Referendo na Bolívia decide se Morales pode ou não se reeleger
No próximo domingo, os bolivianos vão decidir num referendo histórico se o presidente Evo Morales pode concorrer a um novo mandato e governar até 2025.
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Ouvir - 04:29
Se o "sim" ganhar, Evo Morales estará habilitado a concorrer ao quarto mandato consecutivo, podendo ficar 20 anos no poder. Se, pelo contrário, o "não" vencer, Morales terá de se contentar com o atual terceiro mandato até 2020, totalizando 15 anos de governo.
No mês passado, Evo Morales completou a sua primeira década no poder, tornando-se o presidente que mais tempo governou a Bolívia. Também é o presidente em exercício que há mais tempo está no cargo em toda a América Latina.
Mas existem obstáculos para o plano de Evo Morales neste domingo. A disputa está aberta numa Bolívia dividida entre aqueles que são contra ou a favor do presidente.
Morales mudou a Constituição para se reeleger
Na Bolívia, a reeleição não existia até 2009, quando a Constituição foi modificada pelo próprio Evo Morales. A Carta Magna passou a permitir dois períodos consecutivos. Um Tribunal Constitucional, que na prática respondia a Evo Morales, entendeu que o primeiro mandato não contava porque as regras tinham mudado quando Evo Morales já estava na presidência. Com essa particular interpretação, o presidente pôde concorrer e ganhar o seu terceiro mandato.
Mas para ele isso não é suficiente. Evo Morales quer agora alterar novamente as regras para se candidatar a um quarto mandato em 2019 e ficar até 2025.
Com a certeza de ganhar, o plano vinha de vento em popa, mas, na reta final, o vento começou a mudar. Agora, o resultado é incerto. Tudo pode acontecer.
As pesquisas de opinião
A última sondagem, difundida no domingo passado, apontava que 47% dos bolivianos rejeitam o projeto de um Evo Morales eterno. Enquanto que 28% votariam a favor de um quarto mandato. O número de indecisos é alto: 25%. No começo do mês, essa mesma pesquisa indicava que 38% estavam contra uma alteração constitucional enquanto 35% apoiavam. Ou seja: em questão de dias, a balança se inclinou pelo “não”.
Até a semana passada, outra sondagem ainda mostrava um virtual empate em torno de 40% tanto para o SIM quanto para o NÃO. Os indecisos somavam 18%, e são esses os que vão definir a votação.
De qualquer forma, a vitória, se acontecer, será apertada. E essa é a grande novidade: pela primeira vez, desde que ganhou as eleições em 2005, Evo Morales pode perder.
O ônus dos escândalos
A vitória do liberal Mauricio Macri na Argentina e da oposição no Parlamento venezuelano tiveram algum efeito no eleitor boliviano. A queda nos preços das matérias primas também afetaram a economia boliviana, altamente dependente dessas exportações. Mas o golpe maior contra Morales foi mais recente: aconteceu ao longo das últimas duas semanas.
Um jornalista denunciou que Evo Morales teve um romance com a jovem Gabriela Zapata, com quem o presidente teve um filho. Pior, Gabriela Zapata trabalha para uma empresa chinesa que recebeu milionárias concessões do Estado.
O escândalo é quádruplo: Evo Morales escondeu uma relação que teve a partir de 2005. Mais do que isso, escondeu ter tido um filho dois anos depois e que, como ele admitiu, a criança faleceu pouco depois de nascida. Em 2005, a namorada tinha apenas 18 anos. Evo Morales já tinha 46. Ele diz que, depois da morte do bebê, questionada por alguns, ele deixou de ter contato com a namorada. Uma foto recente, porém, revela os dois juntos no Carnaval do ano passado .
Por último, o suposto tráfico de influências: a jovem, hoje com 28 anos, começou a trabalhar como gerente comercial para uma empresa chinesa que obteve oito contratos por 566 milhões de dólares com o Estado em obras de infraestrutura, seis desses contratos, sem licitação.
As consequências do resultado de domingo
Sobre o escândalo, o presidente nega ter favorecido a empresa chinesa onde trabalha a sua ex-namorada, e já pediu uma investigação do Congresso para comprovar, segundo ele, que tudo faz parte de um complô da oposição com os Estados Unidos para ele perder as eleições.
O Congresso, porém, é controlado pelo MAS (Movimento para o Socialismo), partido do governo. É como se Evo Morales fosse investigado por Evo Morales.
Uma derrota dirá que o presidente não conta mais com o apoio popular e o desgaste político pode ser veloz. Acuado, Morales pode radicalizar suas posições, assim como o fez o seu aliado, Nicolás Maduro, presidente da Venezuela.
Se, por outro lado, sair vitorioso do referendo, Evo Morales pode radicalizar, mas por excesso de poder.
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