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Argentina/EUA

Na Argentina, Barack Obama encontrará um novo aliado regional

Com a segurança reforçada e maior nível de alerta depois dos atentados na Bélgica, o presidente Barack Obama chegou a Buenos Aires a 1h10m da madrugada desta quarta-feira (23) para uma visita de dois dias. Governo norte-americano apoia a Argentina como exemplo a ser seguido por países da região, como a Venezuela. A visita inaugura uma nova fase de reaproximação entre Argentina e Estados Unidos.

Barack Obama desembarca, com a família, no aeroporto de Buenos Aires na madrugada desta quarta-feira, 23 de março de 2016.
Barack Obama desembarca, com a família, no aeroporto de Buenos Aires na madrugada desta quarta-feira, 23 de março de 2016. Reuters
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Márcio Resende, correspondente em Buenos Aires

Apesar do horário da chegada de Obama, canais de TV e estações de rádio acompanharam a comitiva minuto a minuto ao vivo. A expectativa tem explicação: há 19 anos, um presidente dos Estados Unidos não fazia uma visita bilateral à Argentina. Nesse período, especialmente nos últimos 12 anos, os governos de Néstor e de Cristina Kirchner mantiveram uma política de distanciamento dos Estados Unidos. "As políticas do governo de Cristina Kirchner foram sistematicamente anti-norte-americanas", definiu recentemente Obama.

Nos últimos 12 anos, os líderes mundiais iam ao Brasil ou cruzavam o céu argentino para irem ao Chile, mas à Argentina, ninguém. A situação parece inverter-se com a chegada de Macri ao poder. "Macri reconhece que estamos numa nova era. A Argentina, historicamente um país poderoso, viu a sua posição enfraquecida por não se ter adaptado à economia mundial tão eficazmente como teria podido", comparou Obama com os governos Kirchner.

Por sua vez, o presidente argentino admitiu que as declarações de Obama tem ajudado a Argentina a sair do default. A chegada de Obama é o maior sinal da decisão de Macri de reaproximar a Argentina das nações desenvolvidas e de reconectar o país com a agenda internacional.

Terrorismo, tráfico de drogas e direitos humanos

Obama e Macri terão uma reunião logo de manhã na Casa Rosada. A agenda bilateral dará destaque a acordos de combate ao tráfico de drogas, prioridade do governo Macri; de combate ao terrorismo, que ganha mais relevância depois dos atentados na Bélgica e tendo sido a Argentina alvo de dois ataques terroristas nos anos 90; e acordos em matéria de Direitos Humanos. Obama também falará à tarde aos jovens num teatro e aos empresários à noite.

Numa Argentina perto de sair da moratória da dívida, a expectativa comercial é quanto à chegada de investimentos norte-americanos dos quais a Argentina tanto precisa. Os setores que mais podem receber anúncios imediatos são energia e infraestrutura.

A visita de Obama coincide com os 40 anos do golpe militar mais sangrento da América do Sul que, em apenas sete anos, entre 1976 e 1983, deixou 30 mil desaparecidos. Obama vai anunciar um esforço para abrir arquivos sobre a ditadura argentina. Em 2002, os Estados Unidos desclassificaram 4.500 arquivos que ajudaram na condenação de ex-repressores do regime. A desclassificação que Obama promete agora incluiria novos arquivos nas Forças Armadas e da CIA. As informações podem iluminar novas linhas de investigações.

O anúncio ajudará a abafar os protestos de organizações de direitos humanos e de militantes de esquerda contra o papel dos Estados Unidos e contra a visita de Obama. Os arquivos anteriormente desclassificados confirmaram que o governo norte-americano foi conivente, apoiou ou financiou os regimes militares na região.

Longe dos protestos, Barack Obama passará a quinta-feira (24) em família em São Carlos de Bariloche, na Patagônia argentina, destino visitado por anteriores presidentes norte-americanos. Retornará a Buenos Aires à noite para regressar a Washington.

Agenda regional

Nesta quarta-feira, Barack Obama e Mauricio Macri também devem tratar de assuntos regionais como Cuba, Venezuela, acordo de paz na Colômbia e, não se descarta, crise brasileira. Aqui na Argentina, o presidente americano terá um aliado regional pela libertação de presos políticos e por liberdade de expressão tanto na Venezuela quanto em Cuba.

A ajuda norte-americana à Argentina é uma necessidade para estabelecer um exemplo de saída bem-sucedido para os governos populistas da região que enfrentam crises institucionais profundas, como a Venezuela. A Argentina transita de um regime autoritário a um plural, e de uma economia estatizada hiper-presidencialista à de mercado, aberta ao mundo. O sucesso dessa experiência é importante para os Estados Unidos. Barack Obama vai apoiar a política econômica de Mauricio Macri, que completou no sábado 100 dias de governo com 70% de popularidade com medidas que tiram a economia do confinamento, mas o país ainda é ameaçado por uma combinação nefasta: alta inflação e recessão.
 

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