda essa oposição na Venezuela”, finaliza a especialista.

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