Venezuela aumenta preço da gasolina após 20 anos sem reajuste
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou nesta quarta-feira (17) um expressivo aumento nos preços da gasolina e uma desvalorização da moeda nacional, o bolívar, para enfrentar a profunda crise econômica do país.
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Elianah Jorge, correspondente em Caracas
Pela primeira vez em 20 anos, os preços dos combustíveis foram reajustados na Venezuela. O litro da gasolina aditivada passa de US$ 0,01 para US$ 0,60, o equivalente a seis bolívares por litro, conforme anúncio feito por Maduro em rede nacional de rádio e televisão. Embora sofra um acréscimo de 6.000%, o combustível venezuelano continua sendo o mais barato do mundo.
Os novos preços entram em vigor nesta sexta-feira (19). Hoje, são esperadas longas filas nos postos de gasolina. Será a última vez que os venezuelanos irão pagar pelo tanque cheio o mesmo valor que pagarão amanhã por um litro de combustível.
Maduro adiou essa decisão várias vezes porque temia uma nova convulsão social como a ocorrida em 1989 e que ficou conhecida como "El Caracazo". Na época, um pacote econômico elevando os preços da gasolina e de alimentos provocou uma onda de saques e manifestações populares duramente reprimidas pelo Exército. Os distúrbios deixaram 71 mortos.
Desvalorização da moeda encarece alimentos e remédios
Além do aumento da gasolina, Maduro também anunciou reformas no complexo sistema cambial venezuelano que terá, a partir de sexta-feira, apenas duas bandas. Atualmente, são três. Com isso, o dólar para importar alimentos e remédios passou de 6,3 bolívares para 10 bolívares, o que implica uma desvalorização de 37% da moeda nacional. A outra banda do sistema cambial será "flutuante" a partir dos 200 bolívares por dólar.
O líder venezuelano também anunciou o 11° aumento do salário mínimo desde que chegou ao poder. A partir de 1° de março, o mínimo subirá 20%, passando de 9.600 bolívares para 11.520 bolívares.
Para economistas, Venezuela caminha para hiperinflação
Economistas receberam as medidas do governo com pessimismo, estimando que a Venezuela caminha para um quadro de hiperinflação. O país tem a maior inflação do mundo − 141%, segundo o índice anualizado de setembro de 2015. A economia local registrou uma contração de 7% no ano passado e o déficit público atingiu 20%. Analistas consideram as medidas anunciadas ontem um paliativo que terá o efeito de uma pequena injeção na parte fiscal, mas nada que ajuste a precária saúde financeira do país.
Recentemente, Maduro enviou ao parlamento um Decreto de Emergência Econômica que se transformou em motivo de controvérsia com a maioria parlamentar de oposição. A Assembleia Nacional reprovou o texto, que acabou sendo aprovado unilateralmente pelo Supremo Tribunal de Justiça. Tendo em vista a delicada situação na qual a Venezuela está imersa, o aumento da gasolina pode ser o estopim para um caos social.
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