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Discurso de Obama sobre direitos humanos será decisivo para cubanos

Em sua visita histórica a Cuba − a primeira de um presidente americano em 88 anos −, Barack Obama se reunirá nesta segunda-feira (21) com o presidente cubano, Raúl Castro, para abordar, entre outros temas, o de direitos humanos. Obama chegou neste domingo à capital Havana, um dos últimos bastiões do socialismo, para uma visita de três dias, acompanhado por sua esposa, Michelle e as duas filhas do casal.

O presidente Barack Obama visita a cidade velha em Havana com sua família neste domingo.
O presidente Barack Obama visita a cidade velha em Havana com sua família neste domingo. REUTERS/Carlos Barria
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Em sua primeira atividade na ilha, Obama reuniu-se com diplomatas na embaixada americana e depois visitou Havana Velha, bairro histórico da capital. Nesta segunda-feira pela manhã, pelo horário local, Obama se encontra com Raúl Castro. Juntos, eles vão depositar uma coroa de flores no memorial de José Martí (1853-1895), fundador do Partido Revolucionário Cubano, considerado um herói da luta pela independência da ilha. A foto dos dois líderes no local já é considerada um marco profundamente simbólico. Na sequência, Obama e Castro se reúnem por duas horas e devem fazer uma declaração conjunta. O protocolo cubano evitou uma entrevista coletiva. Mas é certo que o tema de direitos humanos está na agenda.

A visita de Obama deve virar a página de mais de cinco décadas de forte antagonismo entre Cuba e os Estados Unidos. Ao desembarcar na ilha, Obama tuitou uma conhecida saudação local: "Qué bolá, Cuba!". A expressão significa "Como vai, Cuba?". E continuou: "Acabo de aterrisar, quero encontrar e escutar em primeira mão o povo cubano".

Obama pretende selar o restabelecimento das relações bilaterais, anunciado em 2015, e reforçar a imagem de um Estados Unidos diferente à de um país que por décadas promoveu intervenções e considerou a América Latina seu quintal. Antes de deixar a presidência, no início de 2017, Obama quer assegurar-se de que seus avanços em Cuba não serão revertidos, seja quem for seu sucessor na Casa Branca no próximo ano.

Depois do encontro de trabalho com Castro, Obama participará de uma mesa redonda com empresários dos dois países. O dia termina com um jantar de gala no Palácio da Revolução.  

Dissidentes esperam sinal claro

Ao opinar sobre a visita, um dos mais famosos dissidentes cubanos, Guillermo Fariñas, ex-prisioneiro político do regime e autor de uma longa greve de fome em 2006, disse: "Obama, como presidente e líder mundial, deve ter como objetivo demonstrar solidariedade com o povo de Cuba e não com o governo". Na avaliação de Fariñas, o sucesso da visita depende dessa sinalização. "Se o que o povo cubano e mundo virem cumplicidade do presidente americano com o regime totalitário dos irmãos Castro, realmente será frustrante", declarou o dissidente à RFI. Amanhã, Obama vai se encontrar com dissidentes cubanos.

No entanto, esse encontro pode ser comprometido pela detenção, pouco antes de sua chegada, de dezenas de opositores do grupo Damas de Branco. Como costumam fazer todos os domingos, manifestantes se concentraram perto de uma igreja para protestar por direitos humanos. Danilo Maldonado e Berta Soler, líder das Damas de Branco, estavam entre os detidos que foram encurralados e arrastados em direção a veículos por agentes de segurança e grupos a favor do governo.

Maldonado, Soler e seu marido, o ex-preso político Angel Moya, foram liberados às 20h locais, mas outros dissidentes continuavam detidos. "Obama está sendo cúmplice de um governo, de uma ditadura", disse Maldonado à AFP uma hora antes de ser detido.

Chuva desanima cubanos a acompanhar visita no bairro histórico

Ontem, ao final do passeio a Havana Velha, Obama encontrou-se com o cardeal Jaime Ortega, na catedral. A chuva pareceu espantar os curiosos. Havia mais estrangeiros do que cubanos seguindo os passos do americano. Agentes policiais e civis chegaram ao Castillo de la Real Fortaleza e à Plaza de Armas, onde Obama foi recebido pelo historiador da cidade, Eusebio Leal.

Entre os poucos cubanos que se aproximaram para ver Obama passar estava Ariel Hernández, engenheiro civil de 42 anos. "Acho que me deixaram ficar aqui porque, com a minha mochila, me confundiram com um turista", disse à AFP.

"Obama chegou, que bom, esse é um momento histórico. O clima pode estar contra e prejudicar seu passeio, mas nós cubanos somos a favor dessa visita porque dará um impulso a essa nova relação", comentou Daynei Abreu, de 29 anos, dona de alguns negócios situados próximo à embaixada.

Abertura apesar do embargo

Embora não possa anular o embargo econômico contra Cuba, vigente desde 1962, por se tratar de uma atribuição do Congresso com maioria da oposição republicana, Obama sinalizou positivamente nesse sentido e, com seus poderes presidenciais, decretou uma série de medidas de alívio às restrições.

A suspensão do embargo, pedida todo ano pelas Nações Unidas, é também a principal demanda de Cuba, que atribui à medida boa parte de seus dramas econômicos. Segundo Obama, décadas com essa mesma política em relação à ilha demonstraram pouca eficácia. Além disso, as empresas americanas estão ávidas por fazer negócios no país. No sábado, a rede de hotelaria Starwood (Meridien, W, Westin e Sheraton) anunciou um acordo com as autoridades cubanas para abrir dois hotéis de luxo em Havana antes do final do ano. O portal Airbnb também obteve autorização dos Estados Unidos para ampliar suas operações Cuba, segundo anunciou neste domingo.

Sem mudar o essencial, Obama não verá Fidel Castro

Pelo lado cubano, garante-se que não haverá debate com Obama sobre a situação interna. "Ninguém poderia pretender que, para avançar em direção da normalização de relações, Cuba tenha que renunciar a qualquer um de princípios", enfatizou o chanceler Bruno Rodríguez, lembrando que "ainda há grandes diferenças" entre os dois governos.

Segundo a Casa Branca, está descartado um encontro de Obama com o líder Fidel Castro, afastado do poder desde 2006 por motivos de saúde.

Obama visita Cuba a um mês do Congresso do Partido Comunista, único em Cuba. Raúl e Fidel Castro receberam, na sexta-feira e no sábado, respectivamente, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, em um sinal de solidariedade com um governo muito questionado por Washington.

Embora no plano político as diferenças entre os dois governos sejam inquestionáveis, Obama e Raúl Castro encontraram o cenário ideal para mostrar as coincidências entre os dois países: a partida de beisebol entre a seleção de Cuba e o Tampa Bay das Grandes Ligas, que será assistida pelos dois na terça-feira no Estádio Latino-americano.

Obama também vai assistir a um jogo de baseball, esporte que é sucesso nos dois países. Veja a reportagem legendada do canal France 24 (clique no ícone de legendas na parte inferior do vídeo) sobre os preparativos desse evento e saber o que pensam alguns cubanos sobre esta visita:

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